UMA DATA NA HISTÓRIA – 11 de Janeiro de 2006… Fernando Adrião
Nos tempos que já lá vão, havia sempre quem questionasse sobre o melhor jogador de hóquei em patins do mundo. Muitos, principalmente os adeptos moçambicanos, apontavam para Fernando Adrião, muito embora se reconhecesse que nesse percurso havia que tomar em consideração o nome de António Livramento que era apoiado por um grande número de portugueses.
Eu vi os dois jogar. Não me atrevo a dizer quem era o melhor, porque essa coisa de “o melhor”, tem muito que se lhe diga. Há entendidos na matéria, com muito melhor conhecimento do que o meu, para fazer avaliações desta natureza.
Mas porquê Fernando Adrião? Porque ele foi a nossa tábua de salvação no dia em que chegámos a Buenos Aires, para participar no Campeonato do Mundo de Hóquei em Patins, realizado em 1978, no santuário desta modalidade, a cidade argentina de San Juan.
Em finais de Setembro de 1978 iniciámos a nossa viagem tendo como destino a cidade de Buenos Aires. Nos balcões dos Serviços de Migração, o primeiro grande obstáculo. Foi-nos vedada a entrada na Argentina, “porque o vosso Governo apoia a luta dos Montoneros”, uma organização político-militar e de guerrilha urbana de esquerda, cujo objectivo era o estabelecimento dum estado socialista na Argentina.
Insistimos, explicámos ao que vínhamos, referimos que nada tínhamos a ver com questões de natureza política. Nada. Ninguém nos ouvia. Até que, milagrosamente, um funcionário aproxima-se do nosso grupo, olha para o Fernando Adrião e pergunta:
– O senhor aí (apontando para o Fernando) não foi campeão do mundo de hóquei em patins. O que faz aqui ?
Sou o seleccionador de Moçambique – responde o Fernando.
Foi a nossa tábua de salvação.
Todo aquele grupo de funcionários de serviço quis tirar uma foto com aquele que eles consideravam “el mejor jugador de hockey sobre patines del mundo”.
A partir daquele momento os funcionários da Migração abriram uma excepção. Só poderíamos entrar no País, se houvesse alguém que se responsabilizasse pela nossa estadia. E esse alguém era o Presidente da Casa de San Juan em Buenos Aires.
Um dos elementos do Comité de Organização que nos esperava no aeroporto da capital argentina, providenciou-nos o transporte para o efeito. Fomos à Casa de Juan em Buenos Aires. Obtivemos a devida autorização de permanência. Regressámos ao aeroporto, apresentámos a declaração emitida aos funcionários da Migração e embarcamos no primeiro voo dessa tarde para San Juan. Fomos recebidos por por uma enorme multidão, que, pela Rádio Oficial de Buenos Aires, foi acompanhando toda a nossa odisseia.
Fernando Adrião foi de facto a nossa tábua de salvação.
Para quem não saiba, foi o único desportista português a ter participado como jogador em 3 selecções nacionais: Portugal, Moçambique (após a independência) e Angola (treinador/jogador).
Arrecadou cinco campeonatos mundiais (1958, 60, 62, 68, 74), duas vitórias na Taça Latina (1953 e 65) e quatro títulos de campeão europeu (1959, 61, 63 e 65).
Fernando Adrião manteve-se ligado à modalidade (em Portugal) como técnico das camadas jovens e, em 1998, foi considerado pela Confederação Argentina de Hóquei o melhor jogador mundial de sempre. Foi distinguido com a medalha de Mérito Desportivo (1960) e medalha de Honra ao Mérito Desportivo (1999).
Faz hoje (11 de Janeiro de 2018) 12 anos que ele nos deixou.
4 Comentários
Ulisses Marta da Cruz
Fernando Adriâo foi o Maior hoquista de todos os tempos.
Descansa em paz meu Sogro.
Oscar Soeiro
Tive a honra de jogar com ele no nosso “MALHANGA”.
Sem dúvida o mais completo de sempre.
Manuel
Foi o tempo do poderio do hóquei português! O trio Adrião, Velasco e Bouçós.
Carlos Hidalgo Pinto
Incluiria também o fenomenal Francisco Velasco e o trio composto por estes jogadores constituíram os melhores jogadores de sempre da selecção nacional e do mundo. Entretanto,
houve um outro hoquista de gabarito que foi o Xana do Sporting Clube de Portugal.