As férias que não vou esquecer…

O Dragão de Ouro da minha mocidade
Com as férias á porta, a minha neta perguntou-me como passava as minhas, em Lourenço Marques.
– Ainda bem que me perguntou! Porque depois de dezenas de anos, “obrigou-me” a reviver passagens da juventude que a memória mantém bem vivas.
Disse-lhe que Lourenço Marques tem clima é tropical com temperaturas amenas no Inverno, e os meses mais quentes são Novembro, Dezembro, Janeiro e Fevereiro. Por isso as férias eram passadas de modo diferente das de hoje.
– Os resorts com tudo incluído, tal como hoje são apresentados e divulgados, não existiam! Existiam bons hotéis.

O moderno hotel Ukino Village, no Algarve. Uma referência para toda a família.
Mas não tão imponentes como estes, nem com estas ofertas.
Lourenço Marques tem, desde 1922, um hotel modelo, o Polana. Que hoje está mais “moderno” e mantido a mesma qualidade superior.
A sua estória está muito bem descrita pelo Manuel Terra aqui, no BigSlam.
Também na cidade da Beira foi construído em 1955 um hotel de luxo, o Grande Hotel.
Com 120 quartos equipados com tudo o que era mais moderno para a época. E por isso considerado o mais requintado hotel do continente africano. Designado como o “orgulho da hotelaria em África”.

Imagens do Grande Hotel construído em 1955 na cidade da Beira.
Hoje esse hotel está completamente degradado, como mostra a foto abaixo.
Está habitado por cerca de 3500 “hóspedes residentes”, sem os serviços mínimos de higiene, água e luz. Esta lotação faz “inveja” aos hotéis de outros continentes, por conseguir albergar tantos “hóspedes” numa área tão pequena!

Degradação das instalações do Grande Hotel na cidade da Beira
As viagens nos cruzeiros por diversos países, hoje tão divulgadas, também não existiam. Eram comuns as vindas de férias à Metrópole visitar a família. Às vezes com passeios pela Europa.

O paquete Príncipe Perfeito onde também se faziam os “cruzeiros” de férias para a Metrópole.
Os passeios e visitas à África do Sul eram frequentes. Porque na época era o país mais desenvolvido de África e as novidades eram ali apresentadas antecipadamente.
Na adolescência nunca precisei das férias tal como hoje são apresentadas.
O “meu mundo” era outro! Passava as férias na rua e praia a brincar com os amigos. Expliquei-lhe, recorrendo a exemplos que hoje são apresentadas pela comunicação social, que o “mundo da minha mocidade” foi muito mais seguro e feliz que o de hoje!
Pelas memórias que guardo contei-lhe, como na mocidade e juventude, passava/passávamos as férias em Lourenço Marques.
– Nos princípios dos anos cinquenta do século passado nos domingos de Verão, depois da missa, era habitual a minha mãe preparar um “almoço reforçado” para, em família, passarmos o dia na praia da Polana na sã convivência com outras famílias.

Praia da Polana nos anos 50/60 do século passado.
Já na escola secundária, do que eu gostava mesmo, eram as férias do Natal! Com o calor a “apertar” por ser Verão, íamos em grupos para a praia, junto ao Dragão de Ouro e Miramar.
Aquela praia era a nossa preferida, porque ali existia o parque de campismo! Frequentado por muitas famílias sul-africanas e rodesianas. O nosso interesse era meter conversa com as com as sul-africanas “bifas”, e arranjar um “namorico passageiro”, utilizando o nosso “inglês de praia”.
Quando aparecia alguma mais vistosa era ver qual de nós tinha mais “lata” para lhe cair em graça. Mas nem sempre o “namorico nos corria de feição!”
Chegando às vezes a arranjar-se conflitos e ciúmes entre as raparigas do nosso grupo.

Praia da Polana junto ao Dragão de Ouro nos anos 60.
Por o areal ser mais plano e extenso, muitas vezes a praia da Costa do Sol também era opção!
Chegados à praia, enquanto esperávamos pelos mais retardatários para formarmos as equipas de futebol, tínhamos a tarefa de fazer, na areia, as marcações do campo.
As raparigas jogavam ringue, ou faziam parte da assistência.
Aos domingos, para o almoço levávamos umas sandes e comprávamos uma coca-cola. Porque de tarde íamos directos, em chinelos de praia, calções de banho e camisa semi-abotoada, para a matiné no cinema Scala ou Varietá.

Cine teatro Scala

A fachada do Varietá na Rua Araújo, anos 60.
Nas outras salas de cinema os porteiros e arrumadores, não nos deixavam entrar, assim vestidos.
Alguns colegas, às vezes a contragosto por ficarem separados do grupo, iam com a família para mais longe! – Bilene, Ponta do Ouro, Macaneta, praia de Závora, ou outras, onde passavam alguns dias.
Diziam em jeito de “chacota” que a praia da Polana era a praia dos “pobres”. Por ser a mais concorrida.

Lagoa da Praia do Bilene.
Também eram frequentes os passeios á África do Sul visitar amigos e ex-colegas de escola, que ali estavam emigrados.
Muitas vezes saíamos de manhã de Lourenço Marques para a chegarmos à hora de almoço a Middelburg, onde no restaurante Safari nos deliciávamos com um bife de sabor diferente. Diziam os “entendidos em culinária?”, que a carne antes de frita era mergulhada em Coca-Cola para lhe dar aquele agradável sabor.

Vista aérea de Joanesburgo o nosso destino de eleição na África do Sul.
Hoje, com possibilidades económicas diferentes, as minhas férias modernizaram-se e também são diferentes!
Mas também é verdade que já não me ausento deste país para fazer férias de praia em nenhum noutro! Vou sim conhecer monumentos, a gastronomia, outras terras e outras gentes.
Mas as minhas férias em Lourenço Marques nunca as vou esquecer!!!
- Algumas das fotos aqui apresentadas foram gentilmente retiradas, com a devida vénia, dos blogues The Delagoa Bay e House of Maputo.
Para nós, com o BigSlam, o mundo já é pequeno…. Muito pequeno!
João Santos Costa – Julho de 2025
10 Comentários
Dulce Gouveia
Boas recordações João!
A maioria de nós passou por tudo isso….não precisávamos de muito para sermos felizes.
A nossa vivência em Lourenço Marques foi o nosso paraíso.
Bem hajas por nos recordares desses bons velhos tempo!
Eduardo Serrano
Exactamente assim amigo João. Que bom nos fazeres recordar esses tempos. Hoje nada é igual. Digam o que disserem no nosso tempo era tudo muito melhor. Apesar das dificuldades da época.
Um abraço.
josé carlos alves da silva
Mto obg João, relembrar estes tempos perdidos. Não voltam mais. Ficam as saudades. Abraço
Ricardo Quintino
Os bons velhos tempos da minha mocidade dos finais dos anos 50 a meados dos 60, porque a partir daí foi o serviço militar de 1964 até 1967 e a seguir a vida profissional até à retirada forçada no pós 25 Abril.
2luisbatalau@gmail.com
OBRIGADO CARO AMIGO POR ESTA DESCRIÇÃO AO PROMENOR SOBRE AS FÉRIAS EM LOURENÇO MARQUES.
TAMBÉM FUI MUITAS VEZES A ESTAS PRAIS E TAMBÉM MAIS ACIMA PERTO DA COSTA DO SOL,NAS MARÉS VAZIAS JOGAR FUTEBOL. ABRAÇO
LUIS BATALAU
Raul
Muito bem João,
Bela recordação. Gostei muito da frase “Na adolescência nunca precisei das férias tal como hoje são apresentadas.” Grande verdade. Havia um equilíbrio na nossa vida e não era necessário esperar pelas férias para repor a nossa energia.
Grande abraço.
Carlos Guilherme
Como eu me revejo em tudo o que aqui é dito! …
Fomos todos ricos pela bela vivência que tivemos naquela magnífica terra.
Bem hajam todos pelo saudosismo positivo que só nos faz bem à alma. Kanimambo.
Manuel Martins Terra
Caro amigo João, gostei desta tua resenha sobre a forma intensa como eram vividas as férias da nossa juventude em Lourenço Marques. Recordo que de calção vestido, t shirt, chinelos e toalha ao pescoço, apanhávamos o machimbombo 17 , e desciamos na paragem do Miramar. Ao domingo, era o dia consagrado para a deslocação com a família, onde passávamos o dia na praia,e o regresso era praticamente ao anoitecer. Lembro-me bem daquelas “futeboladas” desenroladas quando a maré começava a vazar, com muitos futebolistas federados a marcatem presença, e os perdedores pagavam o repasto no Restaurante Dragão de Ouro, hoje já demolido. Recordaste e bem, as nossos raides que não passavam para o interior do Parque de Campismo, para o diálogo com as “bifas”, tentando tirar proveito daquele pequeno dicionário de bolso, aprendendo palavras chaves de inglês prático, e quando vinha o engasgo, lá se soltava o pratico yes. Tudo terminava com uma gargalhada geral, num ambiente de descontração. Que saudades das nossas idas às matinés, usufruindo do bilhete estudante . Saudades, dos aniversários de grupo, que tinham lugar na Cervejaria Nacional, na Av. Paiva Manso, onde degustavamos vagarosamente o bem servido bitoque, e às escondidas lá iamos bebendo umas louras Laurentinas, para nós um simbolo da emancipação e no exterior os mais atrevidos iam puxando de um LM, e a fumaça a soar a um ar de liberdade. Junto à Rotunda da Taça Luminosa, uma ligeira paragem no quiosque da Socigel, para sorver um delicioso gelado. Enfim, João, tantas recordações daquela terra fascinante, que felizmente ainda as retemos na mente e tanto gostamos de as citar. Caro João, boas férias e saúde, e um grande abraço do amigo Manel.
Samuel Carvalho
Férias em Lourenço Marques… eram dias cheios de sol e despreocupação, entre mergulhos no Índico, passeios na marginal e os gelados que sabiam melhor do que qualquer outro.
Foram tempos de alegria simples, em que bastava uma toalha na areia e uma bola para ser feliz. Recordar essas férias é como abrir um álbum da alma, onde cada fotografia tem o som das cigarras, o sabor do camarão grelhado e a ternura dos reencontros em família ou amigos. Saudades boas, que nunca se apagam.
BigSlam
Recordando as férias em Lourenço Marques… Sol, mar, memórias e saudades que não se apagam.