7 de Abril de 1958 … Seleção de Hóquei em Patins de Moçambique vence final de Torneio de Montreux
Em Abril de 1958 Portugal participa no Torneio Internacional de Hóquei em Patins de Montreux. A representação portuguesa foi feita tendo por base a selecção da então cidade de Lourenço Marques.
Tanto quanto estou lembrado, e refugiando-me no que o António Alves da Fonseca contou ao portal digital “BigSlam”, “o ingresso dos hoquistas moçambicanos na selecção portuguesa começa a esboçar-se, quando no ano de 1957, o Ferroviário de LM convida o campeão europeu de hóquei em patins, o Barcelona, a deslocar-se a Lourenço Marques, para realizar alguns jogos com equipas locais e com uma Selecção formada por jogadores de vários Clubes.
No dia 29 de junho, formaram-se enormes filas de pessoas, junto do portão do Malhangalene, ansiosas por obterem os bilhetes que receavam viessem a esgotar-se. E foi com o Pavilhão superlotado, que a Selecção de Lourenço Marques, composta por Moreira na baliza, António Souto atrás, Adrião a médio, Velasco e Amadeu Bouçós no ataque, e os companheiros Carrelo, José Souto e Bettencourt (GR), derrotou surpreendentemente os Campeões da Europa, por expressivos e surpreendentes (5×1), situando o hóquei moçambicano a um nível que transcendia a categoria nacional.
Será oportuno recordar que as “Produções Golo” fizeram os relatos deste Torneio. Na ocasião o relator desportivo Paulo Terra, nos seus comentários, chamou a atenção da Federação Portuguesa de Hóquei em Patins para o facto da Selecção de Portugal viver em Moçambique e não na Metrópole.
O recado estava dado. Quando se projectou a equipa de hóquei que iria representar Portugal em Montreux em 1958, foram seleccionados todos os moçambicanos. A iniciativa das “Produções Golo” permitiu que em 1958 esta Agência de Publicidade fizesse, a partir da Suíça, a primeira transmissão desportiva intercontinental.
Permitam-me lembrar que numa nota alusiva ao Torneio Internacional de Montreux de hóquei em patins, publicada no livro “Anúncios do Tempo”, o jornalista Alves Gomes considera que “sem que nos apercebêssemos a GOLO provocou um movimento de moçambicanidade sem precedentes. Aquela selecção era de moçambicanos. A febre do hóquei e de ouvir os relatos da GOLO a partir de Montreux, até trouxe efeitos positivos no aproveitamento escolar: escutar os relatos com os deveres de casa concluídos.”
Será oportuno lembrar que neste Torneio Internacional de Montreux de 1958 participaram para além da Selecção de Lourenço Marques (representando Portugal) as equipas nacionais da Espanha, Itália, Inglaterra, Alemanha, Bélgica, França e do Montreux Hóquei Club.
Os atletas seleccionados foram: Alberto Moreira e Passos Viana (guarda redes), António Souto, Fernando Adrião, Abílio Moreira, Manuel Carrelo, Francisco Velasco, Amadeu Bouçós, Vitor Rodrigues e Romão Duarte, (defesas, médios e avançados).
Na final, a Selecção de Lourenço Marques que perdia ao intervalo diante da Selecção da Espanha por 2-0, derrotou o seu adversário por 4-2.
Os moçambicanos, que acompanhavam de Norte a Sul de Moçambique o relato pela rádio, com a nossa vitória sobre a Espanha, saíram às ruas, buzinando, gritando pelo triunfo alcançado.
Para comemorar o feito de Montreux foi preparada uma canção com letra de Maria José Arriaga e música de Artur Fonseca, cantada por Florinda Romeiras e transmitida em 25 de Abril de 1958 pela Orquesta Típica do RCM. Eis os versos:
MARCHA DOS HOQUISTAS DE MOÇAMBIQUE
VENCEDOR DO TORNEIO DE MONTREUX – TAÇA LUSITANA
EM REPRESENTAÇÃO DE PORTUGAL, EM 7/4/58
(PARA A RECEPÇÃO AOS HOQUISTAS)
MARCHA DOS CAMPEÕES
Quando a Selecção
Se prepara para jogar
Sabe d’antemão
Que o desafio vai ganhar
Pois em competência
Ninguém nos pode bater
Mesmo sem experiência
foi Chegar, Ver e Vencer
REFRÃO
Hoquistas moçambicanos
De fama internacional
Em hóquei são soberanos
Os moçambicanos
Honram Portugal!
Hoquistas moçambicanos
Orgulho da nossa raça
Hão-de ser por muitos anos
Os moçambicanos
Detentores da Taça!
Quando a Selecção
Cobriu a Nação
Conquistou esta vitória
Duma grande, imensa glória
Com valor profundo
Venceram fortes nações
Os Melhores do Mundo
Conquistaram multidões!
REFRÃO
Hoquistas moçambicanos
De fama internacional
Em hóquei são soberanos
Os moçambicanos
Honram Portugal!
Hoquistas moçambicanos
Orgulho da nossa raça
Hão-de ser por muitos anos
Os moçambicanos
Detentores da Taça!
Cantada pela primeira vez aos microfones do Rádio Clube no programa da “Típica”
Em 25/4/58, por Florinda Romeiras
Letra de MARIA JOSÉ ARRIAGA – Música de ARTUR FONSECA
(Da canção “CANTA CIDADE”)
João de Sousa – 07.04.2020
Veja a galeria fotográfica dos hóquistas de Moçambique que foram a Montreux. A final realizou-se no dia 07.04.1958, faz hoje 62 anos!
- Fotos retiradas com a devida vénia do blogue do Francisco Velasco.
Os relatos criaram uma empatia especial nos ouvintes. A vitória de Montreux é festejada nas ruas de Lourenço Marques, com pessoas circulando e carros buzinando.
- Trazer hoje à memória (decorridos 62 anos) essas noites de glória do distante ano de 1958 é lembrar o impacto que teve no desporto em Moçambique esta brilhante vitória do Hóquei em Patins moçambicano.
- Se te recordas desta brilhante conquista, deixa aqui no BigSlam o teu comentário!
9 Comentários
Leonor R.D.Caprin
Com muita alegria a ler esta reportagem e tanto orgulho em ver o meu pai, Vasco Romão Duarte, nestas fotografias representativas destes heróis do desporto Moçambicano.
Pedro Capella
Tenho com muito interesse seguido com atencao os vossos emails. Hoje em particular enquanto andava a navegar pelos arquivos por encontrar fotos deste campenonato com o meu pai que fez parte da comitva. As vezes que o ouvi contar ao detalhe cada um destes jogos e ve-lo euforico com a vitoria final foi uma surpresa. Obrigado por manterem vivas estas memorias da terra de todos nos.
P.S. Aproposito, ainda tenho o brazao do desportivo que se usava na altura no bolso do casaco do lado esquerdo.
José Campos
Lembro-me muito bem dessa memorável vitória no Campeonato de Montreux porque nesse mesmo dia 7 Abril 1958 eu fiz exactamente 13 anos e foi de uma varanda do antigo Prédio Coimbra na Baixa de Lourenço Marques na Av. da República que eu e familiares meus depois de termos escutado com algum sofrimento e ansiedade o relato do jogo contra a Espanha,nós fomos festejar ruidosamente aquela estrondosa vitória! Digam os que os da “Metrópole” disserem, mesmo ainda hoje, nunca PORTUGAL teve uma outra equipa de hóquei em patins tão boa como esta de 1958! Alguns infelizmente já não estão entre nós, mas a sua memória e boas recordações estão com aqueles que vivemos aquelas noites de glória desportiva! Um Bem-Hajam a todos estes GRANDES HOQUISTAS de Moçambique.
Braga Borges
Estes “meninos” antes de partirem para Montreux, fizeram um estágio na Namaacha e treinavam no nosso ring, do colégio salesiano. Era um regalo, para nós miúdos e praticantes da modalidade, vê-los treinar!
Joãozinho, brilhante reportagem. Obrigado e um abraço.
Manuel Martins Terra
Sim 62 anos já se passaram, sobre o grande êxito conquistado em Montreux, por10 magnificos moçambicanos,que envergando a camisola das quinas, mostram em solo helvético, a qualidade do hóquei que se praticava em LM. A verdade é que o hóquei patins na Metrópole, designadamente na década 50, foi perdendo referências que se foram tornando evidentes nos torneios em que as equipas laurentinas foram marcando presença e com vincadas exibições e consequentes vitórias. A goleada infligida ao Barcelona, no Pavilhão do Malhangalene, foi a prova real, de que na capital do Índico , morava o melhor hóquei do planeta. O Paulo Terra, com toda a perspicácia acordou as mentes adormecidas, dos que se sentavam nos cadeiroes da FPP. Quiçá algo cépticos, enviaram a guia de marcha para a equipa base da selecção de LM, avançar para Monteux. Depois foi o inicio da marcha vitoriosa daquela magnifica equipa até a desejada final frente a poderosa Espanha, ávida de uma desforra perante quem os afrontou no continente africano. Ao chegarem ao intervalo a vencerem por 2-0, os nuestros hermanos , pensaram ( mas mal) que poderiam ir até à goleada. O Francisco Velasco, poderá contar como se passou tudo na etaoa complementar. Foi ao que se sabe uma exibição empolgante , com 4 golos sem resposta, deixando o recinto de Montreux, em êxtase. Foi levantar o caneco e mostrar na Suíça, que tudo que vinha de trás não foi obra do acaso. Dezasseis anos depois, foi a vez do GDLM, passear a sua classe na Taça dos Campeões Europeus.Bom seria promover-se uma tertúlia, onde o Francisco Velasco, certamente teria muitas histórias para contar sobre este feito memorável, que felizmente ainda vamos podendo recordar.
Manuel da Silva
Ao João de Sousa,
Um dos grandes jornalistas radiofónicos de sempre de Moçambique. Figura ímpar no meio jornalístico desportivo radiofónico moçambicano e de quem muitos de nós guarda gratas recordações…Ao João Baptista de Sousa e à Equipa do bigslam, estou muito agradecido por nos dar a conhecer ou fazer relembrar tantas Memórias de tempos inesquecíveis…
Silvino Costa
Nessa noite inesquecível, no mato moçambicano, mais precisamente no Chibuto, também se festejou com muita intensidade este feito da selecção nacional, constituída exclusivamente por jogadores da selecção de Moçambique. Foi pura e simplesmente fantástico.
Zulfi Amade
Tinha eu 13 anos quando o inacreditavel aconteceu e ate hoje, so vendo estas fotos desses herois do desporto Mocambicano trazem-me um grande sentido de alegria.
Memorias inesqueciveis….
Mateus Filomeno João
Belíssima história do hóquei em patins em Mocambique. Em 1958, tinha eu 4 anitos; mesmo assim tive o privilégio de ser treinado pelo Alberto Moreira, ter jogado com o capitão Manuel Carrelo, a qm substitui como capitão, em cerimónia realizada no Pavilhão do Sporting de LM. joguei contra o Fernando Adriano, após independência de Moçambique ainda fui treinado pelo mágico Francisco Velasco.