UMA DATA NA HISTÓRIA – 23 de Março de 1928… Botelho de Melo
Acostumei a vê-lo ao volante daquilo que na época era o seu bólide. Um Volkswagen. Habituei-me a vê-lo fardado. Impecavelmente fardado. Era assim o Tenente Botelho de Melo, o Comandante da Polícia de Trânsito da então cidade de Lourenço Marques.
Nos campos de futebol, nos momentos dos relatos, bastas vezes me cruzei com ele. Várias vezes o entrevistei, na sua função de treinador do Sporting Clube de Lourenço Marques ou Nova Aliança. Após ter chegado a Moçambique jogou pelo Ferroviário e treinou o Alto Maé, o 1º de Maio e o Benfica.
A partir de 1959 todos os seus filhos praticaram natação no Grupo Desportivo de Lourenço Marques. Manuel Botelho de Melo Júnior, conhecido por Mesquita, jogou futebol pelo Sporting (numa altura em que o seu pai era o treinador dos leoninos) e ainda pela Académica e Nova Aliança.
Uma das suas imagens de marca era o seu sotaque, (coisa que nunca se perde) sotaque de quem nasceu na ilha de São Pedro, município de Ponta Delgada, no arquipélago dos Açores, de onde, em idade militar partiu para o curso de oficiais em Mafra, seguindo depois para Macau, onde esteve até 1957. Um ano depois, em Maio de 1958, chegava a Lourenço Marques.
Dizia-se que Botelho de Melo no exercício da sua função de Comandante da Polícia de Trânsito da então cidade de Lourenço Marques, era exigente. Transgressão ao Código de Estrada e às mais elementares normas de condução, davam direito a multa. Acontece porém (esta história foi-me contada há muitos anos por um “lagarto” ferrenho) que alguns dos seus transgressores, atletas do Sporting e até de outros clubes, eram poupados. Uma vez multados socorriam-se da benevolência do Tenente.
Em Fevereiro de 1976 Botelho de Melo vai para Coimbra e depois para Ponta Delgada por cerca de um ano, antes de rumar para os Estados Unidos da América, onde permanece até 1978.
Se fosse vivo, Botelho de Melo completaria hoje os seus 90 anos de idade.
PS: O meu khanimambo à Lélé e ao Mesquita por toda a colaboração prestada, no fornecimento de dados que permitiram escrever estas linhas e no envio duma foto que ilustra este artigo, onde o treinador Botelho de Melo virou repórter. A foto em questão, tirada no Aeroporto Internacional da Beira, prova que, embora a nossa diferença de idades, éramos os dois muito “mufanas”.
João de Sousa – 23.03.1918
2 Comentários
Pierre Vilbro
Associo-me à homenagem ao “Sr.” treinador de futebol, oficial da polícia de trânsito, popular e característico, Botelho de Melo.
Comecei a conhecê-lo vendo-o sentado no banco a orientar a equipa de futebol do 1º. Maio, e eu sentado na bancada destinada
aos borlistas, enquanto aguardava pela idade para iniciar a prática de desporto federado, começando em infantis, e vindo a ser por ele treinado em júniores e séniores, num relacionamento sempre competente, divertido, respeitoso e sui-géneris. Sempre me interrogava como era possível um oficial da polícia ter este tipo de relacionamento com todos.
Orlando Silva
Homem impecável Sempre pronto a ajudar Que esteja em descanso