UMA DATA NA HISTÓRIA – 22 de Abril… João Maria Tudela
Nos velhos tempos de Lourenço Marques, lá para os anos 60, muitos jovens que escutavam a Emissão “A” do então Rádio Clube de Moçambique, habituaram-se a ouvir a voz de João Maria Tudela, que naquela época começou a registar os seus principais sucessos, em discos de 45 rotações, que muitos adquiriam na Casa Bayly, na “Poliarte” ou na Casa Ultramarina de Comércio.
Nos diversos programas da rádio e em particular nos programas ao vivo daquela que é hoje a nossa rádio pública, João Maria Tudela interpretava “Uma Casa Portuguesa”, (a primeira a cantar esta canção foi Sara Chaves),
“Khanimambo” (gravado em 1959),
“Lourenço Marques”,
“Moçambique”,
ou “Piri Piri”,
com letras de Reinaldo Ferreira ou Vasco de Matos Sequeira, que o maestro Artur Fonseca se encarregava de musicar.
João Maria Tudela que chegou a ser solista do então Liceu Salazar (hoje Escola Secundária Josina Machel) para além de cantar, tocava vários instrumentos, como piano, guitarra, viola e harmónica.
O cantor faz uma parceria com o quinteto sul africano dirigido por Dan Hill para a gravação, em 1957, do LP denominado “Sundown at Lourenço Marques”, que foi editado pela Gallotone, sendo que neste processo e como forma de atingir o mercado do continente europeu, Tudela registou os seus temas para a gravadora Valentim de Carvalho.
Um dos momentos importantes da sua multifacetada carreira, foi quando apresentou “em directo” do Casino do Estoril em Lisboa as “Noites de Gala” da Rádio Televisão Portuguesa.
O contacto com personalidades da oposição política ao regime do Estado Novo, como Mário Castrim, Alice Vieira, Ary dos Santos e Fernando Tordo, altera a orientação do seu reportório.
Em 1968, depois de ter cantado “Ao Vento e às Andorinhas” no Festival Nacional da Canção,
Tudela interpretou um poema de Ary dos Santos e Nuno Nazareth Fernandes intitulado “Cama 4, Sala 5” que foi censurado. O cantor, que foi conotado como sendo apoiante do regime colonial, acabou por ver o próprio regime voltar-se contra ele, proibindo a canção e não permitindo que continuasse a trabalhar na Radio Televisão Portuguesa. Só depois do “25 de Abril” é que voltou à RTP, participando em peças de teatro e noutros espectáculos.
De João Maria Tudela registo um episódio. Benfiquista dos sete costados, é célebre um acontecimento em que participou no estádio da Luz. Poucos minutos depois de ter entrado para o camarote que então detinha com alguns amigos, Eusébio marca um daqueles seus golos do outro mundo.
Tudela levanta-se, sai e volta pouco depois: “Fui comprar outro bilhete, que o primeiro já se esgotara com o golo do Eusébio.”
No dia 22 de Abril de 2011 (faz hoje 7 anos), João Maria Tudela deixou-nos fisicamente.
João de Sousa – 22.04.2018
3 Comentários
Rui Manuel Mendes Correia de Melo
Era uma das boas vozes de Moçambique, Deus tenha a sua alma em descanso. Bons tempos. Vivia perto do maestro Artur Fonseca e dava-me com a filha.
Mário Munhá
Fui aluno do maestro Artur Fonseca e amigo pessoal de Tudela paz á sua alma
Rui Osório Gouvêa
Estive em muitas tertúlias na casa dele e do Manuel Jorge Cabaço. Tempos felizes que deixam muitas saudades.