Português brilha no basquetebol universitário americano e sonha com a NBA
Neemias Barbosa tem 19 anos e é poste nos Utah State (equipa universitária americana). No último jogo fez 24 pontos e ajudou a equipa a vencer. Miguel Minhava, ex-jogador e atual comentador, bem como o treinador que o promoveu à equipa do Barreirense, António Paulo, e Paulo Silvestre acreditam que pode ser o primeiro português a chegar ao maior e mais espetacular campeonato de basquetebol.
Neemias Esdras Barbosa Queta, 19 anos, natural do Barreiro e 2,11 metros de altura. Este pode muito bem ser o perfil do primeiro português a jogar na NBA. Para já, Neemias está a brilhar ao serviço dos Utah State, equipa do campeonato universitário de basquetebol americano.
No último jogo, o português apontou 24 pontos, cinco desarmes de lançamentos e nove ressaltos, além de ajudar a equipa a vencer a universidade Saint Mary’s, por 80-63. Números que impressionam, segundo Miguel Minhava. “Tenho visto parte dos jogos e as estatísticas são de facto impressionantes, tendo em conta que chegou agora. Parece que quase nem precisou de tempo para se adaptar, o que é excelente, já que ele vai para uma realidade completamente diferente. É muito bom que ele comece já num patamar tão elevado. Deixa grandes expectativas e até os americanos estão empolgados porque os números já impressionam“, referiu ao DN o ex-basquetebolista e atual comentador da SportTV para a NBA.
Já o treinador António Paulo, que o chamou à equipa principal do Barreirense com 18 anos, tem acompanhado à distância os primeiros tempos na equipa da Utah State e está orgulhoso da evolução: “Tem registado uma evolução muito interessante e espero eu que consiga colher as oportunidades de vida, que lhe permitam não só jogar basquetebol mas ter uma vida melhor do que a que tinha. Tenho alguma expectativa de o ver aparecer num draft, daí até poder aspirar a entrar na NBA logo se verá, mas poder ter essa expectativa já é um passo muito grande.”
Também Paulo Silvestre, antigo responsável do basquetebol da equipa do Barreiro, onde Neemias começou, considera que ele “reúne todas as condições para chegar ao draft,desde que consiga conciliar o potencial físico que ele tem com o potencial basquetebolístico”.
Selecionado pelos Cavaliers e pelos Knicks
Com nome bíblico, Neemias ganhou uma bolsa de estudo na universidade americana, com a ajuda da Next Level Sports Portugal, empresa que faz a mediação com o desporto universitário americano. Em setembro mudou-se de malas e bagagens para o deserto de Utah com uma bolsa de estudos completa e divide-se agora entre as aulas do curso, os treinos e os jogos.
O basquetebolista português está a dar nas vistas e sucedem-se as notícias sobre possíveis escolhas no draft (evento anual no qual as trinta equipas da NBA podem recrutar jogadores). Os Cleveland Cavaliers e os New York Knicks, por exemplo, deviam selecionar Neemias como primeira escolha a avaliar pelos twitter dos fãs. O que é surpreendente, segundo Miguel Minhava, tendo em conta que os americanos têm algumas reservas com os jogadores que vêm de fora. “O facto de olharem para o Neemias já revela algum respeito pelo que ele é capaz de fazer. Através do Twitter dá para perceber que estão de facto impressionados com o que ele está a mostrar. Se calhar é prematuro, tendo em conta que só fez meia dúzia de jogos, mas que ele está muito bem ninguém tem dúvidas.”
As exibições do basquetebolista natural do Barreiro no campeonato universitário fazem sonhar com a NBA, o que a acontecer será histórico, dado que será o primeiro português a consegui-lo, depois de Betinho ter ido ao draft em 2007. “Nós, portugueses, estamos muito ávidos de que alguém lá chegue. O João “Betinho” Gomes esteve perto e, na minha opinião, não foi para a NBA por puro azar. Jogava no último da liga portuguesa e isso pesou muito contra ele. Se ele tem ido para uma universidade ou jogasse numa liga mais competitiva não tenho dúvida de que chegava lá. O Neemias vai ter essa vantagem. Chegou lá mais cedo, é um jogador com características raras e vai-nos deixar com essa expectativa de poder chegar à NBA, desde que tenha a cabeça no sítio e não se deixe deslumbrar e achar que vai ser fácil”, aconselha o ex-jogador do Barreirense.
Atua como poste e é um jogador que joga muito bem debaixo do cesto, segundo Miguel Minhava. “Tem uma projeção de braços muito grande, é muito grande, forte defensivamente e sabe jogar com a bola nas mãos. Há jogadores altos que não são muito bons a jogar com a bola nas mãos, mas ele joga bem e nas áreas perto do cesto sabe o que fazer. Afunda facilmente mesmo com adversários por perto. Obviamente ainda tem muito por onde evoluir, técnica e fisicamente, e precisa de ganhar mais uns quilinhos… Quando ganhar 6/7 kg de massa muscular vai subir mais um degrauzinho. Faltam-lhe algumas coisas, mas o essencial ele tem e tem tudo para chegar muito longe “, garante o ex-basquetebolista do Barreirense, que conhece bem Neemias: “Fui acompanhando o percurso dele no Barreirense, um miúdo com características únicas para a nossa realidade, que foi dando nas vistas por isso mesmo. Um miúdo que chamava a atenção por não termos cá outro parecido. Veio de um contexto não muito favorável e conseguiu no Barreiro, uma terra do básquete, fazer o seu caminho.”
Do minibásquete do Barreiro para o Utah
Considerado o mais promissor basquetebolista da sua geração, Neemias Esdras Barbosa Queta começou a jogar no Barreirense com dez anos “por diversão”. E só aos 17 começou a levar o basquetebol “mais a sério”, como confessou numa entrevista. Paulo Silvestre, ex-diretor do basquetebol do Barreirense, lembra-se bem desses tempos: “Uma criança que chegou pelo próprio pé a querer experimentar o basquetebol, na altura era o minibásquete. Um miúdo especial, jovem extremamente humilde, que gosta de aprender e com grande dedicação ao basquetebol.”
De tal maneira que não deixou de ir aos treinos, mesmo se ia a pé para os treinos. “O Neemias muitas vezes ia a pé para o treino e ainda era uma distância considerável de casa dele até ao pavilhão. A família tinha algumas dificuldades, mas a perseverança dele nunca o deixou desistir. Isso mostra a vontade de superar as pedras que a vida lhe ia colocando no caminho e fez-se homem assim, à custa dele próprio. E é preciso dizer que a família dele, apesar de pessoas humildes, mas muito trabalhadoras, sempre foi muito unida e preocupada com ele, com a educação dele”, contou ao DN Paulo Silvestre.
Aos 18, e depois de uma ida à seleção sub-18, mudou-se para o Benfica, clube onde jogou até aparecer a oportunidade de se mudar para os EUA, e já depois de dar nas vistas no Europeu sub-20 (divisão B) em 2018, ao ser considerado o melhor jogador na sua posição e o mais promissor basquetebolista da sua geração.
Tinha propostas de Portugal e de Espanha, mas, com o sonho da NBA em mente, o jovem basquetebolista português aceitou a proposta da Universidade de Utah State (NCAA1), equipa que já tem 20 presenças na fase final do Torneio de Basquetebol Universitário norte-americano (conhecido por March Madness). “É um jovem ambicioso e optou pelo desporto universitário para cumprir o sonho de jogar na NBA. Acredito que o fez porque assim pode ter um futuro, mesmo que o basquete não dê em nada”, acredita António Paulo, o treinador que o chamou à equipa principal do Barreirense com 18 anos: “Treinei-o no Barreirense na época 2016-17, dava para perceber que reunia característica e talento para vir a ser um jovem promissor. Na altura tinha algumas debilidades físicas, ao nível da força e da velocidade, mas percebia-se que o conhecimento que tinha do jogo era relevante e já fazia prever que ia dar jogador no futuro e que, sendo bem encaminhado, iria ser relevante no basquetebol português.”
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Fonte: Diário de Notícias
Um Comentário
Carlos pereira
Os americanos já recebem os jogadores estrangeiros de mãos abertas. Quase todas as equipas têm estrangeiros. Mas alguns. Ficam pelo caminho. Pq não evoluem. Não é nada fácil entrar na NBA e ficar. Tenho visto jogar não sabia q era português. Parabéns