António Repinga: corria que se fartava e não se fartava de correr!
Quem não viu Repinga a competir, não conheceu o maior fundista moçambicano de todos os tempos. Na sua época, para além das provas de pista, haviam com frequência corta-matos e as tradicionais Léguas 24 de Julho e do Natal. O fundista “locomotiva” tornou-se internamente símbolo das corridas longas e nas deslocações ao estrangeiro, também fazia aquilo que mais gostava: ganhar!
Manhã cedo, partia da zona do Aeroporto, dispensando os transportes públicos. Saía com uma sacola a tiracolo até à baixa… a correr! Era o seu treino matinal, correndo como um pardalito livre, sob os olhares curiosos dos transeuntes. Fazia atletismo por (e com) prazer. O cansaço que esperasse. Daí que nas pistas, tudo ficasse facilitado face aos exigentes programas que a ele e aos colegas eram impostos. Uma vez nos CFM, envergava o seu fato de trabalho, para se empenhar com afinco na labuta, como operário.
UM FIM TRISTE
Corria que se fartava e não se fartava de correr. Rivalizou com Fausto Archer e mais tarde com Francisco Ducodo, a quem vencia regularmente. Uma vez dado o tiro de partida, o fundista “locomotiva tomava a dianteira – dizia que não gostava de ser incomodado – deixando aos adversários directos a disputa do segundo lugar.
Acabou transformando-se num autêntico “papa-léguas”. A sua especialidade eram as provas de fundo, especialmente os 5 e 10 mil metros. Terminava fresco e não queria boleia para casa. Tudo leva a crer que seria, nos tempos que correm, imbatível na Maratona, tal a sua apetência pelas grandes distâncias.
O seu gosto por correr em todos os momentos, tê-lo-á traído, pois ao pretender apanhar um comboio em andamento, escorregou e acabou sendo trucidado. Foi desta forma triste que acabou a sua vida e a carreira.
António Panganhane Repinga nasceu em Lourenço Marques, actual cidade de Maputo, a 20 de Março de 1940. O Governo de Moçambique, merecidamente, atribuiu o seu nome ao circuito da baixa de Maputo, espaço actualmente recuperado, pois servia mais para estacionamento de automóveis do que para corridas pedestres.
Renato Caldeira – Fevereiro de 2022
3 Comentários
Paulo Carvalho
O Repinga, foi na sua época, um invulgar corredor de fundo! O Fausto Archer, que até ao aparecimento do Repinga, era o crónico vencedor das corridas de fundo, certa vez, ao fazer um esforço para além dos seus limites, para vencer o Repinga, em vez de se deslocar para a frente, começou a recuar até cair julgo, que inanimado!…
Camilo da Costa
Grande Corredor de Fundo e Meio – Fundo Moçambicano e ainda por cima do Ferroviário.
Era vê-lo a Treinar e Correr pelas Ruas da Capital…, e com a sua Respiração Única ….Um Saudoso Abraço e Muita Paz e Luz á sua Alma .
Manuel Martins Terra
O António Repinga, era um corredor de fundo de excelência, que correu num tempo de pleno amadorismo. Hoje, tudo seria bem diferente e creio que o seu nome faria correr muita tinta. Habituei-me a vê-lo correr a tradicional Légua da 24 de Julho, a partir do Jardim 28 de Maio. Já por lá passava com um avanço significativo sobre os restantes participantes, sem sinais de cansaço. Recordo os incentivos, secundados por fortes aplausos. Quando cortava a meta junto ao Restaurante Piripiri, o António, bem poderia se sentar na esplanada e beber uma cerveja bem descansado, até surgirem os seus colegas de competição a suarem as estopinhas. Não merecia aquele acidente trágico, que lhe roubou a vida. António Repinga, era uma força da natureza.