FRASES DO FUTEBOL
Quem lê regularmente as crónicas que o “Correio da Manhã” publica todas as quartas feiras, apercebe-se certamente que ao longo deste mês todos os meus escritos estão relacionados directa ou indirectamente com este campeonato do mundo de futebol que termina daqui a 4 dias. Para não fugir à regra hoje vou debruçar-me sobre as “frases do futebol”. Foram frases que fui ouvindo, ao longo destes anos, ditas por relatores desportivos em plena narração dum jogo de futebol e que fiz questão de ir registando no meu bloco de notas.
Muitos dos que em Moçambique (particularmente na RM) produzem informação desportiva conhecem estas frases, porque elas serviram por duas vezes para “ilustrar” cursos realizados pela nossa estação pública de radiodifusão.
A propósito destas “frases do futebol” estou a recordar-me de interessantes observações, algumas das quais faço questão de transcrever com a devida vénia, feitas por um profissional da RDP, de seu nome Hélder Conduto,
que esteve em Maputo para ministrar um curso aos profissionais de informação desportiva da Rádio Moçambique e com quem eu tive o prazer de conversar sobre estas matérias. Um curso que, segundo ele próprio afirmou com toda a simplicidade que o caracteriza, “constituiu uma oportunidade para o diálogo e partilha de conceitos entre profissionais de informação desportiva”.
Ao ler os considerandos deixados por Hélder Conduto depois do curso que veio ministrar, conjugados com os apontamentos que fui colocando no meu bloco de notas ao longo da minha vida radiofónica ligada a transmissões desportivas, dei conta dum pormenor que me tinha passado despercebido. No futebol, bastas vezes usa-se a linguagem militar. Utilizam-se palavras como “batalha”, “guerra” ou “defesa blindada”.
No rol de frases do futebol ditas por relatores desportivos existem aquelas que se prendem com a falta de rigor, provocada por previsões falhadas. Uma delas (perigosa por sinal) que se ouve com muita frequência nos relatos da rádio é esta: “vai ser golo, vai ser golo, não foi, a bola passou ao lado”.
Muitos dos meus colegas ainda não se aperceberam certamente que “o relator funciona como os olhos do ouvinte”, porque no relato as cores, os sons e os cheiros são palavras. Daí a necessidade de um constante apelo à criatividade e improviso. Hoje, ao ouvir um relato dou conta que muitos relatores desportivos gritam sem necessidade nenhuma. Elevam o tom de voz. Entram num tom agudo. Em suma: esganiçam. E quando assim acontece, perdem o controlo da própria voz. Há os que relatam com uma velocidade tal, superior à velocidade do próprio jogo. Há quem se dê ao luxo de utilizar palavras ou frases complexas que só são entendidas por um reduzido número de ouvintes, em detrimento das palavras correntes que são assimiladas por quase toda a gente. Muitos relatores desportivos (sejam eles de cá ou de outro lugar qualquer) ainda não entenderam que é preciso simplificar a linguagem e não complicar. “O jogador sofreu uma mialgia de esforço” em vez de “o jogador sofreu uma lesão muscular”. Simplificar sem cair no calão, na linguagem de quintal ou de café.
Outras frases que bastas vezes se ouvem nos relatos de futebol não passam, de “clichés”. São exemplo disso “quem não marca arrisca-se a perder” ou então “vai em busca do prejuízo”. Há ainda o caso dos pleonasmo como por exemplo “a bola sai para fora”. Se sai é para fora.
Mas, pior do que isso, como diz o meu bom e velho amigo Francisco Velasco,
essa glória do hóquei em patins de Moçambique e do Mundo, “é quando esses comentadores explicam o que se passa dentro do campo com aqueles códigos tácticos e esotéricos: – 4-3-3… 5-3-2… 5-4-1… quando toda a gente, pelo menos eu, só vejo a “molecada” (alguns com capacidade e habilidades incríveis), a rasteirar, pisar, cotovelar, abraçar, fingir e já agora morder, numa movimentação que mais parecem moléculas a colidir umas com as outras” .
Isto para além duma frase célebre, que é várias vezes utilizada pelos relatores desportivos, lembrada pelo meu amigo José Russell,
companheiro dos bons e velhos tempos do basquetebol do Malhangalene: “rematou com o pé que tinha mais à mão”.
João de Sousa – 09.07.2014