Onde estavas tu no 25 de Abril de 1974?
Fonte: Blog “Os bastidores da vida”
Hoje é o dia de Portugal comemorar o 25 de Abril de 1974. Há 46 anos a liberdade de expressão, quando havia, resumia-se às quatro paredes da nossa casa e baixinho para o vizinho não ouvir. Mas embora o estado novo controlasse as bocas e atos do povo (ou tentasse controlar), na casa de cada um, era só dele a decisão da cor das paredes e do estilo dos móveis. Uns expunham orgulhosamente o retrato de Salazar, outros escolhiam a melhor parede para a imagem de Che Guevara – e ninguém precisava de saber.
Faz hoje 46 anos que, as ainda raras casas com televisão, acompanhavam os acontecimentos a preto e branco, nas suas salas decoradas em cores fortes e mobiliário multi-funções. Quem não se atrevia a sair à rua e não era suficientemente abonado para o luxo da TV, metia o rádio no máximo e ouvia os cantares da revolução serem interrompidos pelas novidades de última hora.
Assim se fizeram os dias de Abril, entre sussurros, calças de boca de sino e colarinhos de bico. Nestes bastidores se discutiram ações, se motivaram intervenções e se brindou, com esperança, a um futuro melhor.
Alguns ainda mantêm detalhes desta época vibrante, outros lembrar-se-ão de uma infância e adolescência energicamente vivida na presença de padrões geométricos e cores intensas. E muitos de nós vão cultivando o regresso a esta década de Simon & Garfunkel, Gilbert O’Sullivan e Bee Gees com pequenos detalhes comprados nas lojas Vintage.
Para terminar responde:
Onde estavas tu no 25 de Abril de 1974? (Deixa o teu comentário aqui no BigSlam)
20 Comentários
Olga bessa
Estava a trabalhar como Prof. do ensino primário em Santa Marinha do Zezere Baião
Tinha terminado o Magistério Primário em julho e fui colocada em Janeiro.
Foi um alvoroço nesse dia de manhã.
Helicópteros do quartel de Vila Real a passarem para o Porto e tudo o que era rádio ligado para saber o que fazer.
Ainda sinto esse dia com arrepios e emoção.
Viva o 25 de Abril
Olga bessa
Carlos Almeida
António Enes (Angoche) a cumprir serviço militar como miliciano (companhia de morteiros médios)
Joaquim Rocha
Estava em Luanda a cumprir serviço militar na Força Aérea (BA-09).
Virgílio Nóbrega
Estava em Nacala. Trabalhava na central eléctrica dos SAEM. Após ter cumprido serviço militar em Moçimboa da Praia e Mutarara
Maria Marques
Estava em Lourenço Marques sentada numa secretaria na Companhia de Seguros Náuticos. De manha sem notícias mas estranhando o “Noticias” não ter saído. (Saiu à tarde censurado). Á hora de almoço soube do golpe pela BBC
António Amorim Lopes
ESTAVA EM MOÇAMBIQUE, MAIS PRECISAMENTE EM LOURENÇO MARQUES, ONDE NASCERAM OS MEUS FILHOS. ERA MAQUINISTA DOS CAMINHOS DE FERRO, TENDO PRESTADO SERVIÇO EM LOURENÇO MARQUES, MALVÉRNIA, VILA PINTO TEIXEIRA (MABALANE) E MAGUDE. TRABALHEI AINDA NA CONSTRUÇÃO DA VIA FÉRREA DA SUAZILÂNDIA , NA ALTURA COLÓNIA INGLESA, CUJA EXPLORAÇÃO ERA DA RESPONSABILIDADE DO CAMINHO DE FERRO DE MOÇAMBIQUE. LIDEI COM MUITA GENTE DESDE OS AFRICANOS, CHINESES, INDIANOS, MUÇULMANOS DE DIVERSAS ORIGENS E POSSO GARANTIR QUE NÃO TENHO RAZÃO DE QUEIXA DE QUALQUER DESSA BOA GENTE COM QUE LIDEI. INFELIZMENTE, COM BASTANTE MÁGOA FUI OBRIGADO A VIR EMBORA COM A FAMÍLIA REPENTINAMENTE EM AVIÃO, COM OS PERTENCES REDUZIDOS POSSÍVEIS NA VIAGEM AÉREA.
CONTINUO A TER AQUELA FEITICEIRA TERRA E AS BOAS GENTES COM QUEM LIDEI NO CORAÇÃO. ´´´´
João Lopes de Matos
Estava de serviço no Batalhão de Transmissões n°2 em Nampula. Talvez tenha sido das primeiras pessoas em Moçambique a ter conhecimento do que se estava a passar…
Fernando Silva e Sousa
No dia 25 de Abril de 1974 devia ter-se realizado um jogo de Hóquei em que discutia qual a equipa Europeia que se sagraria como Campeã da Europa. Na altura, a nossa equipa era Campeã de Portugal. Claro que, durante alguns dias, os jogadores de todas as equipas ficaram confinados nos seus Hoteis. Mas o torneio prosseguiu poucos dias depois e nós sagrámo-nos Vice Campeões. Eu assisti aos jogos da nossa selecção os quais se realizaram nos Salesianos. Foi o fim de uma era.
António Almeida
Enganou muita gente eu incluído.Não festejo esta data,porque mudou a minha vida e de toda a minha família.Pelo contrário visto-me de preto neste dia em sinal de luto. EU TINHA LIBERDADE SÓ NÃO FALAVA DE POLITICA.
Alberto Lage
Estava na Beira. Estava com um grupo de amigos a ouvir musica junto de um carro, quando ouvimos no noticiário das 21 h., em frente ao Cinema S. Jorge.
César Sobral
Estava em Lisboa. Mas sou moçambicano de gema. Lourenço Marques 1944. Filho, neto e bisneto. O meu bisavô materno já por lá andava em 1891 na Beira. Na Marinha de Guerra. Fragata Tâmega.
Foi só tomar banho e pôr-me a caminho da baixa onde tive o privilégio de ver alguns PIDES serem presos. Assisti no Largo do Carmo à detenção de Marcelo Caetano debaixo das vaias e assobios do povo. Só mais tarde vim a saber que afinal gostavam todos dele e do outro . As ironias do povo !
Nesse dia abri uma garrafa de Espumante para celebrar a mais linda manhã de Abril da minha vida.
Mas apesar de ser moçambicano não me esqueço de quando tinha oito, nove, dez anos de idade e ir brincar com o filho do Chefe da Polícia de Inhambane para o pátio da prisão, paredes meias com o quintal da casa, e ouvir os gritos dos presos a levarem palmatoadas ou chibatadas como se fossem crianças. Alguns com a idade que eu tenho hoje. De vê-los a sair da cadeia em grupos para irem capinar e arranjar estradas com correias de ferro nos pés.
Se há quem já esqueceu, eu nunca o vou fazer.
Também não vou esquecer os grandes defensores do 7 de Setembro no RCM. Só se lembraram do “grito do Ipiranga” depois das portas fechadas ! Que pena terem acordado tão tarde !
Desculpem mas é o que eu penso de TUDO aquilo !
José António Oliveira
É verdade tudo o que diz, mas também pergunto se eles passados estes anos todos, se estão melhor, infelizmente não, quantos morreram pela opressão pós 25 de abril de 74. Não olhemos só para o nosso umbigo.
Maria Irene Paiva
E… pensa muito bem César Sobral!! 👏👏
Maria Eduarda Rebelo Nunes
Estava em Lourenço Marques, minha terra Natal. Pertenço a uma família cujos avós “imigraram” para Moçambique na primeira década do século XX. Eu represento à terceira geração lá nascida, e o meu filho à quarta… e já havia rebentos da quinta geração.
Nesse mesmo dia, 25 de Abril, o meu marido e eu, decidimos que teríamos de emalar os tarecos e correr mundo… Assentar em Portugal, estava fora de questão, pois era previsível que seria inundado por uma grande vaga de portugueses idos não só de Moçambique, como de Angola.
Só deixámos Moçambique a 8 de Setembro desse mesmo ano de 1974 , e não mais sedo,porque havia uma certa coordenação a fazer com o elevado número de membros da nossa família.
Hoje vivemos no Canadá, há bem mais de 40 anos, e temos a dupla nacionalidade , portuguesa e canadiana. ( a nacionalidade moçambicana é e será sempre, a do meu coração).
Chyttollo Boy
É melhor nem cobiçar ser moçambicano. Quem me dera ser canadiano.
Victor Santos
Samuel, tiveste azar ou sorte de ires parar à Ilha da Metarica, pois eu era o substituto do Alferes Carlos Beato, mas consegui ficar em Marrupa. Um abraço.
Victor Santos
Estava a cumprir o serviço militar, no Niassa, em Marrupa precisamente. Recebemos ao final da tarde uma mensagem encriptada, que foi divulgada pelos Oficiais e Sargentos. Não demos importância ao sucedido, pois estávamos bem longe do acontecimento. Não houve festejos e esta reacção mantêm-se até ao dia de Hoje (25 de Abril de 2020), NÃO FESTEJO!
Helena Barreira
Tinha 15 anos. Estava no Liceu Salazar, no 6.º ano, numa aula de Português.
José A. Martins
Era militar em estava em LM quando tomei conhecimento do que se passou.
E pensei cá para mim: Começou a bagunça. Isto é o princípio do fim.Seja lá o que for que os “golpistas” pretendam o “império” vai à vida. Nada será como dantes e a aventura vai sair muito cara aos portugueses de todos os credos e raças. Uns vão-se governar e outros a ficar na vil miséria e inenarrável sofrimento. Não me enganei, pois não?
Nuno João Cabral Martins
Estava em Moçambique(LM).E vi a merd—— que aconteceu.Começando por um canalha um tal de Samo———