A minha fórmula 1
Desde os meus 9 anitos que gosto de corridas de automóveis. Com essa idade também já fui um campeão de fórmula 1. Os meus adversário eram temíveis e dignos de respeito, a saber:
O Bilito, o Zé Carlos, o meu irmão, o Talinho, o Nélito, o Carlitos e o Gina. A nossa pista não tinha mais de 3 metros de comprimento e cerca de 30 centímetros de largura. Era o passeio no fim da Avª Anchieta (por detrás da escola João Belo) até à Avª Caldas Xavier, na antiga cidade de Lourenço Marques. Os nossos “bólides” eram produzidos todos na mesma fábrica, a “Dinky Toys”.
O seu preço para as nossas posses era uma fortuna! – 20 escudos cada um. As marcas preferidas eram: Alfa Romeo, Maserati, Talbot, Vanwall, Lótus, BRM, Cooper, e como não podia deixar de ser, o meu Ferrari! Preparado com todo o carinho, com os eixos oleados com óleo da máquina de costura da minha mãe. Escusado será dizer que nem sempre ganhava, e quase sempre aconteciam acidentes “não muito graves”! Ou carro se despistava e ia para a estrada; ou então caía no buraco das árvores. A nossa técnica consistia em ver quem tinha melhor jeito de colocar os dedos das mãos em cima dos “bólides”, para depois o empurrar. Ganhava a corrida quem percorresse a pista em ida e volta e chegasse em primeiro ao ponto de partida.
A partir daqui ficou-me o gosto pelos automóveis e não havia corrida em Lourenço Marques a que eu como espectador faltasse! Primeiro nas provas realizadas na Avª da República, onde para fugir ao pagamento das entradas íamos em grupo pelas barreiras, tentando iludir a polícia a cavalo.
Ainda tenho em memória o acidente na curva da rua do Zâmbi ao pé do edifício da Fazenda, que vitimou o piloto sul africano Joe Akoft (não sei se é assim que se escreve).
Mais tarde as provas passaram a ser realizadas no autódromo da “Costa do Sol”,
de tão má memória 1971 ou 72, (a memória às vezes falha) com mais um despiste colhendo alguns espectadores.
Mesmo assim, também não falhava a uma!
Foi por tudo isto que sempre gostei da fórmula 1.
Esta é a verdadeira corrida da tua vida Schumi (1)
Desde princípios de 1975 até hoje, tive/tenho o gosto de poder assistir em directo através da RTP a todos os grandes prémios. Assisti com alguma mágua à “longa travessia” que a minha Ferrari fez desde o tempo do piloto sul africano Jody Scheckter, ao ganhar alguns grandes prémios.
Em 1991 apareceu um jovem na equipa Jordan, que não angariava simpatias, nem de colegas, e muito menos de espectadores! Para nós, não passava de mais um!
Pela sua postura em pista, na maneira como abordava as curvas, na perícia utilizada nas ultrapassagens e pela sua destreza, logo se viu que afinal este, não era mais um! Este, tinha a “tarimba” toda e tratava as pistas por tu! Tinha começado nos Kart´s, passou pelo DTM, fórmula Ford, fórmula 3 e finalmente a fórmula 1.
Da Jordan, passou para a Benetton onde passado pouco tempo foi campeão do mundo. Em 1996 assinou contrato com a escuderia Ferrari, onde nos 15 anos anteriores nenhum piloto tinha sido campeão do mundo. Aí ganhou tudo que havia para ganhar! Quem não se lembra das voltas mais rápidas, das suas pole positions, dos grandes prémios conquistados, das saídas dos últimos lugares da grelha de partida ou das boxes e mesmo assim chegava ao fim da corrida em primeiro lugar!….. Foi sem dúvida o maior e melhor piloto de fórmula 1 de todos os tempos, ultrapassando o até então, Juan Manuel Fângio.
Era do carro, dizia o meu amigo Alberto! Também. Só que o carro não anda sozinho, tinha de ter alguém com mãos, destreza e perícia que soubesse conduzi-lo!
Convém aqui referir o seu lado humano de que ele sempre evita falar. Como embaixador da UNESCO, e ao longo da sua vida tem doado dezenas de milhões de dólares para obras de caridade; e tal como Airton Sena, também tem a expensas suas todas as despesas de um orfanato.
Ironia do destino! Um homem que conduziu bólides a mais de 300 km/hora, encontra-se entre a vida e a morte ao dar uma queda a menos de 100 km/hora.
O seu nome:
(1)-Michael Schumacher, para os amigos Schumi.
Não gostam dele? Eu a princípio também não, mas tive de me render às evidências!
Obrigado pelas alegrias que nos ofereceste, Schumi!
Não te esqueças, campeão! Acelerador a fundo, porque esta é que é a verdadeira corrida que tens de vencer!
Quero agradecer ao nosso “Ponto de Encontro – Bigslam” na pessoa do Samuel, por se ter prontificado publicar e colocar as fotos que ilustram este artigo.
Um grande abraço, e um 2014 cheio de alegrias para todos.
Para nós com o Bigslam, o mundo já é pequeno!
João Santos Costa