Mugôa meio–campista de luxo “parido” na terra do côco
Se alguém fosse a Quelimane nos finais da década 60 e perguntasse por Carlos Frechauth, pouca gente o (re)conheceria. Tudo mudaria de figura, se mencionasse o nome Mugôa, na terra das alcunhas. Estou a falar de um excelente médio de ataque do Sporting e da Selecção de zambeziana desse tempo.
Mugôa, foi um médio pensador, que não precisava de despender muita energia para chegar ao esférico e colocá-lo onde entendesse. Foi um dos melhores meio-campistas “paridos” na capital do côco, tendo feito parte de uma equipa de luxo do Sporting zambeziano, onde pontificavam estrelas que nunca mais sairão da retina de quem os viu jogar. Exemplos? Reis, Mico Viana, Rui Serrano, Brito (irmão do Mugôa), Zeca Santos…
COLEGA E AMIGO NA MENINICE
Recuemos ao ano de 1962. Eu e o Mugôa, vizinhos no Bairro da Sinacura, com 15 anos. Muito futebol em terrenos baldios, próprios da meninice, com bola de trapos, entre Maquival e Quelimane. Ao fim da tarde, havia quase todos dias futebol de salão no campo do Sporting. Um bate-sai, que durava horas, após o cumprimento das obrigações escolares.
O Mugôa, penúltimo entre vários manos era, claramente, a estrela da companhia. O seu carácter? Simplicidade em pessoa, “amigão’ de todas as horas. Feliz, ou infelizmente, tive que sair então da minha querida Zambézia, rumo a Lourenço Marques, por decisão dos meus pais. Levei Quelimane no coração.
Anos depois, a minha veia jornalística obrigava-me a informar-me dos meus companheiros das peladas zambezianas e, com grande alegria, soube que a estrela que foi colega da minha meninice, era um titular indiscutível, da Selecção na terra em que ambos nascemos.
Mugôa percorreu num ápice o escalão júnior dos leões zambezianos,
foi titularíssimo da Selecção Provincial e só não foi mais longe, devido ao receio da sua mãe – a Dona Eufigénia – que se bateu para que o filho não acedesse aos repetidos convites de equipas laurentinas e portuguesas por alturas de 1967, com destaque para o Vitória de Guimarães.
Estudante exemplar, amigo dos seus amigos, o Carlos Frechauth, não denotava grandes ambições. Lourenço Marques não o seduzia, Portugal era assunto entregue aos progenitores. Entretanto, sentia-se feliz por brilhar ao lado das maiores estrelas zambezianas.
Quantos golos os avançados comemoraram, graças aos lançamentos milimétricos desta estrela? Inclusive, o seu mano-mais novo, o Brito, chegou a ser visto como um “mameiro”, graças as passes do Mugôa. Se tivesse seguido as “pegadas” de Joaquim João, Tayobe, Fernando Duarte, Humberto Nazaré e outros, certamente outro galo cantaria.
Actualmente, vive hoje pacatamente da sua reforma em Lisboa – do lado de lá do Rio Tejo – pouco falante e pouco falado, apesar de ter sido protagonista de uma história futebolística digna de ser (re)conhecida.
As fotos, são o testemunho do que aqui dizemos.
Ano de 1966 – Seniores do Sporting C. Quelimane
Em cima: Zeca Campos, Pegado, Areias, Arménio, João Frechaut , Faquir e Facha.
Em baixo: Candeias, Perdiz, Omargy, Reis, Mário Rui, Vieira, Alcochete e Sousa.
Nos meus registos, no coração e na alma, ficam para a eternidade, os momentos irrepetíveis que partilhámos na infância, com as futeboladas na Sinacura, Torrone, Cololo e outros saudosos lugares da linda Zambézia, antes de eu ter “emigrado” para a então LM, com cerca de 15 anitos.
Renato Caldeira – Abril de 2022
10 Comentários
Filipe
Fico feliz em saber um pouco de como ele era quando jovem.
Renato Caldeira
Com todo esse conhecimento dos Frechauts, teremos certamente cruzado caminhos na nossa bela meninice. Obrigado pela correcção, mas faltou mencionar o mano mais velho Adriano (conhecido por Makuassa), que faleceu na Maxixe. “Oh tempo, volta pra trás”…
Victorino
Só uma pequena correção, na ultima fotografia do ano de 1967 do Sporting de Quelimane, equipe de seniores entre o Arménio e o Faquir, está o João Frechaut, (irmão mais velho do Mugöa), mas na foto está como se fosse o Mugöa, eles eram 4 irmãos: João, Abílio (já falecido em Portugal na Moita/Seixal), o Mugöa que vive na Moita, e o o mais novo Brito e tinham uma irmã a Elizabete, (também já falecida em Portugal). Sou amigo de infância destas pessoas todas aqui mencionadas. Gente da nossa terra Quelimane.
BigSlam
Caro Victorino, grato pelo esclarecimento. A correção já está efetuada.
Se tiver fotos destes tempos e que queira partilhar com o BigSlam, agradeço o envio para o endereço de email: geral@bigslam.pt
Grato pela colaboração. Aquele abraço.
Fernando Perpétuo
Estou nas primeiras quatro fotos a contar de cima.
Na seleção da Zambézia estou do lado drt. do Mugôa A foto de 1967 é sim de 1966 e o Frechaut que está na foto não é o Mugôa mas sim um irmão mais velho.
BigSlam
Obrigado Fernando Perpétuo pela informação. A correção já está efetuada.
Se tiver fotos destes tempos e que queira partilhar com o BigSlam, agradeço o envio para o endereço de email: geral@bigslam.pt
Grato pela colaboração. Aquele abraço.
Manuel Martins Terra
Uma narrativa do Renato Caldeira, que ilustra bem os grandes futebolistas que emergiam das “Academias de Bairro”, que fizeram furor no futebol moçambicano e depois na Metrópole. Quelimane, não foi excepção e efetivamente também lá despontaram grandes jogadores, tais como o clã João, o Tayob, Fernando Duarte, e creio também o Hernâni. Parabéns, Renato por esta evocação.
Luiz Branco
É bom ter quem se lembre dos outros.
Augusto Rodrigues
Antigos companheiros do Sporting de Quelimane anos1969/1970 (campeões da Zambézia) como Humberto Nazaré, Rui Serrano ,Reis etc. Um abraço Augusto Rodrigues.
BigSlam
Caro Augusto Rodrigues, se tiver fotos destes tempos e que queira partilhar com o BigSlam, agradeço o envio para o endereço de email: geral@bigslam.pt
Grato desde já pela sua colaboração.
Aquele abraço.