SEGREDO DE ESTADO
Sábado, dia 14 de Junho de 1980. Estava em casa quando recebo uma chamada telefónica informando que devia apresentar-me na Rádio, “amanhã às 8 horas”. Nesse “amanhã” (domingo) eu estava escalado para fazer o relato dum jogo de futebol do nosso “Moçambola”.
Como manda quem pode e obedece quem deve, lá fui. Apresentei-me no local onde funcionava a Direcção da RM. Quando entro vejo, para além de alguns colegas meus, pessoas que eu não conhecia.
Esses senhores (que eu não conhecia) eram elementos do Serviço Nacional de Segurança do Estado (SNASP).
Explicaram-me o que se ia passar. Iniciava-se (na segunda feira – dia 16 de Junho) a operação da troca da moeda. Era preciso começar a elaborar textos explicativos que teriam de ser transmitidos nos diferentes canais de emissão da RM (em português e nas línguas nacionais), logo após o anúncio que seria feito pelo Presidente Samora Machel, em mensagem previamente gravada.
Simultâneamente nas emissões da Rádio ia começar a ser transmitida uma informação dando conta aos ouvintes que “o presidente Samora Machel vai falar à Nação na segunda feira”.
A partir do momento em que entrei na Rádio, naquela manhã de domingo, já não podia sair, dado que era conhecedor dum “segredo de Estado”.
Tive de explicar a quem de direito que estava escalado para fazer o relato de futebol e por isso mesmo tinha necessidade de me ausentar da Rádio, no período compreendido entre as 14.00 e as 18.00 horas. Excepcionalmente fui autorizado a sair com a recomendação (era mais uma ordem do que uma recomendação) de que “não pode desvendar nada sobre esta operação”.
Pelo facto de estarem ouvir a Rádio anunciar que o presidente ia falar à Nação na segunda feira, alguns dos presentes no campo de futebol perguntavam-se sobre o teor da mensagem de Samora.
“Será que ele vai fazer uma declaração de guerra”? “Não sei” … foi sempre a minha resposta.
Foi a primeira e única vez na vida que me vi envolvido num “segredo de Estado”.
João de Sousa – 16.06.2017
A titulo de curiosidade:
Entre 1975 e 1980 circularam em Moçambique notas coloniais de 50, 100, 500 e 1000 Escudos, com a sobrecarga “Banco de Moçambique”.
Em 16 de Junho de 1980 entraram em circulação as novas notas, com 4 valores: 50, 100, 500 e 1.000 Meticais.
Um Comentário
Rogerio Costa
Nao sabia que o escudo Portugues de Mocambique (com a anotacao de Banco de Mocambique) tinha sido usada ate 1980.
Obrigado pela informacao Joao.