ALIJAR A CARGA
Estolano não quis acreditar no que via. Nas imagens que as televisões locais lhe mostraram naquela quinta feira, dia 17 de Setembro. Imagens dum sismo que se abateu sobre a pista de tartan do nosso Parque dos Continuadores. Pista que a nossa “menina de ouro” ofereceu a Moçambique, dando assim a sua modesta quota-parte de contribuição para o surgimento de outros campeões moçambicanos.
Na altura, o falecido Artur Canana, então Edil de Maputo e Joel Libombo, Ministro da Juventude e Desportos “criaram” o circuito António Repinga (tão maltratado nos dias de hoje) como forma de poupar o Parque dos Continuadores de uso exagerado de citadinos, de manhã e de tarde, que a este recinto recorriam para manutenção física e de lazer.
Só de pensar que por ali passaram campeões do nosso atletismo e chegar à conclusão que dali não vai, talvez, sair mais nenhum medalhado, mete pena. É uma dor de alma, que ninguém pode imaginar.
Agora, para mal de muitos pecados, dali, daquele degradado parque desportivo, vamos fabricar campeões do frango assado, do fogão a carvão ou da música pandza
e do triste comércio meretrício protagonizado, a partir do cair da noite até o sol raiar, por algumas das nossas jovens mais fracas de moral e vazias de bolso.Foi para isso aliás que este complexo desportivo, que foi orgulho de muitos atletas, dirigentes desportivos e amantes do atletismo, serviu, infelizmente, nos últimos tempos.
Aquilo que Estolano viu vem provar que há por aí muita gente apostada em destruir. Este é, aliás, o verbo mais conjugado nestes 40 anos deste Moçambique Independente.
Agora que o caldo está entornado (e Nyussi foi testemunha desse derrame) aparecem estes parasitas, muito ao estilo lambebotismo, a elogiar a decisão do nosso Presidente da República ter lá estado e ter verificado com os seus próprios olhos, o estado de destruição daquilo que devia ser um dos nossos emblemas desportivos.
(Foto de Luís Muianga)
Agora choram sobre o leite derramado e bem ao estilo das carpideiras, vão deitando uma lágrima furtiva só para convencer meia dúzia de papalvos. Lágrimas de crocodilo.
No seu estilo diferente de ofensiva política e organizacional, Nyussi vai metendo o nariz onde muito boa gente que o rodeia devia ter metido antes. Porque é para isso que lá estão. São pagos para fazer isso. Mas não fazem. Deixam-se ficar no comodismo dos seus gabinetes de trabalho. O importante, para esse tipo de dirigentes, é empurrar o lixo para debaixo do tapete.
Mas o Governo não pode alijar esta carga, porque afinal foi ele mesmo que permitiu que o Parque dos Continuadores esteja como está.
João de Sousa – 23.09.2015