Dez inesquecíveis poemas de Mia Couto
Mia Couto é conhecido internacionalmente por suas extraordinárias histórias. Seus contos e seus romances são lidos em todos os continentes, em línguas, culturas e credos diversificados.
Valendo-se de uma linguagem marcadamente poética, essas histórias encantaram o mundo.
Todas as semanas o BigSlam irá publicar um dos 10 inesquecíveis poemas do escritor e poeta moçambicano – Mia Couto, retirado dos seus quatro livros de poesias: “Raiz de orvalho e outros poemas” (1999), “Idades, cidades, divindades” (2007), “Tradutor de Chuvas” (2011) e “Vagas e Lumes”(2014).
1 – O Amor, Meu Amor
Nosso amor é impuro
como impura é a luz e a água
e tudo quanto nasce
e vive além do tempo.
Minhas pernas são água,
as tuas são luz
e dão a volta ao universo
quando se enlaçam
até se tornarem deserto e escuro.
E eu sofro de te abraçar
depois de te abraçar para não sofrer.
E toco-te
para deixares de ter corpo
e o meu corpo nasce
quando se extingue no teu.
E respiro em ti
para me sufocar
e espreito em tua claridade
para me cegar,
meu Sol vertido em Lua,
minha noite alvorecida.
Tu me bebes
e eu me converto na tua sede.
Meus lábios mordem,
meus dentes beijam,
minha pele te veste
e ficas ainda mais despida.
Pudesse eu ser tu
E em tua saudade ser a minha própria espera.
Mas eu deito-me em teu leito
Quando apenas queria dormir em ti.
E sonho-te
Quando ansiava ser um sonho teu.
E levito, voo de semente,
para em mim mesmo te plantar
menos que flor: simples perfume,
lembrança de pétala sem chão onde tombar.
Teus olhos inundando os meus
e a minha vida, já sem leito,
vai galgando margens
até tudo ser mar.
Esse mar que só há depois do mar.
No livro “Idades cidades divindades”
6 Comentários
António Mendes
Parabéns ao Bigslamp pela excelente iniciativa.
Paulo JF Craveiro
Excelente de excelência, por exselso senhor!
Grande e admirável, Samuel Carvalho!
Victor Agostinho
Amigo Carlos Santos, estou inteiramente de acordo, com as suas palavras, que traduzem a verdade nua crua. Infelizmente é o Mundo que temos actualmente. Um abraço.
Manuel Martins Terra
Mia Couto, é inegvelmente um escritor e poeta que escreve como ninguém no idioma de Camões, e que vê as suas obras vendidas pelos quatro cantos do mundo de que lhe provém o reconhecimento internacional. Só que podia pela sua exposição mediática no campo da cultura, chamar a atenção para os problemas que atormentam o povo do país que o viu nascer, essenciamente as imagens que nos vêm chegando da provincia de Cabo Delgado e que chocam o mundo. Moçambique, precisa de toda a colaboração, sendo o cultura e o desporto, essenciais para esse grito de revolta.
José Luciano André Assunção
Parabéns ao amigo e Senhor Carlos Santos. As verdades são sempre agradáveis de ler ou ouvir. Ainda mais quando as mesmas traduzem a realidade. Um abraço amigo.
Carlos Santos
Mia Couto deveria preocupar-se e ser mais proativo no seu país, o pais que escolheu como pátria, em particular mas não só, contra o “racismo tribal”, contra o racismo para com os brancos, contra a corrupção endémica, contra a pobreza, contra o terrorismo..
Mia Couto deveria fazer baixo assinados no seu país, Moçambique, sobre estes assuntos e não em Portugal, país que o teu acolhido com muito carinho e no qual vende as suas obras, o que não sucede no seu pobre país.
Julgo que Mia Couto deveria ter mais respeito para com Portugal e não ser um oportunista. Sou de opinião que se em Moçambique proporcionasse um baixo assinado (juntamente com Água Lusa que atualmente também vive em Maputo) sobre qualquer dos assuntos acima elencados estaria em maus lençóis.
Carlos Santos