UMA DATA NA HISTÓRIA – 20 de Outubro de 1945… Calane da Silva
É um homem das artes. Da cultura. Da escrita e também da música.
Disse-me, em tempo que já lá vai, que tem uma discoteca em casa, formada essencialmente por discos da marca “His Masters Voice”. E disse-me mais: “Tenho tempo e gosto de ouvir música. Eu, muitas vezes quando estou a fazer um texto, que aparentemente precisa de muito silêncio, ponho sempre música de fundo. E isso advém do exercício de muitos e muitos anos de actividade jornalística. Obrigou-me a que tivesse mais velocidade e mais concentração em relação a todos os ruídos que estivessem à minha volta. Neste caso não é um ruído. É um som musicado. Numa redacção, com 15 ou 20 pessoas a trabalhar ao mesmo tempo, o matraquear das máquinas de escrever foi algo a que me fui habituando. Agora, em vez do teclado a bater é uma outra batida muito mais melodiosa que é a música. Ela acompanha-me nos momentos, quer de inspiração, quer mesmo quando escrevo ficção. Quando escrevo ficção gosto muito de ser acompanhado por música”.
O rádio a válvulas da marca BUSH, comprado a prestações, que ele tinha na sua casa da Malanga, era o seu companheiro de todas as horas. Ouvia os programas do Rádio Clube de Moçambique como por exemplo o “Programa de Variedades” ou o “África à Noite”, produzido e apresentado pelo locutor José Mendonça e que levava ao estúdio auditório grupos musicais daquele tempo, tais como Djambo, João Domingos, (lembram-se, do “Samba da Mafalala”? ), do conjunto Harmonia e por aí fora.
Calane gosta de ouvir Fany Pfumo, (adora o “Moda Xicavalo” – indicativo de transição do tempo de antena de Changane para Ronga da antiga “Hora Nativa”),
ou o “Hit Parade” do LM RADIO apresentado por uma grande figura da radiodifusão de seu nome David Davies. Não se esquece do “Jailhouse Rock” de Elvis Presley, dos Platters, dos Beatles, de Roberto Carlos (o tal que desembarcou no Aeroporto Gago Coutinho e fez virar a cabeça das meninas daquela época, porque veio com uma música que mudou o conceito nosso de música moderna cantada em português, de verso simples e assimilável), de Martinho da Vila, do “Khanimambo” de João Maria Tudela e de tantos outros que a Rádio se preocupava em divulgar.
Para Calane, a rádio e a música é algo que não se pode separar. “Continua a ser uma companhia importante, porque a Rádio é um meio lindo de nos pôr a par do que se passa no mundo musical e noticioso”.
Para este meu espaço da “Data na História”, transcrevi algumas passagens importantes duma entrevista que em tempos fiz a Calane da Silva, que foi transmitida no programa “Fio da Memória”
e posteriormente publicada no livro com o mesmo nome, e na qual ele fala essencialmente da sua relação com a Rádio e com a Música, porque o nosso jornalista, escritor, poeta e professor, nascido na cidade de Lourenço Marques no dia 20 de Outubro de 1945, completa hoje os seus 73 anos de idade.
Calane, meu irmão, meu amigo, meu camarada… tudo de bom para ti, neste dia. Continua a dar o teu contributo ao mundo da cultura, das artes, das letras, da cidadania, porque todos nós precisamos de ter sempre o teu nome como referência.
Comemora este dia com aqueles que mais estimas.
Veja um vídeo com um poema da Calane da Silva:
João de Sousa – 20.10.2018