UMA DATA NA HISTÓRIA – 24 de Janeiro … Manuela Soeiro
É conhecida como sendo a “mãe” do Teatro Moçambicano. Nasceu no Ibo, uma ilha da província de Cabo Delgado. Órfã de pai (um mestiço que em vida foi carpinteiro) aos cinco anos de idade, Maria Manuela de Lobão Soeiro, de seu nome completo, foi estudar para um colégio de salesianos na Namaacha. Gostava de ler. Chegava a “roubar” livros na biblioteca, para ler à noite. Contava histórias para as colegas. Assim nasce o gosto pelo teatro.
Depois da assinatura dos Acordos de Lusaka, em 1974, Manuela actua em grupos de mulheres, usando a dramatização como forma de estimular a reflexão, numa altura em que 98% da população moçambicana não sabia ler nem escrever.
Nos primórdios da Independência ela organiza saraus no Teatro Avenida ao mesmo tempo que se integra nos chamados “Grupos Polivalentes”, cuja função era educar as pessoas sobre aspectos relacionados com os principais problemas sociais.
A criação destes Grupos Polivalentes, onde participavam alguns actores da nossa praça, abriu caminho à profissionalização do Teatro. A 6 de Novembro de 1986 o sonho de Manuela tornou-se realidade: foi criado o “Mutumbela Gogo”, que em português significa “mascarado”.
Com o “Mutumbela” nasceu um teatro fora dos parâmetros usuais do chamado teatro clássico. Fez-se (e ainda hoje se faz) um teatro identificado com as nossas raízes culturais. Nesta procura de identificar o teatro com a nossa realidade e com os nossos problemas, Manuela Soeiro socorre-se de escritos de autores moçambicanos consagrados, como Mia Couto, José Craveirinha, Luís Bernardo Honwana, Rui Nogar e tantos outros. As crises sociais por que Moçambique passou (o excesso de burocracia, a corrupção, a guerra dos dezasseis anos, etc.) levou Manuela e o seu “Mutumbela” a iniciar um processo de crítica social.
Dos momentos profissionais gratificantes na minha relação com Manuela Soeiro faço questão de recordar o seu empenho e de outros profissionais a ela ligados (a saudosa Graça Silva, Lucrécia Paco, Adelino Branquinho, Vítor Raposo) no apoio à realização do programa “Volta a Moçambique”, que era gravado no Teatro Avenida.
Manuela Soeiro, a “mãe” do teatro moçambicano, completa hoje os seus 73 anos de idade. Parabéns!
Um Comentário
Pierre Vilbro
Julgo não conhecer a heroína Manuela Soeiro, mas tal não é impeditivo de a felicitar. E faço-o duplamente: pelo seu aniversário
e pela sua militância cultural. Um exemplo.