Luís Revez: Amigão de todas as horas
O seu coração sensível, tornou-o um “amigão” de todos os atletas, sempre disposto a treinar tanto iniciados como estrelas. O facto de não ter sido um “durão”, ter-lhe-á impedido por vezes de voos mais altos, por exemplo para técnico de selecções. Mas ele sentia-se feliz com o trabalho no “seu” Sporting, todos os dias, após cumprir a jornada de trabalho na Câmara Municipal. Na altura, havia uma grande rivalidade entre os “leões”, o Desportivo e o Ferroviário.
Quanta paciência, quanta dedicação teve Luiz Revez, na sua longa carreira, que começou como atleta de saltos e lançamentos!!!
Luiz Revez no salto em altura
Luis Revez a receber a medalha de vencedor do salto em altura e em 2º lugar o Mário Coluna do Desportivo a quando da inauguração das pistas do Parque dos Continuadores depois da Independência.
O seu segredo? Paixão, paixão e… paixão!
Fizesse chuva ou sol, nos dias dos treinos, de apito e sorriso nos lábios, lá estava ele incentivando os atletas, de várias formas: perguntando pelos estudos e dificuldades de cada um. Em paralelo, vinham as corridas, saltos e lançamentos. Ao contrário do exigente “Tau”, técnico do Desportivo, que exigia qualidade limitando a quantidade, Luiz Revez a todos recebia e acarinhava. Tanto para femininos como masculinos, havia espaço para todos.
O MUITO QUE DEVO AO MISTER
Pessoalmente, confesso que beneficiei de uma grande ajuda para fazer o curso industrial nocturno, ao mesmo tempo que dava livre espaço à minha paixão pelo atletismo.
Renato Caldeira do Sporting LM, numa prova de velocidade.
Mesmo sem ser uma estrela – os craques reservavam-me a disputa dos lugares do meio e do fundo da tabela – o Revez garantiu-me ao longo de anos, que após os treinos diários, a carrinha do Sporting me transportasse do clube, subindo a ex-Augusto Castilho (hoje Vladimir Lenine) até à Escola Industrial. Muitos, como eu, estarão eternamente gratos ao mister.
Os tempos eram outros. Eu saía pouco antes das 17 horas do Diário de LM, onde era operário gráfico – e repórter nas horas vagas – descendo a correr para o clube. Lá estavam as minhas sapatilhas e “spykes”. Na pista, impreterivelmente, o “mister”. Era o primeiro a chegar e o último a sair. Resolvia com um sorriso, todo o tipo de preocupações dos pupilos e até dava boleia no fim dos treinos a quem morasse fora da rota da carrinha.
No treinamento, paciência q. b., corrigia os arranques, anotava os tempos, incentivando à persistência.
ROMANCE/SURPRESA COM A LUCRÉCIA
A verdade é que no seu estilo pai de todos, acabou por nos surpreender com o romance que terminou em casamento com a atleta Lucrécia Cumba.
Lucrécia Cumba
Na altura, ninguém desconfiava que por detrás das boleias no final de cada treino, se desenhava um cenário que resultou num casamento feliz! Só assim ficou explicado o facto de a excelente atleta ser sempre a última a abandonar a viatura do mister…
Revez foi viver para Portugal, em S. António dos Cavaleiros, mas uma boa parte do seu coração permaneceu em Moçambique – o que acontece com muitos outros – interagindo com velhos amigos e inclusivamente proporcionando as ajudas possíveis aos que sabia estarem a atravessar momentos difíceis.
O casal Lucrécia Cumba e Luiz Revez, presentes no 1º ENCONTRO DE EX-ATLETAS DO PARQUE JOSÉ CABRAL – ATLETISMO, realizado em Lisboa no dia 7 de abril de 2012.
A sua morte, há uns anos, foi um choque brutal, para quem com ele privou. Um exemplo de vida cheio de amor e dedicação ao próximo!
Renato Caldeira – 19.04.2021
7 Comentários
Ana Maria Teixeira Nogueira
Uma linda e merecida homenagem! Parabéns ao autor.
Conheci o Luís Revez e a Lucrécia na Câmara Municipal de Lourenço Marques. Bons velhos tempos. Excelentes pessoas.
As minhas saudações á Lucrécia e ao Luís.
JM Ribeiro-Canotilho
As minhas sinceras lamentações a todos pela partida do Nosso Admirado Treinador Luis Revez, do qual só soube agora, por esta justíssima homenagem. Treinei “nos Princípios dos anos sessenta ” com ele, tanto no Parque José Cabral, como no Sporting, em Lourenço Marques. Era um técnico muito competente e uma pessoa sui generis. Só Deus o pode recompensar no ” assento etéreo “, como escreveu Luiz de Camões. ” Outros “, inconscientemente, estragaram tudo e a todos com a interrupção deste são convívio e de toda a forma disfrutado, Até Sempre Luís Revez !
Lucrécia e Luís Filipe
Amigo Renato,
Esta grande homenagem é uma excelente oportunidade para reviver e relembrar aquilo que o nosso grande homem representou e ainda nos representa. A verdadeira riqueza não consiste dos bens materiais que acumulamos no decurso das nossas vidas, mas sim da bondade do nosso coração, na pureza das nossas ações, na firmeza das nossas convicções e na paixão com que abraçámos a vida. Ficamos muito sensibilizados e lhe agradecemos bastante, bem como a todos que manifestaram o seu carinho nos comentários. Um bem-haja a todos!
Manuel Martins Terra
Conheci também Luís Revez, uma excelente pessoa, que era funcionário da Câmara Municipal e que participava sempre no Torneio Municipal de Futebol, sob a égide da edilidade laurentina. A sua carreira no Atletismo, fala por si e chegando mesmo ao cargo de selecionador provincial. Foi também jornalista, rubricando crónicas sobre a modalidade . Renato Caldeira, conhecendo-o como ninguém, tributou-lhe esta homenagem, expressa nas suas sentidas palavras. Cumprimentos muitos especiais para a grande Lucrécia Cumba e a todos os seus familiares. Que repouse em paz, no reino do Céu.
Francisco De Freitas
Desde Moçambique que conheci o LUÍS REVEZ, E A LUCRÉCIA, no SCLM, eu jogava basquetebol e quantas vezes aí com os do atletismo vazer os treino com o MISTER REVEZ, Quis o destino ter como Vizinho este GRANDE CASAL, de atetas mais o seu filho LUÍS, Boa recordação, ABRAÇO
José Rodrigues
Conhec,i era eu miúdo ,o sr Luis Revez e a campeonissima Lucrécia Cumba, pois eram ambos funcionários da Câmara Municipal onde também os meus pais trabalhavam.
Excelentes pessoas e sempre com uma palavra carinhosa para com os miudos que iam á Câmara Municipal ter com os pais.
Ainda nos encontramos por diversas vezes em Santo António dos Cavaleiros.
Paz á sua alma e um beijinho á Lucrécia.
José Miguel Rodrigues
Fernando Lima
Boa memoria Renato. Eu tambem por la’ andei porque o pessoal da J. Serrao achou ” piada” dar umas voltas na pista que circundava o campo de futebol do Sporting. O Daniel Martins foi o mais persistente. Se a memoria nao me falha, o Jose’ Russel tambem participou nos treinos.
PS: Vi hoje no JOGO que o Jose’ Perides, meu treinador de futebol nos infantis da Academica, completou 86 anos. Bela idade. Um amigo para sempre das conversas interminaveis no Tico-Tico.