UMA DATA NA HISTÓRIA – 28 de Outubro de 1909… Rui de Noronha
Mãe negra, pai goês, António Rui de Noronha frequenta o antigo Liceu 5 de Outubro, onde foi depois a Escola Comercial, na Av. 24 de Julho.
Foi, como tantos, funcionário dos CFM (Caminhos de Ferro de Moçambique), ao tempo a principal entidade empregadora do território. Trabalhou em Nampula, regressou a Lourenço Marques e morre, pobre e só, numa enfermaria do antigo Hospital Miguel Bombarda, em 25 de Dezembro de 1943.
“Morrem cedo os que os deuses amam” e a frase pode, hoje, soar a cliché.
Mas foi esse o destino do poeta dos “Sonetos” e do poema “Quênguêlêquêzê”, poeta percursor, personalidade que, com inteira justiça se deve integrar no rol dos protonacionalistas moçambicanos, dando sentido à noção desenvolvida por Mário Pinto de Andrade.
Craveirinha sabia-o. Noémia de Sousa, a voz inaugural de uma poesia com pendor negritudista e assumido protesto, de religação também das diásporas e alienações que descentravam o homem africano das raízes da sua cultura, ou culturas, comporia uma carta/elegia ao sofrido poeta, ao homem tímido, ao irremediável torturado de si mesmo, que foi Rui de Noronha.
E a melhor homenagem é lê-lo.
Fátima Mendonça, estudiosa da sua obra, estabeleceu-lhe a edição canónica, expurgada, ou explicadas as variantes e acrescentados inéditos, para além dos famosos “Sonetos” que um Reis Costa prestimoso, e seu antigo professor, resolvera “emendar”, em edição organizada pouco depois da morte do poeta.
Mas Rui de Noronha foi também um articulista de mérito, na tradição protestativa dos irmãos Albasini, Estácio Dias e Karel Pott. Proclamou o direito dos “nativos” à plena cidadania, bateu-se pelo direito de todos à educação plena, subscreveu o célebre manifesto colectivo sobre a “Questão dos Assimilados” (1927), perseguiu a afirmação de uma identidade moçambicana plural, defendendo o ensino corânico, cantando “Pretas” e “Mulatas” em prosa poética que os jornais publicavam.
Rui de Noronha comemoraria hoje 111 anos de idade.
- Fonte: “Poeta do Ser e do Tempo”- Texto (com a devida vénia) de Luís Carlos Patraquim, escrito por ocasião das comemorações de centenário de nascimento de Rui de Noronha.
João de Sousa – 28.10.2020
Nota do BigSlam:
Este foi o último artigo elaborado pelo já saudoso João de Sousa, para o BigSlam. Todos nós ficamos mais pobres com a sua partida e jamais será esquecido. Que descanse em Paz!
- As cerimónias fúnebres de João de Sousa, foram adiadas:
O corpo vai estar na quinta-feira (dia 29), pelas 08H00, no Parque dos Continuadores (antigo Parque José Cabral), seguindo depois para o Cemitério de Lhanguene de acordo com a família.
3 Comentários
Celestino F Gonçalves
Muito triste! Não tenho palavras para exprimir o que sinto com a partida deste grande Homem e grande Profissional. Apenas me ocorre dizer: que a tua Alma descanse em Paz João. Meus sentidos pêsames à família e o meu abraço solidário aos amigos.
Manuel Martins Terra
Deixou o João de Sousa na sua partida,no seu ultimo post, poemas de Rui de Noronha,tão profundos de conteúdo e significado. Que Moçambique se orgulhe dos seus filhos tao ilustres e que amaram como ninguém a terra que foi seu berço. E tu João, que nunca os esqueceste. Um eterno Bem haja, porque não também não te vamos esquecer.
Manuel Martins Terra
Apenas retificar um não que está a mais ;Um eterno Bem haja, porque nós também não te vamos esquecer.