A COR DA PELE!
Nos anos 80 o José Maia, um colega meu da área técnica da Rádio Moçambique dizia-me que “a cor da minha pele faz muita gente pensar que eu não sou moçambicano”. José Maia era (infelizmente faleceu este ano) um moçambicano de raça branca. Um dia destes foi designado para se deslocar em missão de serviço à Hungria, na companhia do Director Técnico, o Eng. Rufino de Matos, por sinal também moçambicano de raça branca. Chegaram ao Aeroporto Internacional de Budapeste e estanharam que ninguém da rádio húngara estivesse lá para os receber. Conseguiram contactar telefonicamente informando que já tinham chegado. Um dos responsáveis da rádio respondeu dizendo que “nós estivemos no aeroporto, mas não vimos desembarcar nenhum moçambicano”. Pediram desculpas pelo ocorrido. Quando se conheceram pessoalmente veio a admiração: “nós estávamos à espera de dois negros e não de dois brancos”.
Um outro caso aconteceu com o saudoso Leite de Vasconcelos. Ele ia integrado na comitiva presidencial do Presidente Samora Machel. Quando chegou ao hotel para fazer o “check-in” o recepcionista perguntou a sua nacionalidade. Leite de Vasconcelos respondeu: “moçambicano”. Na fila estava um outro hóspede negro. O recepcionista perguntou-lhe também a sua nacionalidade, ao que ele respondeu: “sueco”. É evidente que estas duas situações confundiram o pobre do recepcionista. Um moçambicano branco e um sueco negro.
Um outro episódio foi contado na sessão de encerramento do recente Festival Internacional de Publicidade de Maputo, pelo jornalista e escritor Raul Calane da Silva, que a semana passada foi agraciado pela AMEP (Associação Moçambicana de Publicidade e Marketing) com o “Prémio Carreira”.
Ele costumava ir com regularidade a uma escola de Boane, para proferir palestras sobre literatura portuguesa aos alunos do ensino secundário. Quando lá foi a primeira vez, tudo correu normalmente. Anos depois voltou à mesma escola para uma nova palestra. Antes de iniciar a sua intervenção perguntaram se ele era estrangeiro. Porquê ? Porque Calane não é negro e para os estudantes e professores dessa escola de Boane “quem não é negro não é moçambicano”.
Na cerimónia da semana passada Calane da Silva referiu-se às questões de multiracialidade em especial no campo publicitário e mostrou-se desgastado pelo facto dos anúncios não demonstrarem que de facto somos um país multiracial.
Alguns dos que estiveram no jantar de encerramento do Festival de Publicidade disseram-me que, na maior parte dos casos às agências é imposto que “a cara da publicidade seja dum cidadão ou duma cidadã de raça negra”. Quero acreditar, até prova em contrário, que se trata duma especulação.
Dizia-me o Calane da Silva, já depois de terminado o jantar, “a cor da tua pele dita a tua nacionalidade, porque se não és negro, não és moçambicano”.
Multiracialidade só no papel. Na Constituição da República. Na prática tudo é bem diferente.
João de Sousa – 05.06.2013
2 Comentários
jose pinto camargo
Infelizmente “minorias” não são só os cidadãos de pele negra na europa?
os cidadãos de pele branca em africa tb são descriminados como minoria ou “não existentes”
Wanda Serra
Wanda Serra
IGNORÂNCIA!!!
Falta de informaçao a certos niveis???
Wanda