Relatos de uma viagem por terras de África (8) – “Um passeio pelos clubes da baixa de Maputo!”
28 de fevereiro de 2017 – Terça-feira (tarde)
Depois da visita ao bairro que me viu crescer, e à escola onde aprendi as primeiras letras, partimos rumo ao meu clube do coração – Clube Ferroviário Moçambique (CFM).
A sede fica na esquina da Av. 25 de Setembro (antiga Av. da Republica) com Av. Albert Luthuli (antiga Av. Luciano Cordeiro) e o clube ocupa os dois tons de verde que se vêm na foto.
À entrada da sede do Ferroviário (CFM)
Fui ver o ginásio coberto, onde no nosso tempo espreitávamos as aulas de Ballet, a fim de admirar as qualidades artísticas, e não só, das suas praticantes, sob o comando da carismática Professora Conchita.
O ginásio estava a ser utilizado pelos praticantes de boxe do Clube e se sagraram campeões da cidade de Maputo em 2016, destronando o Estrela Vermelha que tinha vencido as duas últimas edições.
Visitámos o campo de basquete, onde treinei dos Juvenis aos Seniores, dos quinze aos vinte e quatro anos, e fiquei chocado com o que vi. O passeio de acesso ao campo está completamente escavacado…
e o campo é uma miragem…
as bancadas evaporaram-se e no lugar delas cresceu uma palmeira e algumas papaieiras…
sem comentários… palavras para quê? As imagens falam por si!
Fui, a seguir, ver o campo de futebol e a piscina, mas tive que dar a volta e sair outra vez pela porta principal da sede, pois o portão de acesso ao campo de basquete pela avenida traseira, está fechado. E sabem porquê? Os “dubanengues” (mercado informal) instalaram-se nos passeios da Av. Zedequias Manganhela (antiga Av. Álvares Cabral) que separa o antigo campo de basquetebol, do campo de futebol/piscina…
Entrei no recinto que dá acesso ao campo de futebol e piscina, um espaço que me é familiar pois, em tempos, efectuei neste local alguns treinos de atletismo com o Prof. António Vilela, e de basquetebol com o técnico Mário Machado que mais tarde foi meu colega de equipa.
O campo de futebol estava a ser utilizado para treino de jovens
e na outra metade do campo, estavam a instalar um palco para um evento musical…
Nos bancos que ainda existem debaixo da bancada, algumas jovens aguardavam a hora do seu treino e manifestaram o seu interesse em posar para o BigSlam
Aproveitei para visitar as instalações do posto médico; recordo-me do Sr. Campos e do Sr. Fortes que ali exerciam funções de fisioterapeutas.
Uma foto com os actuais “massagistas” do clube
No espaço em frente ao posto médico continua a funcionar a lavandaria
Por debaixo da bancada central do campo de futebol fica a secção de atletismo
e no lado oposto, a secção de natação e respetiva piscina,
uma excelente infraestrutura desportiva recentemente remodelada, com um bar e esplanada de apoio
Encontrei um homónimo – responsável técnico do atletismo do Clube, chama-se Azarias Samuel
Parabéns ao CFM por manter em excelentes condições esta infraestrutura desportiva.
Antes de abandonar o campo sentei-me nas bancadas e por momentos recordei os grandes jogos de futebol que ali vi, o Ferroviário LM tinha sempre excelentes equipas…
No regresso à viatura do meu primo Ernesto, não podia deixar de fotografar este novo belo edifício para escritórios, na esquina oposta, junto à sede do CFM.
Com o tempo a escassear, não tivemos oportunidade de visitar o campo oficial de jogos, do basquete e hóquei do Clube.
Partimos, depois, em direcção ao Maxaquene (antigo Sporting LM), o trânsito estava a ficar congestionado na baixa… o excesso de veículos e a falta de locais para estacionar as viaturas, é um dos maiores problemas da cidade de Maputo…
Chegámos, finalmente, ao Clube Desportivo Maxaquene (CDM).
Depois de entrarmos no Clube, do lado esquerdo é o acesso às salas da Direcção, secções desportivas e balneários.
Do lado direito, fica o Bar-restaurante,
onde fomos encontrar o Nuno Narcy na companhia da Afra Ndeve (ex-jogadora do Maxaquene e da Selecção Nacional de Moçambique).
O restaurante está a ser gerido pelo Luís Filipe Varagilal, que jogou basquete no Desportivo após independência, sendo este local o ponto de encontro, a partir das dezoito horas, de antigos desportistas e amigos de longa data…
Seguimos e fomos ver as instalações deste clube; entrámos pela porta principal do pavilhão,
considerado a “Catedral do Basquetebol Moçambicano”…
A porta ao fundo, era a da entrada dos atletas, fazendo a ligação aos balneários. Um turbilhão de emoções… recordo-me de ver os pavilhões a abarrotar… algumas vezes até sentados dentro do campo. “Saturday fever” – A coca-cola que se bebia no bar, no intervalo dos jogos, as bonitas e simpáticas “garotas” que marcavam presença nas bancadas… sem dúvida que o basquetebol na década de 70 era considerada a coqueluche do desporto em Moçambique!!!
Cá fora, o campo de treinos, junto ao bar do pavilhão, está com parte da cobertura em baixo. Segundo informações, um vendaval, há mais de um ano, deixou o campo nestas condições…
Os jovens basquetebolistas aproveitam uma das tabelas disponível, para fazer o seu aquecimento
O bar do pavilhão era aqui, onde agora funcionam os balneários do Andebol.
Fui até às traseiras desta coletividade, local onde existia um pequeno campo de basquete ao ar livre e digo existia porque já não existe! O campo foi desativado, tendo o mato e entulho tomado conta do local…
Ao lado no velhinho campo de futebol “João da Silva Pereira” os atletas do Maxaquene estavam prestes a iniciar o treino. Nas imediações do clube, crescem que nem cogumelos imóveis de todo o tipo…
O topo Norte do campo de futebol encontra-se assim…
Lá em cima, o emblemático Hotel Girassol, que tem hoje o nome de Montebelo Girassol Maputo Hotel. Continua a possuir uma privilegiada vista sobre a Baía de Maputo – um verdadeiro ex-libris da cidade.
Em 2016 foi alvo de uma remodelação que o dotou de mais quartos, um restaurante com varanda panorâmica, uma piscina e um ginásio.
Visitámos, depois, as instalações do Grupo Desportivo de Maputo (GDM).
Pórticos Art Deco na entrada do complexo desportivo na Av. Zedequias Manganhela construído em 1949.
Que bom foi rever, à entrada o “velhote” Gomes, prestes a fazer 80 anos de idade, a dar-nos as boas-vindas!
Com o reformado Gomes a fazer de cicerone, e a querer saber notícias dos jogadores de outrora, visitámos o antigo campo de basquete (à esquerda de quem entra),
e que agora tem relva sintética e utilizado para o futebol infantil.
Mais um mamarracho que aqui nasceu, mesmo junto às instalações do Clube.
Seguimos o Gomes que nos quis mostrar a zona recuperada pela coletividade. Mas, para isso, tivemos que passar pela piscina de 33 metros, onde grandes nomes da natação portuguesa/ moçambicana passearam a sua classe, como a Graça Paiva, a Regina Veloso (Jogos Olímpicos de Roma – 1960), a Dulce Gouveia, a Cló Botelho de Melo e Suzana Abreu (presentes nos Jogos Luso Brasileiros – Brasil), o Carlos Ótão, o Carlos Oliveira (Universíadas), o António Botelho de Melo “Tomané”, o Carlos Abreu (Jogos Olímpicos de Montreal – 1976) entre muitos outros atletas e técnicos… treinados pelo grande mestre da natação Eurico Perdigão.
A piscina encontra-se desactivada e com alguma água estagnada, local ideal para a proliferação de mosquitos…
onde converge por vezes o lixo, ora pelo vento, ora por alguém menos cuidadoso…
Junto à piscina onde ficava situada a esplanada e bar social, consta que vai ser construída uma mega discoteca…
Depois visitei a piscina onde dei as primeiras braçadas na minha infância… também ela se encontra desactivada. Segundo informações, ultimamente este espaço era alugado para festas e casamentos…
Estas imagens que acabaram de ver foram realizadas em Fevereiro de 2017. Entretanto as obras que decorriam foram concluídas e a realidade é bem diferente, para melhor! Ora vejam:
Em 28 de Dezembro de 2018 é inaugurado o Restaurante “A Codorna”, um espaço de restauração que possibilita eventos com musica ao vivo, situado no local onde se constava que viria a ser uma discoteca.
Veja o vídeo promocional deste espaço:
A zona das piscinas também foram melhoradas
Agora há que preservar estas infra estruturas.
Este ano o Grupo Desportivo Maputo (GDM) está de parabéns pois comemora a 31 de Maio de 2021 o seu centenário!
Voltando a Fevereiro de 2017.
Na companhia do mestre Gomes, chegámos entretanto, à zona recuperada que fica por detrás da sede e sala de troféus. Um espaço arrelvado muito agradável…
Esta zona, recentemente remodelada, ficou com as seguintes valências: Campo ao ar livre para a prática do basquetebol, andebol e futsal…
e um mini campo relvado de futebol para as “escolinhas” do Clube.
No regresso, cruzo-me com o Manuel Monteiro, e o Martinho Fernandes que fez comigo a recruta em Boane; trabalham numa entidade designada PROSPORT. A empresa dedica-se a projetos de âmbito desportivo. Penso que têm um contrato com o Desportivo de Maputo e gerem a área de formação do futebol.
O Manuel Monteiro disse-me que têm a intenção de alargar a intervenção, também para a formação nas outras modalidades. Penso que estão a realizar um trabalho continuado e de esforço meritório. Já fizeram alguns investimentos interessantes, como mostra esta reportagem, tais como a reabilitação dos campos por detrás da sede, e o antigo campo de basquete que agora tem piso de relva sintética.
Martinho Fernandes, Samuel Carvalho, Manuel Monteiro e Gomes
Reabilitaram, também, no passeio frontal, o restaurante/café/bar – EAGLES, (fácil concluir que o nome deriva do símbolo do clube) e que foi inaugurado em Agosto de 2016.
Já no regresso, passei pela sede e respetiva sala de troféus do Grupo Desportivo de Maputo… No final fui convidado a comentar e assinar o livro de honra do Clube
Do lado direito de quem entra nas instalações, fica o pavilhão utilizado para as competições de basquetebol, hóquei, andebol, etc.
Lá dentro, estava a decorrer um treino de hóquei patins
Cá fora os equipamentos secavam ao sol…
e o autocarro estava disponível para qualquer deslocação…
Desta vez não foi possível visitar o campo de futebol do clube (ex-Estádio Paulino Santos Gil), pois consta que o mesmo foi vendido a um grupo detido por cidadãos libaneses, já radicados em Moçambique há vários anos. Presume-se que a intenção seria efetuar um enorme investimento imobiliário, de acordo com o que aconteceu em toda aquela área circundante.
Como nota informativa, a equipa de futebol que militava no “Moçambola” (primeira Liga), desceu de Divisão no final da época transata. Neste momento iniciou a disputa do Campeonato da Cidade de Maputo, que lhe pode permitir ter acesso ao play-off regional para voltar a ascender ao “Moçambola”.
Depois desta visita, regressámos a casa pela Av. 25 de Setembro, na viagem fotografei as instalações da TVM (Televisão de Moçambique)
e seguimos pela marginal,
passámos pelo mural de 700m “ODE a Samora Machel” localizado em frente ao Clube Naval, pintado pelo artista Naguib e sua equipa, em homenagem ao falecido presidente de Moçambique – Samora Machel,
e subimos depois a rampa do caracol,
onde proliferam novas habitações, sendo considerada uma das zona “in” da cidade.
Já em cima, aproveitámos para apreciar a bonita paisagem e tirar umas fotos, para um dia mais tarde recordar…
Baía de Maputo como pano de fundo
O emblemático Clube Naval
Samuel e Helena
Os primos – Samuel e Ernesto
Os primos – Helena e Ernesto
Quando estava entretido a tirar fotografias, recebo uma chamada do Valdemar Cortez e da Elsa Pinheiro, também eles de férias em Maputo, a convidarem-nos para tomar uma bebida no Clube Naval; foi só descer e em cinco minutos estávamos lá.
A entrada do Clube Naval
A piscina do clube, com vista para a marina
Quando chegámos, encontramos um grupo de malta simpática e bem disposta…
Samuel Carvalho, Valdemar Cortez, Elsa Pinheiro, Lídia Gonçalves, Olívia Meneses, Ernesto Barbosa e a Carla Poyiatzis.
Valdemar Cortez, Helena Carvalho, Lídia Gonçalves, Olívia Meneses, Carla Poyiatzis, Ernesto Barbosa e Samuel Carvalho
Depois de muita “bula-bula” e umas 2M bebidas (cervejas), sempre num ambiente descontraído e bem disposto, foi com imensa pena que tivemos de regressar…
Em África há sempre um pôr-do-sol à espera de ser visto… Foi assim que nos sentimos: preenchidos e serenos num final de tarde perfeito, com esta paisagem junto ao Clube de Pesca.
Lembrei-me dos versos de Wilton Lazarotto:
A cada pôr do sol um novo horizonte
A cada amanhecer uma nova inspiração
A cada sorriso uma nova alegria
A todo instante uma nova emoção.
Um agradecimento especial ao meu primo Ernesto Barbosa, pela sua disponibilidade em nos acompanhar neste roteiro sobre a cidade de Maputo. Kanimambo primaço!
Agradecer também ao Nuno Narcy toda a informação prestada.
Foram utilizadas algumas fotos nesta reportagem, cujos créditos são de: Manuel Viegas, Elsa Pinheiro, Nuno Barbosa e blog housesofmaputo a quem o BigSlam agradece!
Música: Guell – Musica de Moçambique
- Não perca o próximo episódio desta viagem por terras de África – “Convívios… e entrevista da televisão STV ao BigSlam”!
(Visita ao casal Guida/Fernando de férias em Maputo, almoço no restaurante a “Taverna” com a família do Nuno Narcy e entrevista de Renato Caldeira a Samuel Carvalho no programa televisivo da STV – “Do Fundo do Baú”)
NOTA: Para ver ou rever as anteriores reportagens, basta clicar nos links seguintes (escritos a azul):
1ª – “Viagem até Joanesburgo e o primeiro dia nesta cidade!”
2ª – “Jantar convívio com antigos desportistas de Moçambique radicados em Joanesburgo!”
3ª – “Fim de semana em Marloth Park!“
4ª – “Partida de Marloth Park e Chegada a Maputo!“
5ª – “Primeiro dia na cidade de Maputo!”
11 Comentários
Manuel Pearson
Trabalho comendável. Parabéns.
Mário Alexandre de Jesus Gomes
Obrigado SAM, pela recordação desta excelente reportagem! Grande abraço!
Mário Gomes (Porto)
Manuel Martins Terra
Caro amigo Samuel, foste um verdadeiro condutor de um expresso chamado saudade, que nos levaste aos locais que outrora construíram os nossos sonhos. Simplesmente fantástico poder reviver as nossas rotinas (moradias,artérias,escolas, bairros, coletividades, mercados e tantos outros edifícios), Gratificante o que ainda se mantém e que tão bem recordamos e, destruídos pelos ventos erosivos de um expansionismo desorganizado,locais que nos deixaram tão boas lembranças. As tuas reportagens são um verdadeiro testemunho, para que os nossos filhos e netos, possam observar quanto felizes fomos naquela terra.. Parabéns.
Samuel Carvalho
Caro amigo Manuel Terra, grato pela simpatia das tuas palavras. Os teus artigos sobre a “nossa terra” serviram de inspiração…
Obrigado e aquele abraço.
Katali Fakir
Valeu, uma reportagem “Five stars”. Fiquei com pena por não teres dado um salto ao mítico Grupo Desportivo da Malhangalene e com música de fundo – o célebre grito “Malhaaaaaaaaaaaaanga” do não menos popular-, Teixeira.
Samuel Carvalho
Olá Katali, nesse dia não foi possível, mas na semana seguinte fiz questão de ir ao mítico Grupo Desportivo da Malhangalene, pois também tem muito a ver com a minha juventude, não esqueço os jogos de basquete, hóquei, futebol salão, boxe, luta-livre… e os célebres carnavais do Malhanga!!! Fica atento ao http://www.bigslam.pt pois dentro em breve será publicado a reportagem que fala do CDM (hoje Estrela vermelha).
Jorge Manuel Ribeiro Faria
Olá, Samuel! Gostei da reportagem. Já tinha visto estes lugares em 2009, 2010 e 2013 estes recintos. Alguns deles, como tu relatas, causaram-me tristeza pelo abandono e outros alegria pela sua boa conservação. No Maxaquene, aonde o meu filho jogou lá 2 épocas e foi diretor desportivo 1, aquilo que chamas de bar-restaurante eles chamam centro social. Este ano estou a pensar ir lá em agosto se tudo correr bem. Um abraço, Samuel e manda-nos mais reportagens.
Carlos Makwa Barreto
Boa reportagem , Samuel. Triste ver o estado das instalações desportivas e não admira a instabilidade desportiva do Desportivo. O Luís Filipe Varagilal conheci-o em 2007 no Maputo e creio ter uma ligação aos Albasinis.
Nelson Silva
Comentários sobre o que vi, para quê?
Obrigado, Samuel.
Luís Oliveira
Um pôr do Sol como doping para não chorar. Kanimambo.
António Gouveia
Caro Samuel
Reportagem genuína mas que me deixou triste pela degradação de algumas instalações . Apenas o Pavilhão do meu Sporting mantém um aspecto renovado.
Um abraço
A.Gouveia