FIGURAS do 7 de SETEMBRO de 1974, em L. Marques – O meu amigo Aurélio Le Bon
Quem é Aurélio Le Bon?
O Aurélio Le Bon, o Amaral Matos, o Nuno e a esposa Teresa Caliano foram, entre outros, os líderes do grupo Galo no 7Setembro de 1974.
– […] “A liderança do Galo vislumbrava um Moçambique independente no qual africanos e europeus haviam de juntar forças na construção de um país novo. E essa independência não significava um corte radical com Portugal, mas a reconfiguração das relações entre o novo país e o antigo poder colonial.”[…] – Benedito Machava, O 7 de Setembro e o verso da descolonização de Moçambique | 61
Temos, no Facebook, e não só! Dezenas de amigos em comum.
Porque é que eu nunca lhe pedi amizade?
Antes de fazerem um juízo de valor sobre este artigo (re) leiam, por favor, o meu post sobre o 7Set74, publicado aqui no BigSlam com o título: “Em Lourenço Marques, há 42 anos, – O “Galo Amanheceu”.
“A Operação Galo
– [….] Foi nessa terça-feira, 10Set74, quatro dias depois do início dos tumultos, e após a senha “Galo, Galo amanheceu” ser repetida algumas vezes na rádio, que os tumultos abrandaram.
A partir daqui o país ficou a saber que tinha sido preparada, no bairro da Mafalala, pelas elites africanas da Frelimo ligados a um grupo denominado Galo, uma operação que tinha como missão “prevenir tensões raciais e manter a segurança”.
Pese embora tudo que tenho lido e ouvido sobre esta operação, e reconhecendo o papel preponderante que teve na contenção dos tumultos dos contra-manifestantes; todos que “in loco” vivemos a situação, recordamo-nos que durante os acontecimentos houve centenas de pessoas que para se salvarem dos confrontos pediram protecção às forças de segurança e elas não apareceram!”
Porque não tive interferência directa no protesto e não sou político, estou autorizado a dizer disparates desde que para mim façam sentido. Por isso ainda hoje me interrogo!!
Como a função do grupo Galo era manter a segurança e evitar tensões raciais; porque é que só entrou verdadeiramente em acção ao quarto dia, e não foi suficientemente eficaz de modo a conter logo no início a violência dos contra-manifestantes? – Se o país estava sob administração portuguesa, e a PIDE já estava extinta, porque é que esta operação não foi preparada e programada em conjunto com os militares portugueses envolvendo assim mais efectivos e com maior probabilidade de êxito logo no início?…[…]”
– Pelo que acima está transcrito deixo a suspeição que no início dos tumultos o grupo Galo não “quis”; ou não foi capaz de acalmar nem conter os contra-manifestantes.
Ficando a dúvida que só actuou passados 3 ou 4 dias, depois de receber o consentimento dos superiores da Frelimo.
Como o “Tempo “: – Deixa perguntas; – mostra respostas; – esclarece dúvidas; – mas acima de tudo: – Traz verdades.
Soube posteriormente por informações do “passa palavra” de amigos, e outras que recolhi, mas não confirmadas por intervenientes; que o Grupo não actuou logo no início porque não estava preparado com meios humanos, e outros! Sendo por isso apanhado de surpresa pela dimensão dos tumultos.
– Foi por isto, e porque no post sobre o 7Set74 também refiro o seu nome, que nunca tive o atrevimento de lhe pedir amizade. Bem como aos outros elementos.
Ao contrário do que muitos ainda hoje possam pensar o grupo Galo, actuando com os comités de bairro, teve um papel importante no 7Setembro. Impedindo os milhares de contra-manifestantes de invadir a cidade cimento evitando assim, uma chacina ainda maior!
Há poucos dias, ao consultar o Facebook, fui alertado para um pedido de amizade. Fiquei contente.
Kanimambo, amigo Aurélio Le Bon!
– Sei que a “Operação Galo” e os acontecimentos de 7Set74, – dia da assinatura dos acordos de Lusaka, – ainda hoje são contados segundo “o ponto de vista” de cada um que assistiu.
Peço aos que os viveram para, se quiserem, nos contarem num breve comentário, a “sua versão”.
Dedico este vídeo, ao recordar o saudoso João Maria Tudela, a todos os Moçambicanos e Luso-moçambicanos.
Obrigado Moçambique.
Nota – Alguns vídeos, – este é mais um, – apresentados nos meus posts com motivos de Moçambique, têm arranjo fotográfico da Belita Costa (Anabela Bigas). Quero em meu nome, e creio que de todos os amigos do BigSlam, enviar-lhe as sentidas condolências pelo falecimento, no dia 25Out18, do seu marido, Tony Borges da Costa.
Para nós, com o BigSlam, o mundo já é pequeno. Muito pequeno!
João Santos Costa – Novembro de 2018
8 Comentários
Katali Fakir
Amigo João. Eu não estava em Moçambique nesse momento triste, infelizmente estava entre a vida e a morte num hospital militar sul-africano em Pretória por ter sido ferido em combate numa localidade de Tete (Destacamento Mabziguíro, a 4Kms de Changara) . O que sei, é através de leituras e relatos na 1ª pessoa. agradeço por mais uma reportagem com muito interesse abrindo um rico debate onde se pode perceber o stress traumático das pessoas que tiveram uma experiência trágica e horrível como todos os conflitos armados e guerras são estúpidas e que deixam marcas profundas a gente quase sempre inocente e silenciada. E isso eu lamento porque, como quase a todos nós Moçambicanos, esse triste acontecimento foi um dos muitos fatores promotores da separação de famílias e amigos naquela “Terra Amada”. Espero como a azeite, que a verdade dessa escaramuça um dia seja reposta, deixando sempre no ar uma interrogação, plasmada em Lob Sang Rampa – ” A realidade, não é aquilo que tu pensas que é, nem aquilo que outro pensa que é, é apenas aquilo que é.”
A. Luís Ferreira.
Terei algo para contar sobre esta situação, mas por agora apenas me limitarei a dizer que andei a apanhar dezenas e dezenas de cadáveres nas ruas e transportá-los para morgue
Henrique de Bettencourt
Grande abraço e obrigado.
Henrique de Bettencourt
Este livro tem inverdades ou em Português mentiras.
Eu detetei uma na narrativa e depoimentos do Sr.Alves Gomes,jornalista???? que diz que a tropa do 1ª Esquadrão a Cavalo do Centro de instrução de Vila Pery abandonou os cavalos na machamba do Carneiro 1 em Vanduzi e fugiu mais de 50Kms a pé ate´ao quartel.RIGOROSAMENTE MENTIRA.Eu pretencia a esta Companhia e a este plutão que fomos flagelados junto ao rio.
NÃO FUGIMOS NEM ABANDONAMOS nada.Não passa de pura invensão desse senhor jornalista????? que nem sequer lá esteve e ouviu a história da flagelação ao nosso estacionamento por mim.
Graças a Deus que ainda estamos por cá alguns que participaram neste acontecimento e poderão testemunhar a VERDADE.
O Sr. Le Bon infelizmente publicou o livro sem cruzar informação verdadeira da ficção.
JSCosta
Olá Henrique.
Todos os livros de narrativas são feitos de alguma ficção e inverdades. Possivelmente este não é excepção.
Ainda bem que nos repõe a verdade; dessa mentira relatada por um jornalista. – A mim também me custa a acreditar que a tropa, do 1.º Esquadrão de VPery, abandonasse os cavalos, para depois ter de andar a pé mais de 50 Km.
Mas Henrique, este meu post não é sobre o livro. – É o que sei, porque na altura estava em LMarques, e me foi dito, sobre a actuação do grupo Galo no 7Set74.
Muito obrigado por ter lido este post e sobre ele fazer o seu comentário.
Um abraço.
Rosa Salvador
Ainda hoje tenho na cabeça a voz do Chissano “Galo, Galo amanheceu”
maragitado@gmail.com
Vivi o 7 de Setembro por dentro, por força da minha amizade com o/um dos financiadores do movimento. Mudei de casa precisamente no dia 6, e tinham-me sido assegurados homens e carrinha para o efeito. À última hora tudo falhou, e só de madrugada fui avisada do que se estava a passar. Foram dias únicos de optimismo prontamente esmagado pelo terror que se seguiu.
Optei por ficar – embora me tivessem sido asseguradas toas as condições para vir para Portugal com tudo o que quisesse trazer – porque acreditei, e desejei muito fazer parte do novo e grande País que Moçambique ia ser.
Ainda não é tempo de entrar em pormenores, mas tenho (quase) tudo escrito contribuindo, assim, com uma peça do puzzle que ajudará a completar o retrato daquele período inesquecível de Abril de 74 a Setembro de 75, quando, por recomendação do Mabote, saí para levar o meu filho ao “médico” na África do Sul.
Guilherme Diniz
A Minha Humilde opinião. Tanto o 25 de Abril em Portugal Como o 7 de Setembro em Moçambique foram uma farsa de algumas pessoas que queriam o Poder sem serem implicadas. Quem esteve envolvido fê-lo acreditando numa boa causa, mas como se vê nos dias de hoje a farsa teve nomes que realmente apareceram e tentaram banir o nome de quem realmente merecia.