Quem dá e tira ao inferno vai parar”
(provérbio).
Respondo ao comentário reprovativo de João Santos Costa ao tratamento dado pela ADSE a anteriores cônjuges de seus beneficiários.
Ou seja, como se fossem gafos, expulsos da “polis”, segundo Aristóteles, comunidade ordenada tendo em vista a felicidade dos cidadãos, através de uma visão ética da política, ao ao inverso de determinados políticos portugueses ambiciosos para quem os fins justificam os meios mesmo que seja discutível a sua legitimidade. Colho mero exemplo, no Decreto-Lei 118/83, Secção III, pondo 2, que passo a transcrever: “A inscrição na ADSE destes familiares só será viável desde que provem não beneficiar de qualquer outro regime de protecção social e enquanto se mantiver esta situação”.
Desta forma, retorcida de encarar os antigos familiares em piruetas de retroactividade das leis mandando para o cesto de papéis, o que estava em uso, de há dezenas de anos para cá, ademais numa altura em que se “discute a morte assistida”, assiste-se a uma espécie de “morte desassistida” de idosos lançados, de uma hora para a outra, para um Serviço Nacional de Saúde já a rebentar pelas costuras, pese embora o brio profissional de médicos e enfermeiros ao seu serviço em contantes manifestações de descontentamento.
Este Decreto-Lei foi partejado durante o VIII Governo Constitucional, tutelado pelo PSD e reanimado em cuidados intensivos que remontam de 83 aos nossos dias, em incubadora do Partido Socialista. Sem discutir a intenção social(ista), em procura de votos favoráveis a futuras eleições que se avizinham, pelo alargamento de beneficiário de titulares de uniões de facto, dando a uns para tirar a casados pelo civil, expulsos do seu seio, discuto a orientação dada a esta medida feita por parte de merceeiros de bairro entusiasmados com aquilo que consideram uma espécie de “milagre das rosas” .Ou seja, dinheiro obtido alegremente com essas novas inscrições sem tomar em linha de conta o défice de uma ADSE com o aumento de despesas maiores em cuidados de saúde não orçamentados e previstos devidamente conduzindo, a breve prazo, à respectiva falência. Como nos ensina a “vox populi”, é preferível prever a prevenir.
Julgo haver toda a conveniência em ser conhecido publicamente o que pensam desta situação o Bloco de Esquerda, o Partido Comunista e os Verdes e no, espectro político oposto, o CDS, com exclusão, evidentemente, do PSD e PS responsáveis pela paternidade conjunta deste aborto legislativo. A própria opinião pública mantém um ruído ensurdecedor, como sói dizer-se, sobre este assunto de elevado interesse social e humanitário, com a honrosa ressalva de uma recente “Petição Pública” que não encontrou eco para ser discutida numa Assembleia da República, ainda que com o perigoso respaldado de votos maioritários da apelidada (com ironia cáustica de Vasco Pulido Valente) de “Geringonça”.
Em última “ratio”, faço votos para que o novo presidente da ADSE, que aguarda nomeação, não siga as pisadas de Carlos Liberato Baptista, presidente demissionário, porque “tudo o que sucede, sucede por alguma razão” (Gabriel Garcia Marquez). Atrevo-me a pensar que o que fez foi por não capacidade para fazer melhor ou por se ter deixado encadear pelo poder do cargo desempenhado qual borboleta atraída por uma lâmpada eléctrica sendo por ela queimada. Isto na melhor e mais benevolente acepção crítica!
2 Comentários
Matias Ferreira
Sr Professor Rui Baptista é sempre com prazer que leio os seus escritos clamando por justiça . Mas a memória atraiçoa-nos, por vezes, e nós esquecemos-nos do que já se passou à nossa volta e o caso da ADSE é simplesmente a confirmação de tudo que nos vem acontecendo desde há mais de 40 anos e seja da esquerda ou da direita:
1-as reformas não tiveram aumentos porque não há dinheiro mas os deputados têm aumentos todos os anos;
2-enquanto há países que querem instituir, sem grandes resultados,os cuidados de saúde do Estado para toda a gente, aqui estão , os nossos (?) governos de todas as origens a privatizar os serviços de saúde e a empurrarem o Zé Povinho para os seguros de saúde afim de alimentarem os hospitais privados;
3-é verdade que não há dinheiro mas ele aparece, por esforço do cidadão, para pagar as trafulhices permitidas pelos governos na Banca, algumas até com informação deturpada vinda do alto da hierarquia do estado; também existe para as reformas chorudas de administradores da CGD que lá estiveram pouco tempo e recebem incomensuravelmente valores escandalosos;
4- todo cidadão vai de modo próprio para o seu posto de trabalho, os deputados, mesmo os que vivem em Cascais, têm susidio ou lá o que lhe chamam , de deslocação ;
5 – os casos dos Bancos ainda não têm nenhum culpado preso! Nos Estados Unidos foram para a cadeia em menos de um ano. Mas quando se trata de alguém sem o poder ou apoio do sistema isso é prisão na certa : ver o caso da velhota que roubou um chocolate num super mercado ;
E para terminar meu querido Professor deixo-lhe o conteúdo de uma propaganda que vi nos anos 78 ou 80 com o qual , embora não esteja de acordo com o seu conteúdo por ser aberrante , é-nos transmitida a realidade que infelizmente continua a existir:
” Os pobres que paguem a crise!
Porquê?
Porque são mais e… já estão habituados”
Um grande abraço Sr Professor Rui Baptista e boa continuação na luta pela justiça .
Rui Baptista
Meu prezado Matias Ferreira: Só hoje, por um feliz acaso (verdadeiramente feliz porque reconfortante) tomei conhecimento deste seu comentário em que com bisturi nas mãos de hábil cirurgião escalpeliza o que está a passar neste pobre País de politiqueiros (o que será feito dos seus políticos mais interessados em servir o país do que dele se servirem?). Nesta altura, ocorrem-me palavras atribuídas a Álvaro Vaz de Almada no final da batalha de Alfarrobeira: “É fartar vilanagem!” Não me refiro à falta de anéis de brasão nos dedos, mas à falta de nobreza de sentimentos de alguns dos nossos políticos para quem a saúde e a vida humana valem nada de nada! Um abraço de profunda e eterna gratidão.