15 de Julho de 1960… “A Voz de Moçambique” – Publicação da Associação dos Naturais de Moçambique
Este jornal, propriedade da Associação dos Naturais de Moçambique foi fundado em finais do ano de 1959, numa altura em que o Eng. Homero Branco era o Presidente da Direcção daquela agremiação. O seu 1º número foi posto a circular no dia 31 de Janeiro de 1960. Esta foi uma publicação vigiada pela censura pelas suas posições críticas relativamente ao regime colonial. Quando se verifica a cisão no seio do jornal “A Tribuna”, alguns dos seus jornalistas passam a escrever para “A Voz de Moçambique”.
Os primeiros colaboradores desta publicação foram Eugénio Lisboa, Rui Knopfli e Adrião Rodrigues. Essa colaboração foi interrompida quando a Associação dos Naturais de Moçambique (ANM) voltou a ser intervencionada pelo governo da época (portaria publicada no Boletim Oficial de 10 de Dezembro), o que teve, obviamente, reflexos no jornal.
Os três só regressariam ao “A Voz de Moçambique” em Fevereiro de 1962, ano em que a ANM foi restituída ao governo de direcções livremente eleitas, por ordem do então Governador Geral Sarmento Rodrigues.
O jornal publicou 17 números entre 31 de Janeiro e 31 de Dezembro de 1960, altura em que ocorreu a intervenção do governo acima mencionada.
Além de Eugénio Lisboa, Rui Knopfli e Adrião Rodrigues, também colaboravam no VM, muitos deles até 1975, Afonso Ribeiro, José Craveirinha, Rui Baltazar, Luís Bernardo Honwana, Virgílio de Lemos (ou Duarte Galvão), Fonseca Amaral, Gouvêa Lemos, Orlando Mendes, Rui Nogar, Ilídio Rocha, Fernando Couto, Rita Ferreira, Alfredo Margarido, Domingos Reis Costa, Glória de Sant’Anna, Irene Gil e Edite Arvelos, todos ligados à cultura, história, literatura e jornalismo, além de outros com ligações a áreas como a veterinária (Travassos Dias), medicina (Sousa Sobrinho), ensino, geografia (Orlando Ribeiro) e desporto.
O jornal VM foi um dos primeiros (senão o primeiro) a ser encerrado no segundo semestre de 1975, com a justificação por parte do governo de que não havia pessoas suficientes para “aguentar, ou se ocupar, com tantos jornais”.
OBS:
1 – colaboração na pesquisa de dados e elaboração do texto do Dr. Aurélio Rocha.
2 – alguns textos que circulam na internet referem o dia 15 de Julho de 1960 como tendo sido a data de lançamento de “A Voz de Moçambique”.
João de Sousa – 15.07.2020
3 Comentários
ABM
Estas publicações deviam ser digitalizadas e colocadas online para podermos lê-las.
A lista dos nomes citados é impressionante.
Não percebi um detalhe. Se o jornal operou apenas em 1960, como foi encerrado novamente em 1975?
ABM
Mário N Pereira
Boa noite. Gostei de ver esta “entrada” sobre a “Voz de Moçambique” no Big Slam. O Homero Branco, Diretor da VM, era meu sogro. Posso afirmar que várias vezes foi chamado à PIDE pelas publicações que ele e os outros colaboradores indicados no corpo da notícia faziam. Lembro-me de uma história em que foi chamado à famigerada Vila Algarve, com o Mário Machungo. Não era fácil pensar pela própria cabeça na altura e envolvia coragem e espírito de sacrifício, pessoal e profissional. Recordo que foi particularmente perseguido aquando de uma primeira página do jornal que saiu a criticar o luxo do novo edifício do BNU com uma frase de Churchill – “nunca tantos deveram tanto a tão poucos”. Esta publicação teve como consequência direta perder o emprego na Cometal Mometal. Antes tinha trabalhado no CFM e na Shell. Depois de ficar desempregado valeu-lhe a ajuda do irmão, Luís Branco, Comandante da DETA, que o apoiou na criação da FABRIMETAL (com outros sócios), onde era sempre preterido em concursos públicos de adjudicação de serviços ao estado.
Valeu-se sempre nessas idas à PIDE o apoio do Dr. Adrião Rodrigues, grande amigo. Num dos livros do Eng. Eugénio Lisboa uma referência à VM e ao Homero Branco.
Mário N Pereira
António, boa noite. Na Biblioteca Nacional estão alguns exemplares.
O jornal não operou só em 1960. Creio que saiu sempre até 1975.
Abraço.