A Entrevista a Rogério Carreira e a Introdução do Minibasquete em Portugal.
A tentativa de intervenção do Conselho Provincial de Educação Física e Desporto de Moçambique na tutela do Desporto Escolar sob a orientação da Mocidade Portuguesa, criou um clima de tensão de competências entre estes dois organismos estatais, mormente, sobre a criação do minibasquete em território nacional.
Esta é uma polémica que se arrastou durante muito tempo, e que uma fotografia da equipa de minibasquete da Escola Rebelo da Silva de Lourenço Marques veio reavivar.
E se é verdade como se dizia num reclame televisivo de que “o algodão não mente”, muito menos mente essa fotografia (devidamente legendada) que consta da excelente entrevista de Rogério Carreira, “Conheça Melhor”, publicada aqui no “BigSlam”, um site que o meu amigo e antigo e estimado aluno Samuel de Carvalho criou em hora feliz de recordações saudosas de Moçambique e do seu papel como viveiro de desportistas que muito vieram enriquecer o panorama desportivo deste país à beira-mar plantado.
Dessa entrevista reproduzo matéria probatória que interessa para um devido esclarecimento, ainda que passadas várias décadas. Na referida entrevista, é feita, a páginas tantas, a Rogério Carreira, com uma brilhante folha de serviços prestados ao Desporto de Moçambique, a seguinte pergunta: – “Aonde e quando iniciaste a tua actividade desportiva”? A resposta foi: – “Ainda na escola primária Rebelo da Silva fiz o campeonato de Minibasquetebol que a Mocidade Portuguesa fomentava entre escolas primárias”.
Em confirmação desta asserção, de que fui personagem participante e interessado pelo desempenho à época do cargo de Inspector Provincial de Educação Física da Mocidade Portuguesa, sendo, por inerência, responsável pelos respectivos campeonatos escolares, e em nome da defesa do pioneirismo da Mocidade Portuguesa na introdução do minibasquete em território nacional, e, principalmente, de todos aqueles “pirralhos” das Escolas Primárias de Lourenço Marques que neles participaram entusiasticamente, não posso deixar de esclarecer um caso que fez correr rios de tinta nos jornais de Lourenço Marques na intenção de atribuir a outros o que lhes não pertencia por direito e verdade devidamente documentada.
Para o caso, não me deterei em transcrição integral de um longo artigo (“MINIBASQUETE”, “Tribuna de Lourenço Marques, 01/07/72), cuja fotocópia porei à disposição se para tanto solicitado. Desse artigo, transcrevo, portanto, apenas partes que contradizem a seguinte introdução da responsabilidade do Conselho Provincial de Educação Física de Moçambique. Nela lia-se: “O minibásquete foi introduzido no Espaço Português em 1964, na Província de Moçambique tem merecido o apoio da Organização Nacional Mocidade Portuguesa – Regras de minibásquete editadas pelo Centro de Informação e Documentação do Conselho Provincial de Educação Física”.
Como se poderá ver adiante, em consulta na mesma fonte, não bate a bota com a perdigota, sobre “o merecido apoio da Mocidade Portuguesa”, como o comprovam os testemunhos insuspeitos de Cremildo Pereira, ao escrever: MINIBASQUETE SUA EXPANSÃO NO MUNDO: Em Portugal só há notícias da realização de torneios de minibásquete em Lourenço Marques, por intermédio da Mocidade Portuguesa, que desde 1955, tem melhorado consideravelmente (Jornal “Notícias”, 19/03/1967).
Num ciclo de Colóquios, realizado anos mais tarde, perante outros participantes com comunicações sobre “ Actividades Desportivas”, a cargo de dirigentes do Conselho Provincial de Educação Física, inclusivamente do respectivo presidente, professor José Noronha Feio, tive a oportunidade soberana de demonstrar o papel da Mocidade Portuguesa na introdução do minibasquete. A minha intervenção, sujeita ao contraditório, em local próprio, mereceu a seguinte referência jornalística:
“Subordinado ao título ‘Minibásquete – Subsídios para o estudo da respectiva introdução em território nacional’ que colocou no seu devido lugar o papel representado pela M.P. em tal actividade, o professor Rui Baptista na fase de debate, maravilhou a assistência com os seus conhecimentos e ensinamentos sobre medicina desportiva, dando origem a aceso e esclarecedor diálogo” (“Tribuna” de Lourenço Marques, 06/04/1971).
Este meu extenso testemunho não tem outra intenção que não seja dar a “César o que é de César”. Ou seja, atribuir aos pequenos jogadores de minibasquete das Escolas Primárias de Moçambique e seus professores, ainda que, em alguns casos, a título póstumo, o valioso papel que lhes coube na Introdução do Minibasquete em Território Nacional que, à época, se estendia do Minho a Timor. Por último, para Rogério Carreira a minha gratidão pela oportunidade da sua entrevista e da sua valiosa contribuição para a reconstituição de matéria factual.
Em resumo, com testemunhos de transcrições que faço do artigo “MINIBASQUETE”, supracitado, o “I Campeonato Regional de Minibasquete de Lourenço Marques” teve lugar, sob única égide da Mocidade Portuguesa, em 1964. Só posteriormente, se realizaram torneios dos “Núcleos de Minibasquete”, patrocinados pela Coca-Cola, sob a égide do Conselho Provincial de Educação Física e Desporto de Moçambique. Esta a realidade dos factos tal como aconteceram!
Anos depois, por a introdução de minibasquete em território nacional voltar à baila foi completada esta temática com nova achega na imprensa moçambicana (“Tribuna”, 11/07/72), com os seguintes dados oficiais sobre o número de escolas participantes, o número de equipas participantes, o número de jogos realizados e o número de campos construídos nas escolas primárias de Lourenço Marques.
Campeonatos Regionais de Minibasquete de Lourenço Marques da Mocidade Portuguesa:
Ano lectivo 1964/65: 5 – 5 – 20 – 2
Ano lectivo 1965/66: 6 – 6 – 30 – 5
Ano lectivo 1966/67: 8 – 12 – 64 – 9
Ano lectivo 1967/68: 9 – 15 – 66 – 9.
Com a exoneração, a meu pedido, do cargo de Inspector de Educação Física deixaram de se realizar estes Campeonatos de Minibasquete da Mocidade Portuguesa. Pelos dados acima apresentados se pode ver que estes campeonatos tiveram uma evolução em todos os aspectos não podendo, como tal, serem tidos como uma espécie de fogo fátuo. Bem pelo contrário, mostraram uma evolução sob todos os aspectos e representaram um papel deveras importante numa altura em que o desporto escolar não abrangia a pequenada do ensino primário por inexistente, até então, em território nacional que se estendia do Minho a Timor.
2 Comentários
José Carlos Proença Garcia
Boa noite
Lembro-me perfeitamente desses campeonatos.
E discordo de algo dito mais acima pelo Rogério Carreira quando se referia à escola João Belo (da qual fui aluno há muitos muitos anos).
É que a equipa da escola das Mahotas foi campeã nos 3 últimos anos antes de 1974 e, eu fui o treinador.
Admin
Caro José Carlos Garcia,
A opinião do Rogério Carreira não colide com a sua, pois são épocas diferentes, a dele desenrola-se no princípio da década de sessenta e a sua no princípio da década de setenta. Ambos têm razão!
As vivências que o minibasquete proporcionou a tanta criança, foram a mola impulsionadora para outros vôos…
Apareça sempre neste nosso “Ponto de Encontro”!