UMA DATA NA HISTÓRIA – 28 de Novembro de 2001… Artur Garrido
Uma noite Artur Garrido entrou na “boite” Zambi”, gerido na época pelo Alex Correia. Com aquele seu jeito próprio de andar, passos curtos mas firmes, olhando para as pessoas de frente, sempre com aquela amabilidade e educação que foram suas imagens de marca, cumprimentando conhecidos e amigos de mesa em mesa, mantendo uns minutinhos de conversa aqui e acolá e eis que de repente um dos frequentadores assíduos do local, sentado ao balcão, consumia cerveja e se contentava com uma sopinha, já ligeiramente “tocado” por força das “Laurentinas” (passe a publicidade) ingeridas, anuncia com aquela voz roufenha para quem quisesse ouvir a chegada do “Mr. Stangers in The Night”.
Manda a verdade dizer que Artur não era nenhum estranho da noite, porque, a noite preencheu uma importante parte da sua vida. Cantava e animava as pessoas numa altura em que nem se pensava nessa coisa moderna chamada “playback”, sistema que deixa bastas vezes os cantores cometeram fífias de arrepiar conhecidas pela designação de “tchatchar”.
Aquele era o tempo de se fazer acompanhar por um conjunto musical. Hoje, lamentavelmente, e salvo raríssimas excepções essa prática já se perdeu. Até nos bailes que a “Pobreza” promove com regularidade, juntando gente das décadas de 60 e 70, o recurso na maior parte das vezes é ao já famoso e badalado DJ de seu nome Sérgio Canaveira, um dos veteranos animadores de bailes, que nos transporta aos salões onde antigamente se dançava a valsa, o bolero, o cha cha cha, o twist e por aí fora.
Mas, voltemos ao Artur. Sempre cantou com um conjunto. Ainda me lembro (era eu um mufana, já com a mente artilhada para a radiodifusão) das noites de domingo abrilhantadas pelo conjunto de Renato Silva, no auditório do então Rádio Clube de Moçambique. O Artur era o vocalista, o Renato era exímio nos teclados, o Boni brilhava no Xilofone o Eduardo Pereira (foi operador técnico do RCM) na bateria sendo que nos misteres das baquetas foi brilhante também o Gouveris, actualmente a residir pelas terras de Ressano Garcia. E foi com este grupo que acabou por gravar um single, com a etiqueta Bayly, do qual ressalta “Hambanine”, um bolero com letra e música do maestro José Queirós, por sinal um dos meus professores de canto coral no Liceu Salazar.
Dos conjuntos que acompanharam Artur constam os “Irmãos Dinis”, bem como os diferentes grupos que foram liderados pelo Edmundo Luís Gomes, popularmente conhecido no meio artístico por Mundinho.
Apaixonado pelo jazz recordo-me como se fosse hoje da sua integração como vocalista principal duma orquestra dirigida por Hélder Martins, um maestro que conseguiu transformar uma banda militar num grupo de jazz, que se apresentou nos anos 70, se a memória não me atraiçoa, no Cinema Dicca da então cidade de Lourenço Marques, em dois espectáculos.
Lembrei-me hoje recortes históricos porque “Mr. Stangers in the Night” (Artur Garrido) deixou-nos fisicamente a 28 de Novembro de 2001. Faz hoje 18 anos.
João de Sousa – 28.11.2019
3 Comentários
José jacinto
Boa noite. Sou músico da filarmónica figueirense da figueira da foz, estou a compilar a história de todos os seus Maestros desde 1842,um deles foi o maestro José de Paiva Queiroz em 1955,antes de ir para a universidade de Aveiro dar aulas de musica, entretanto tinha estado no casino da figueira da foz com a sua orquestra, enquanto isso escreveu muita música de baile, para operetas aqui na figueira representadas, depois continuou em Aveiro, entretanto foi trabalhar para a antiga cidade de lourenço marques, tinha um filho, um músico da filarmónica da figueira tinha residência no mesmo prédio dele na lourenço Marques, esse voltou para a figueira e não mais soube do maestro, do filho e dos possíveis netos, preciso de informações da data de nascimento e falecimento do maestro, e fazer uma compilação o melhor possível das músicas por ele compostas, se de algum modo poder ajudar agradeço.
jcvasconcelosster@gmail.com
Tive 0 privilégio de conviver com essa pessoa maravilhosa´, e sua linda família, nos anos 60 e 70. Carmelita Vasconcelos.
Augusto Rodrigues
Recordo-me perfeitamente da voz inconfundível do Artur Garrido.