Para grandes males… pequenos remendos!
O futebol moçambicano, cuja história apontava para ser um dos maiores patrimónios do país e de África, agora sofre face pelo estatuto de menoridade a que foi relegado. Da Independência aos tempos de hoje, cometeram-se grandes males. Agora, com realismo e empenho de alguns, está-se numa fase de pequenos remendos.
NÚMEROS NÃO MENTEM
A leitura dos “rankings” internacionais não mentem, ilustrando uma realidade, pois já estivemos na posição 66, em 1966 do ranking mundial e agora “vagueamos” entre o 114 e 119.
Principais erros?
A invasão do cimento aos espaços onde a miudagem se iniciava e “apaixonava” pela recreação desportiva, pelos dos mercados informais, conhecidos por “dumba-nengues”, foi um dos primeiros “culpados” do abulicismo em que a maioria da juventude vive hoje.
Também, de forma desordenada, veio o cimento tomar conta dos espaços citadinos, de tal forma, que nem as varandas escaparam à voracidade de construir, construir, construir e… construir!
O facto de até mesmo o Ministério dos Desportos, entre outros, terem construídos nos espaços em que “residia” o ginásio de Maputo, é elucidativo.
O Circuito António Repinga que, aparentemente havia escapado à anexação geral na zona, dia-a-dia, vai sumindo, para dar lugar ao parque de estacionamento!!!
AI QUE SAUDADES!!!
No Maputo, havia o clube Central, que se movimentava no futebol da II Divisão. Dele já não reza a história. O mesmo aconteceu ao Alto Maé, que possuía uma sede no bairro que lhe deu o nome.
Uma entre várias interrogações: o que é feito do Atlético Nacional, Ferroviário das Mahotas, Belenenses, Beira-Mar, Rodoviário, Vasco da Gama, Aeroporto, Caju Industrial, Metal Box, Alumínios, Atlético Mahometano, S. José, Nova Aliança, Gazense, Águia D´Ouro, Inhambanense, Nacional Africano, João Albasini, IMA, Texlom, Zixaxa e outros, que em regra dependiam das quotas e empenho dos sócios?
Como excepção, ainda resiste o Munhuanense Azar, como autêntico “avis-rara”!
E se tivermos em conta que estes e outros clubes movimentavam juvenis, juniores e reservas, facilmente se pode calcular as razões pelas quais o campo de recrutamento se reduziu drasticamente, obrigando Moçambique a recorrer aos países vizinhos, tanto para o Moçambola como para os Mambas, de onde vêm jogadores caros, mas de qualidade duvidosa.
E como se isso não bastasse, os poucos recintos que “sobreviveram” à invasão, são frequentemente ocupados por cerimónias religiosas, políticas e espectáculos musicais. O futebol da miudagem que espere!
E AGORA?
No pós-Independência, o Estado decretou um “não” às transferências dos atletas para outras latitudes. Craques de craveira passaram ao lado de grandes carreiras, deixando de motivar as novas gerações. Foi um erro histórico que acabou sendo corrigido, depois de (re)conhecido, mas em que muitos factores motivadores… já eram!
Para quem, como eu, viveu e sentiu, na alma e no coração um tempo em que os “Geny(os) Catamos e Reinildos Mandavas apareciam às catadupas, custa engolir o que o cimento desordenado provocou na desmotivação da juventude, na só na capital, mas em toda uma nação!
Foram grandes os males que os pequenos remédios hoje tentam disfarçar!
Lado positivo? Poucos, mas bons – os recintos do Black Bulls,
da ENH
e da União Desportiva do Songo
e o programa do elenco da actual Federação, que tenta bloquear os espaços que escaparam à invasão.
Termino com uma proposta:
Que tal…
Demolição dos prédios que “roubaram” espaços, para os devolver aos legítimos donos, ajudando Moçambique a “acertar o passo” com a África e o Mundo, de forma a que o desporto volte a encorajar a juventude a tirar proveito do “tónico” ímpar para a saúde e prestígio do país, que é o desporto?
4 Comentários
nino uhetto
Olà, aqui estou , mas para qué ?? ha quem tenha esperanças, OK! muito bem, enquanto ha esperança hà vida (nào para todos). pois os que lutam em geral morrem… ora o provébio diz. “” é melhor um cào vivo que um leào morto””. O que esperam de Moçambique ??? Eu sou ou realista ou péssimista..NADA… o Paiis esta cagrenado e quando esta cangrenado so se espera a morte total.. Todos voces sabem o que se passou… agora aqui na Europa vejam o que se esta a passar com os emigrantes, Vejam !!! e é se sabem o que se passa na Inglaterra, jà nào digo em Portugal ,pois é ainda o começo. Agora esperare algo de bom em Moç. ? L.marques (Maputo) ??? O Governo està vendido,( a grandes deste mundo) e nào se pode voltar atraz…bom que Deus vos oiça… Um abraço
2luisbatalau@gmail.com
AFINAL A INDEPEDÊNCIA CONDUZIU MOÇAMBIQUE AO CAOS QUASE TODAS AS VERTENTES. QUE LÁSTIMA!
A MINHA TERRA RICA EM QUASE TUDO, TORNOU-SE NO 7º PAÍS MAIS POBRE DO MUNDO. A CORRUPÇÃO, A VIGARICE E A INCOMPETÊNCIA TOMARAM CONTA DE TUDO.
KANIMAMBO
Samuel Carvalho
Kanimambo, Renato!
Que bela e necessária reflexão! O teu texto é uma viagem lúcida e, ao mesmo tempo, dolorosa pelas transformações que o desporto moçambicano e em especial o futebol sofreu ao longo das últimas décadas.
As tuas palavras fazem eco em todos os que viveram a efervescência dos tempos em que os bairros pulsavam com campos, clubes e miúdos descalços a sonhar com a bola. O “cimento desordenado” que tomou conta dos espaços de recreação é, talvez, a metáfora mais perfeita da forma como se abafou uma geração de talentos e de sonhos.
Ainda assim, como bem dizes, há sinais de esperança nos “pequenos remendos” projetos que resistem, clubes que renascem, e vozes como a tua que continuam a recordar que o desporto é parte da identidade e do coração de Moçambique.
Que este artigo inspire consciências e recorde a todos que o verdadeiro património de um país não se ergue apenas em betão, mas nas pessoas, nos valores e nas paixões que unem uma nação.
BigSlam
Como o “cimento desordenado” abafou gerações de talentos e sonhos.
Que o desporto volte a ocupar o seu justo lugar no coração de Moçambique.