A erótica da novidade no ensino básico nacional
Há uma erótica do novo, o antigo é sempre suspeito”
(Roland Barthes)
Publicava, dias atrás, o “Correio da Manhã”, e outros jornais diários, em primeira página (04/11/2019), que “os chumbos poupam ao Estado 5 mil euros por aluno do ensino básico”, assistindo-se, assim, à genuflexão do Ministério de Educação ao trono do Rei Midas, medida criticada, com ácida ironia, por Derek Bok, antigo reitor da Universidade de Harvard: “Se acha que o ensino é caro experimente a ignorância”. Eis portanto a ignorância oficializada!
Aliás vem de longe. Neste país há o costume de dar passos maiores do que as pernas com a pressa de fazer experiências pedagógicas sem avaliar as consequências. Por ter sido dito por Mark Twain, com delicioso espírito, que “a profecia é algo muito difícil, especialmente em relação ao futuro”, atrevo-me a registar, tão-só, o presente, sem me abalizar a profetizar o quer que seja.
A seguir a cada eleição o Governo empossado, ainda que da mesma área política do precedente, apressa-se a tirar da cartola um coelho, de experiências pedagógicas, ontem glorificadas, hoje nas ruas da amargura, à imagem do feiticeiro de OZ alternando o seu poder com a mistificação de qualidades só aparentes, num país em que a mediocridade é a lei, como escreveu o falecido João Lobo Antunes, profundo conhecedor da vida académica universitária lusitana e norte-americana.
Mas o grave é termos pedagogos entronizados em estereótipos de dados estatísticos de países em que o sucesso educativo atinge os melhores índices, sem ter em linha de conta a advertência de Agostinho da Silva: “A única salvação do que é diferente é ser diferente até ao fim com todo o valor, todo o vigor e toda a impassibilidade”.
E deste modo descuram-se programas escolares desajustados, turmas com alunos excessivo, a preparação dos professores do básico do 1.º ano ao 9º, com excepção do ciclo inicial, ter diminuído de uma licenciatura universitária para diplomas de escolas politécnicas, por vezes nascidas em privatizações de vão de escada, etc.
Vezes sem conta, em artigos de opinião, tenho-me insurgido contra a extinção das antigas escolas técnicas que preparavam os alunos, para um saber de teórico-prático, umas vezes, por opção própria, outras, por questões económicas. Por outro lado, uma falsa democratização do ensino liceal gerou cábulas em frágeis caboucos de uma cúpula que desabava ao mínimo abalo de exigência do ensino universitário.
Desse ensino técnico não sobrou pedra sobre pedra, apenas construções actuais de adobe de ausência de um corpo de professores especializados, de antigos mestres de oficinas bem apetrechadas. Esta minha crítica não tem encontrado acolhimento em fronteiras nacionais – é bem certo que poucos conseguem ser profetas na sua própria terra -, todavia teve ela repercussão, altamente positiva, em extensas citações por parte de renomados académicos brasileiros, como dei conta em dois artigos de opinião publicados neste jornal: “O ensino técnico luso-brasileiro” (25/10/2019) e “Ainda o ensino técnico em terras de Santa Cruz) 28/10/2019).
“Last but not least”, pondo o carro à frente dos bois, por dados estatísticos ainda por trabalhar, as agressões selváticas (que, de quando em vez, levam as vítimas a serem assistidas nos hospitais) de alunos aos professores, ou vice-versa, ou entre os próprios alunos, são menorizadas pelo Governo e pelo Conselho Nacional de Educação. Haja, no mínimo dos mínimos, bom senso!
5 Comentários
Maria Cirne
Caro Prof. Rui Batista, estou a realizar uma pequena investigação histórica que julgo poder estar relacionado com o avô J. Pereira da Silva. Como não tenho outra forma, peço-lhe a gentileza de me enviar um contacto de email para poder contactar o Sr. Prof. Agradeço a sua atenção.
ruivbaptista@sapo.pt
Só hoje tomei conhecimento deste seu comentário. O meu mail: ruivbaptista@sapo.pt. Aguardo notícias. Cumprimentos cordiais e gratos.
Rui Baptista
Faz bem ao ego, num sistema educativo em convulsão em que a escola se transformou num verdadeiro campo de batalha de energúmenos (sem generalizar por as generalizações serem perigosas por pagar, por vezes, o justo pelo injusto!), a minha escrita ter eco positivo em quem lê as minhas críticas amargas como o fel. Aliás, encontro inspiração para elas na genialidade de Eça de Queiroz, meu escritor de mesinha de cabeceira de noites insones, que viu na velha estupidez humana cabeça de touro que farpeou nas suas crónicas “As Farpas”. Falta-me o génio – ainda de simples de anão, perante um vulto gigante – sobra-me a admiração por um dos maiores vultos da literatura portuguesa. Um abraço grato.
Rui Baptista
Este meu comentário é em resposta ao comentário de Silvino Costa
Silvino Costa
Excelente apresentação do estado caótico do ensino em Portugal. Pessoalmente continuo a ser de opinião de que o anterior sistema era de longe superior e mais produtivo do que o que o ilustre professor Veiga Simão conseguiu fosse adoptado em Portugal.