O Prédio Fonte Azul em L. Marques
- Porquê a Livraria Académica no Prédio Fonte Azul? (Fique a saber com o decorrer desta crónica)
O Prédio Fonte Azul foi um “ícone da cidade de Lourenço Marques”. Ali existiu, não sei se ainda existe, a Livraria Académica. Da qual guardo uma recordação.
Está situado na baixa da antiga cidade de Lourenço Marques na esquina da rua Joaquim Lapa, com a Praça 7 de Março, e ocupa um quarteirão.
O estado exterior e interior estava/está (?) possivelmente para deixar cair! Porque quem o seu não cuida o “Diabo leva”.
Dá pena ver, na baixa da cidade, o estado a que deixaram chegar este prédio. Nem o pátio escapou!
E não é caso único! Há outros prédios e obras de arte herdadas dos “colonialistas” em igual estado de degradação. Mas será que aquelas gentes e governantes estavam preparados para receber um país com as mais lindas cidades de África? Ou será porque não lhes custaram nada, e é para deixar cair?
Quem souber que me responda!
Não sei quem o batizou de “Fonte Azul”! Nem o ano exato da sua construção. Mas tudo indica que tenha sido em meados dos anos quarenta do século passado.
Porque a foto seguinte é desses anos e mostra que em frente, o prédio Rubi, ainda estava em construção.
Já nesta! Dos princípios dos anos 50, o prédio Rubi já estava construído.
Paredes meias com o prédio Rubi, e em frente ao Fonte Azul ficava o prédio “Cardiga e Filhos” cuja construção terminou também no ano de1950. Mas se estiver enganado o meu amigo Sérgio Cardiga pode corrigir!
Embora, nos princípios dos anos 60, grande parte dos andares superiores do “Fonte Azul” fosse ocupada por escritórios, o rés do chão tinha lojas conceituadas:
A Perfumaria Hofali,
a Laurentina Borges que depois se mudou para a arcada do prédio Náuticos,
os escritórios da South African Airways, uma loja de bijuterias e entre outras a “Célebre” – Livraria Académica que era também uma referência da cidade.
Todos nos recordamos dos “Cartões de Estudante” que nos era oferecido por esta, e outras livrarias.
Este “cartão” dava desconto no preço das entradas dos cinemas. 10$00 (0,05€) para a plateia e 12$50 (0,0625€) para o balcão. Nele era habitual fazermos “batota”! Com lixívia apagávamos a nossa data de nascimento alterando-a, fazendo-nos mais “velhos”, para assistirmos aos filmes maiores de 18 anos.
Este artigo foi escrito a pensar nesta Livraria, da qual temos saudades e recordações.
A minha recordação dessa Livraria é um isqueiro Ronson a gás, modelo Varaflame.
Possivelmente muitos fumadores ou ex-fumadores também ainda têm o seu.
O meu foi comprado na Livraria Académica. E tenho em ideia que foi por ser mais barato! E se a memória não me mentir o preço “rondou” os duzentos cinquenta escudos (1,25€).
Está em pleno estado de funcionamento, mas em repouso absoluto desde 1976.
Porquê 1976?
Que me perdoem os médicos pneumologistas e os fumadores, nos erros que possivelmente vou escrever a seguir.
Ao fim de algum tempo de ter chegado a Lisboa, apanhei uma “forte” gripe. Recorri a uma policlínica, aqui em Almada, e o médico que me atendeu, só por ingratidão já me esqueci do seu nome! Fez-me as perguntas da praxe: – Se fumava muito ou pouco, e há quanto tempo?
Depois de me auscultar pediu-me para no dia seguinte ir ter com ele ao Hospital de S.ta Maria, onde era interno, para tirar uma radiografia aos pulmões. Felizmente a radiografia não acusou nada!
Mas ele teve a gentileza de me mostrar, e comparar, duas radiografias. Uma com os pulmões “limpos”, e outra de um fumador, com os pulmões “sujos de nicotina(?).
Quando se saí da consulta vinha seriamente a pensar deixar de fumar. Ainda tentei, só que o vício era mais forte!
Esta a situação foi-se protelando, e eu sempre a pensar nas radiografias que tinha visto!
Até ao dia em o primeiro-ministro Mário Soares apareceu na televisão a anunciar os aumentos constantes do orçamento de estado. Desses aumentos fazia parte o tabaco.
Esse foi o dia da minha libertação. Disse para o meu cunhado: “Não fumo mais”!
Ele olhou para mim, riu-se, e perguntou-me por quanto tempo? Para sempre, disse-lhe.
E entreguei-lhe um maço de cigarros “SG Ventil” que tinha comigo
Meu Deus! Só eu sei o que me custou deixar de fumar. Principalmente depois das refeições. Tenho amigos que me dizem que não lhes custou nada. Pois para mim foi “o cabo dos trabalhos!” Mas consegui. Nunca mais fumei.
Hoje está em repouso dentro desta caixa. É a minha recordação da Livraria Académica do Prédio Fonte Azul, da linda cidade de Lourenço Marques.
Fontes: Wikipédia, blogs: The Delagoa Bay e housesofmaputo.
Para nós, com o BigSlam, o mundo já é pequeno… Muito pequeno!
João Santos Costa – Junho de 2024
8 Comentários
Maria Luiza
De tudo o que atrás foi mencionado, Livraria Académica, Laurentina Borges, Perfumaria Hofali (da familia Lobo), Consultório do Dr. Almiro do Vale (Pneumologista), e foi também o primeiro escritório do Almeida Santos e da esposa Margarida, quando chegaram a Lourenço Marques. Em 2012, fui de férias por um mês, há muito que era o meu desejo (não quero fechar os olhos sem voltar à minha terra). De facto uma tristeza, o que deixámos, e a degradação total.
Nino ughetto
“Merci” obrigado Joào por essas lembranças dos tempos de L.Marques, Para mim é verdade que essas recordaçoes me fazem sempre “mal” (chorar, mesmo pois tudo passa tudo acaba, infelizmente acabou muito mal.. Estou “so” como dizer ? certo que estou casado e tenho uma esposa maravilhosa, mas… estou “so.. Nào é facil explicar, Eu nasci em L.Marques e a minha vida desde bébé até adulto foi uma muito grande aventura. Fiz as 400 asneiras …porém VIVI .vivi à verdadeira vida, dos 6 ou 7 (talvez me engano na idade , jà passaram mais de 70 anos) fui para o colégio da Namaacha,depois a escola Correia de Silva, ,Maristas, Fernando Pessoa, e escola Comercial… Desde a minha adolecencia fiz muitoas asneiras “nem quero falar dissso” Estive em Salamanca no rio Maputo com meu irmào e meu querido Pai “LUDO”,Tinha centenas de conhecidos e amigos,Fiz tropa, (4 anos dos quais 2 no Norte de Moç) fiz Karaté, etc etc trabalhei nos correios e depois no Isntituto de Crédito… Foi uma vida de aventuras d’amores e o meu grande amor (Leonor Gonzaga) que infelizmente a perdi, é a vida…,mas cheio de conhecidos e amigos, embora tenha perdido muitos amigos na guerra..;Depois com os acontecimentos de independencia , fui obrigado a (fugir) a partir com o coraçào destruido de tristesa..49 anos passaram. Poderei esquecer o meu passado ????Como posso eu hoje ler e ver o nosso L.M. nesse estado …So triistesas…
Melo Ughetto
Caro e querido irmão, bem sei um pouco da tua história, é verdade que trabalhamos os dois em alturas diferentes na CEP Caixa Económica Postalque ficava no edificio Fonte Azul. Gostei de ler e de saber que também és leitor do Bigslam.. Deixa lá que não és o único que sente uma dor no coração…As nossas vidas deram uma volta separou a família e levou cada um para Países diferentes…Podes crer que como tu e eu e muitos outros vivemos as mesmas nostalgias e saudades da nossa Terra e particularmente da nossa cidade LM
José Alexandre Bártolo Wager Russell
Embora também usasse a Livraria Académica para comprar alguns artigos para a escola, usava mais a Minerva Central e a Empresa Moderna para os livros escolares ou canetas. É lamentável o estado o estado deste edifício. Como o de muitos na ex-LM. Quanto aos isqueiros caros, os Ronson mesmo assim, eram mais baratos que os Dupont, se bem me lembro. E este recordar neste artigo do amigo João Costa deste isqueiro trouxe-me à memória outras histórias da minha juventude de estudante.
Laborde-Basto
É curioso mas não me recorde da Livraria Académica. Recordo-me porém da Minerva Central, livraria Spanos. É provável. Ser mais recente que ~ 1959/60 quando acabei o liceu.
A condição do prédio Fonte Azul como de outros não é de estranhar.
Rui Martins
Esses cartões de estudante eram muito bem estudados, usávamos uma BIC , retificando a data de nascimento e fita cola por cima, acesso aos maiores de 17😊☺️
josé carlos alves da silva
Livraria muito linda e concorrida de pessoas. Pena, tudo que foi dado aos samoristas e frelimistas, está em ruínas. Um país rico, passou a um dos mais pobres de África e do Mundo. Obj João. É bom recordar. Abraços
Luis 'Manduca' Russell
Não conhecia este prédio. Eu, ‘colonialista’ de 12 anos de idade, fui expulso de Moçambique em 1977. Não tive a felicidade de conhecer e usufruir como merecia da nossa querida Lourenço Marques. Kanimambo ao João Santos Costa por esta crónica. Fui fumador durante mais 30 anos, já não fumo há 9 e nunca mais fumarei – por muito que me custe e muitas saudades que tenha do cigarro, mas nunca mais fumarei…
P.S.: A resposta à pergunta do João está nos mass media todos os dias. A única diferença é que as armas que servem os diversos interesses são mais modernas, ‘científicas’ e mortíferas agora.