25 de Fevereiro de 2014… Mário Coluna
Ao escrever estas breves notas sobre Mário Coluna, lembrei-me duma frase que um dia me foi dita pelo meu antigo e saudoso colega Machado da Graça:
retornei no sentido contrário”.
Foi o que aconteceu ao grande capitão. Veio de Lisboa para Maputo. Era o amor pela Pátria que falava mais alto.
A juntar aos muitos títulos conquistados, adicionou outro, quiçá com sabor muito especial: o de primeiro campeão nacional do seu Moçambique independente, como treinador de futebol do Grupo Desportivo e Recreativo do Textáfrica do Chimoio.
Mário Coluna, que me contava histórias da sua trajectória ao serviço do futebol, nas muitas viagens que fizemos juntos, era, segundo escreveu o meu colega e amigo Renato Caldeira, no jornal “O País”, um homem com um estilo em extinção. “Tudo nele era solene. O andar, o falar e até o comemorar. Ritmo morno, fala suave e lenta, mas incisiva.”
Filho de pai português e mãe moçambicana, o jovem Mário não demorou a mostrar grandes capacidades físicas e queda para o desporto. Em pequeno, era perito a trepar árvores para apanhar manga ou caju e, por isso, ouvia muitas reprimendas do pai, antigo guarda-redes e um dos fundadores do clube Desportivo de Lourenço Marques. E foi no Desportivo que Coluna abraçou o desporto.
No basquetebol não passou da equipa de reservas, mas surpreendeu no atletismo, tornando-se recordista nacional do salto em altura. Porém, a glória estava guardada para dentro das quatro linhas, para um avançado que, ainda adolescente, chamou a atenção dos três grandes clubes portugueses.
Tinha sido impedido de jogar pelo Desportivo de Lourenço Marques numa digressão à África do Sul, por causa das leis do “apartheid”, mas no duelo da segunda mão, em casa, vingou-se e marcou os sete golos da vitória da sua equipa. Nada mau para um miúdo de 17 anos. Tão bom que recebeu, pouco depois, uma proposta do FC Porto, seguindo-se o Sporting, que dobrou o valor da oferta, mas a vontade do pai e o facto do Desportivo de Lourenço Marques ser uma filial do Benfica traçaram-lhe o destino. E que destino.
Coluna definiu os pontos altos da sua carreira como sendo, quando ganhou o primeiro campeonato nacional e a primeira Taça de Portugal, pelo Benfica, a primeira vez que foi chamado a representar Portugal pela Selecção “B” e posteriormente pela Selecção “A”, e as vitórias sobre o Barcelona e Real Madrid, na Taça dos Campeões Europeus. Este e outros feitos de Mário Coluna estão documentados no Museu do Benfica.
Na última entrevista que deu em vida, (ao canal Benfica TV), Mário revelou algo que muitos desconheciam. A designação “Monstro Sagrado” foi-lhe dada por um “lagarto” de seu nome Artur Agostinho,
esse grande comunicador, homem dos mais variados relatos de futebol, das grandes tardes e noites desportivas, apresentador de programas de rádio e televisão e também actor.
Mário Coluna foi grande, porque nunca reclamou a grandeza que tinha.
Do “Monstro Sagrado” fica um momento de tristeza, reflectido num pronunciamento feito à margem duma conferência de imprensa que serviu para efectuar o lançamento da “Gala Mário Esteves Coluna”:
Convidaram-me para ser membro do Partido Frelimo e deputado da Assembleia Popular. Aceitei. Atribuiram-me a Ordem Eduardo Mondlane do Terceiro Grau, a mais alta condecoração do Estado, mas não se recordam em devolver o meu prédio, que comprei com dinheiro do futebol. Nasci em Magude e depois vim para Lourenço Marques aos 4 anos. Quero fazer chegar ao meu Governo que voltei para Moçambique porque nasci aqui. Sou bem-vindo no Benfica de Portugal, com direito a casa e dinheiro, mas preferi voltar para a minha terra”.
Mário Esteves Coluna faleceu a 25 de Fevereiro de 2014. Faz hoje 6 anos que nos deixou fisicamente.
João de Sousa – 25.02.2020
2 Comentários
António Amorim Lopes
Mário Coluna, o “MONSTRO SAGRADO” como lhe chamou Artur Agostinho, faleceu há seis anos. Que Deus o tenha no eterno descanso. O excelente jogador de futebol era um jovem da minha idade e tive o prazer de ver alguns jogos em que tomou parte, em Portugal, antes da minha ida para Moçambique. Da grandeza de qualidades deste Moçambicano já foi dito o suficiente para o catalogar em lugar de destaque. Até a um dia Mário Coluna.
Manuel Martins Terra
Mário Coluna, é daqueles futebolistas que poucos adjetivos restam para o poderem definir. Era efetivamente o grande motor, que fez funcionar o Benfica europeu e que empurrou a seleção portuguesa, no inesquecível Mundial de 1966, disputado em Inglaterra. Como grande capitão( deveria chamar-se general), mostrou o seu desagrado, quando ouviu Manuel Luz Afonso, antes da partida frente à poderosa seleção da casa, afirmar que o minusculo Portugal, já tinha ido longe de mais. Não gostou e dentro das quatro linhas, quem mandava era ele. Pena foi que o Vicente se tivesse lesionado e a história seria outra. Mais um atleta eclético, que bateu o record provincial de salto em altura com a marca de 1,825 metros. A prática do boxe, conferiu-lhe a forma de ser ágil e duro, quando necessário. Mário Coluna, deu muito ao Benfica e merecia muto mais consideração por parte do clube que sempre amou. Morreu com Moçambique no coração, e com o Benfica no seu pensamento. Que Deus, o tenha na sua companhia.