A PONTA do OURO dos “Sete Magníficos”
A Ponta do Ouro é a praia mais a sul de Moçambique. Faz fronteira com a antiga província do Natal, hoje KwaZulu-Natal, na África do Sul.
Com a construção da nova ponte fica a cerca de 120 km da capital, Maputo.
As lendas e estórias que ouvi, sobre o nome de Ponta do Ouro: – É que em frente a esta praia se afundou um galeão que trazia especiarias e ouro das Índias.
– Ou também:- Porque era ao largo desta praia que se fazia o contrabando do ouro roubado nas minas do Transvaal na África do Sul.
– Mas a mais credível e aceitável, porque pude constatar! É que em determinados dias o sol do fim da tarde, ao bater na areia da praia esta ficava com a cor do ouro!
Daí o nome de Ponta do Ouro.
Possivelmente há outras lendas e estórias!
Nos fins de 1963 eu e seis amigos organizámos, a partir de Lourenço Marques, uma viagem de férias a esta praia. Na época pouco conhecida por ser de difícil acesso!
Como éramos sete, denominámos o “grupo”: – “Os Sete Magníficos”. Título copiado do filme Western de Jonh Sturges estreado uns tempos antes, creio que no cinema Manuel Rodrigues.
Embora com o mesmo título; – E sem câmara de filmar, mas com um “caixote fotográfico”! – Sem cavalos, mas com um Jeep Willys Overland, resolvemos fazer o nosso “filme”. – “Uma viagem de aventura”.
Tinha um elenco de “actores” portugueses. Mas nenhum estudou arte dramática nem de representação em nenhuma escola de arte em Hollywood, ou em algum país!
Começamos por estudar o guião do percurso e logística da viagem.
Elenco dos “actores” intervenientes na “Aventura”:
Júlio Costa, João Santos Costa (Eu), o António Faísca ; o irmão Zé Faísca, conhecido por “Leiloeiro” sócios das lojas “Conforto e Encanto do Lar”, – o Victor da “Ciclomotores”, – o Vicente Navarro; – e o Cesário da Matola, “O mecânico de serviço”.
Falta referir outro interveniente, também importante!: O Jeep Willys Overland. Propriedade do Júlio Costa.
A viagem teve início numa manhã, do ano de 1963, em direcção à vila de Boane. Conhecida pelo seu quartel de treino militar, a cerca de 30 km da capital.
Aí chegados, tomámos a estrada de terra em direcção a Goba.
Percorridos uns quilómetros parámos para o jeep “arrefecer o motor”.
Para mais à frente virarmos à esquerda em direcção à Bela Vista. Onde parámos para descansar e “sacudir o pó”.
A viagem prosseguiu até Salamanga, para se fazer a travessia do rio Maputo, no batelão.
Daì, até à Ponta do Ouro, a estrada(?) passou a “picada” de areia solta.
Depois de percorridos alguns quilómetros de “picada” e muito pó, parámos novamente para o motor do jeep arrefecer.
Durante a paragem o Victor, ou o Cesário, decidiu pôr o “caixote fotográfico” em acção e tirou-nos esta foto.
A seguir, sempre por “picada”, rumámos ao Zitundo. Uma povoação, com pouco mais de duas dúzias de habitantes, a menos de 20km da Ponta do Ouro.
Vale a pena referir que depois da Bela Vista não nos cruzámos com “vive-alma”. – Aquele sul de Moçambique era só nosso!
No fim da picada chegámos ao destino!
Deparámos com uma praia deserta, “linda de morrer”! Que com o bater do sol de fim da tarde, todo o areal ficava com a cor de “ouro”! – Tenho para mim que o nome Ponta do Ouro vem daqui!
Como apoio, encontrámos um pequeno largo de areia solta rodeado por arbustos; um poço de água salobra e uns paus que suportavam os restos do que foi um armazém(?) todo degradado, feito de colmo e capim.
Um pouco afastado dali montámos as tendas emprestadas pela Mocidade Portuguesa.
Depois da montagem, aqui está a nossa foto de “Cartaz” tipo James Dean!
Durante o dia pescávamos, apanhávamos mexilhão e tomávamos banho. À noite com a maré vazia íamos novamente para as rochas com um petromax e luvas, apanhar lagosta.
Que, além da pesca e da lagosta era a nossa opção aos enlatados. Nem os acabámos de consumir!
Como fomos para curtir o sol e a praia, também tivémos direito ao “repouso dos Sete Magníficos”! Nada melhor do que sentados na areia a “contar as ondas uma a uma”! À espera que a maré vazasse para irmos para as rochas apanhar mexilhão.
Os dias seguintes foram de repetição! – Praia, pesca, apanha de lagosta e mexilhão.
Com as férias terminadas regressámos à capital. Mas prometemos voltar!
Ainda lá voltei, creio que 2 vezes, depois de cumprir o seviço militar. Mas nenhuma viagem teve o encanto desta.
A praia estava diferente. Já com algum movimento!
Mas nada que se comparasse com o que vos apresento a seguir!!
A PONTA do OURO, HOJE!
Com a construção da nova ponte para a Catembe e melhoria dos acessos, veja o post “A ponte é uma passagem… para a outra margem”! aqui publicado no BigSlam, – a Ponta do Ouro sofreu um incremento “sugístico”, quero dizer turístico, enorme.
Como dizia o jornal online “Carta de Moçambique”:
Para os locais é como se um furacão tivesse passado e devastado a Ponta do Ouro: fezes nas bermas das estradas, urina por todos os lados, preservativos usados e garrafas (partidas) atiradas para cá e para acolá. Foi este o lastimável rescaldo das festas da passagem do ano, naquela idílica vila situada no Distrito de Matutuine – Posto Administrativo do Zitundo.
As fotos a apresentadas a seguir são da nova Ponta do Ouro. Não precisam de legenda.
Se quiserem deixem o vosso comentário no final deste artigo!
Fotos retiradas com a devida vénia do portal de facebook de Angie Gullan:
Para nós, com o BigSlam, o mundo já é pequeno. Muito pequeno!!
João Santos Costa – Fevereiro de 2019
17 Comentários
Jorge Preto
Boas. Quando deixou de haver o batelão de que falas. Sempre que la fui, com o pessaol da ULM (recepção a caloiros e etc, 1972, 1973 e depois de 1974… não me lembro de outro batelão a não ser o Ferry da Catembe. Kanimambo.
Ricardo Venturini
Estamos em 2022, quase em 2023. É verdade que antes do alcatrão e da ponte havia um encanto especial. Mas, sejamos justos, agora é mais acessível a todos e na verdade há organização e civismo suficientes para que não se repitam as imagens que aparecem na história (que diga-se são muito verdadeiras). A Ponta do Ouro era, foi e continua a ser um espetáculo! Boas festas a todos, sejam felizes!
José Antunes
Não quero defender o lixo, nem a porcaria nem o desempenho de quem o fez! Porem há que compreender que a Ponta do Ouro era um local inacessivel a quem não tivesse um bom carro com tracção e que mesmo assim demorava cerca de 4 horas sem contar com o tempo para o ferry-boat:
Graças a isso a Ponta de Ouro era vedada à grande maioria da população que ouvia falar sem poder lá ir! Diziam mesmo que eramos nós, os habitantes da Ponta do Ouro que fazimos força para que estrada não fosse construída!
Agora que foi construída, não só a estrada como a Ponte todos sabíamos que isto iria acontecer com a tal praia especial a ser visitada por toda a gente que se vingava de não ter podido ia lá antes sujando tudo. Só que…. a Ponta do Ouro tem gente que se preocupa em mantê-la como todos gostamos e pouco depois de toda essa trapalhada que muito bem documentam, todos se movimentaram e a limpeza foi eita em muito pouco tempo pelos residentes locais em que até os alunos da escola cooperaram.
Hoje há regras que são impostas pelas autoridades, continua a haver pessoas que realizam as limpezas quando é preciso, existe um parque de boa dimensão para as viaturas que sem tracção não podem circular na vila, etc.
A Ponta do Ouro está bem, e nós os residentes vamos mantê-la bem! Fiquem escansados e podem vir confirmar.
Rui Bettencourt
Também lá estive com os meus pais, quando ainda era bem mufana.
Que praia era e agora verifico que nem parece a mesma. Infelizmente é uma tristeza.
Obrigado pela reportagem, valeu bem a pena recordar os bons velhos tempos
Hambanine
Rui Bettencourt
arnaldopereira.net@gmail.com
Fico à espera desse post, pois tenho uma cena passada comigo e com ele.
Miza Luis
Adorei a sua reportagem, vivo na AdS e vou quase k mensalmente a Mpt. Tenho 1 pekeno projecto a nascer na Ponta do Ouro, mas depois das fotos k me foram enviadas na altura do FdA, ja nem sei se ira pra frente. Infelizmente, depois da Independencia, a Frelimo xkeceu-se k e preciso ensinar civismo, boas maneiras, asseio, saber xtar ao seu povo. A maior parte deste Povo, e de boa natureza, mas veem de familias quebradas, k nao entendem os problemas ecologicas k o Planeta Terra atravessa, o mundo deles e so akilo k os seus olhos alcancam…..e ai xta o resultado. Seja praonde forem, e assim k se comportarao, e xto nao e preocupacao p/o Governo. Apenas qdo for noticia dos jornais do xtrangeiro, ai eles acordam. A Ponta do Ouro k nos mostra nas fotos, nao existe mais, e so tenho a dizer, k voces os 7 Magnificos, foram uns previligiados, eu tinha nessa altura, 3 anos. Os meus parabens. Tive o maior gosto em rever o k nao conheci. Kanimambo. Miza
Maria Ceboleiro
O que é o “ AdS “ ?
JÚLIO COSTA
Muito obrigado João Costa , este teu resumo da nossa linda viagem está muito bom. Ficará para sempre nas nossas memórias como se vivia o nosso tempo livre com toda a amizade dos bons amigo verdadeiros. Quero aqui agradecer-te por não teres esquecido da viagem à linda praia da Ponta do Ouro . OBRIGADO.
João Santos Costa
Olá Júlio.
Creio que este teu comentário merece um agradecimento especial. Creio que todos os leitores e intervenientes neste post com os seus comentários vão entender porquê:
Esta nossa aventura só se realizou porque foste o nosso condutor de serviço. Mas a verdade seja dita, também te poupámos muitas vezes o serviço de “faxina” à cozinha!
Sabes o que te digo, Júlio? São estas memórias que ficam para contar-mos no fim da nossa mocidade!
Pela amizade e consideração que tenho, – e tu por mim, – conto com a tua participação nos meus futuros post´s aqui no BigSlam.
O meu próximo post, é sobre o “Piricas”. Lembras-te dele? Frequentava o teatro Scala e ia sempre para a 1.ª fila, mesmo em frente ao palco.
Desejo-te, assim como à tua família, uma continuação de 2019 com muita saúde.
Marcamos encontro em breve, aqui no BigSlam.
Muito Obrigado pelo teu comentário.
JSC
Maria de Fatima Ruiz
Preferia a Ponta de Ouro de outrora, aquele recanto selvagem que nos levava a sonhar com aventuras inimagináveis. Hoje esse encanto já não existe. O progresso estragou a Ponta do Ouro.
Feiteirinha
Bela imagem, belo retrato e belíssimo sonho João, foram as minhas impressões enquanto lia a tua estória. Pena é que o sonho, ao acordar, se tenha tornado num pesadelo. As fotos assim o atestam!!
Cristina Pinto
Estou encantada com o antes e desiludida com o depois.
Tenho memória do paraíso que era há cerca de 40 anos atrás.
Obrigada pela magnífica reportagem e lembranças.
Adorei ♥️
Armando Calado
Bela reportagem. A vida no seu estado puro, despida de cosméticas. Eu também conheci a Ponta do Ouro, fui lá 3 vezes, 2 em férias. Fui também à Ponta Malongane, que se podia conhecer por carro ou caminhando pela praia. Ficava mesmo antes da Ponta do Ouro. As lembranças são maningues. Lembro-me da aventura que era ir da Catembe até lá. Da autêntica auto-picada que nos punham à prova. Lembro-me de ficar numa roulote num ano, numa tenda no ano a seguir. Lembro-me também da sensação de liberdade, travestida na natureza, em que o tempo ignorava o relógio, o ciclo natural do dia era pertença do sol. E nós, nunca nos queixámos. Lembro-me também de ir todas as manhãs buscar água a uma fonte. E de ir ao pão na zona do muito pequeno comércio que havia. Lembro-me igualmente, naquela feliz adolescência que eu partilhava com os filhos dos amigos dos meus pais, de irmos nadar nas piscinas naturais que nos convidavam a brincar na água tépida. Também me lembro de ajudarmos os mais velhos a apanhar mexilhões nas rochas, que depois se
tornavam autênticos banquetes, acompanhados com Coca-Cola ou Fanta, e os kotas, madalas e também kokuanas, nao dispensavam a Laurentina ou a 2M. Lembro-me de tudo. Se me lembro. Ainda me lembro do cheiro a terra molhada pela manhã, bem cedo, depois dos autênticos festivais de trovoada e chuva forte pela madrugada adentro. E ao lembrar-me, com saudade, voltei a ser um jovem, vejo-me com os cabelos fartos, com um riso de esperança e alegria, sempre presente, E lembro-me também da letra de uma canção muito famosa na época – assisti a um espectáculo dele na Casa das Beiras, na rua 31 de Janeiro- cantada pelo Toni de Matos “Ó tempo volta para trás, trás-me a vida que eu vivi”. E remato dizendo, só por 1 dia. Só. Eu fico eternamente agradecido. Kanimbambo.
Carlos cardoso
Boas imagens da ponta do ouro .Obrigado uma vez mais por fazeres recordar o que foi “Muito Bom”.Abraço.
vitor.nicolau@netvisao.pt
Também lá estive várias vezes .
Comecei a ir em meados dos anos 60 de motorizada .
Na altura do matope só se passava de Jeep,motorizada ou VW .
A ultima foi na passagem de ano de 74 .
É tudo verdade daquilo que nos contas .
Daqui a uns anos aquele paraíso passa a ser Sul Africano ou Chinês .
Kanimambo Melungo
Adalberto Mendes
Gostei. Parabéns.
jmendesdealmeida@gmail.com
JOÃO, QUE SAUDADES DA “NOSSA” PONTA DO OURO. QUE TRISTEZA COMO SE ENCONTRA HOJE!
OBRIGADO PELAS MEMÓRIAS QUE ME TROUXESTE.
GRANDE ABRAÇO
JOÃO