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De tão mal falar e escrever português, o nosso futuro começa a ficar hipotecado. A semana passada um amigo chamava a minha atenção para o que acontecia dentro da “minha” própria casa. Numa plataforma digital colocavam-se fotos de colegas meus com a seguinte legenda: “proficionais” da Rádio Moçambique em Manica.
É caso para dizer que nos meus domínios, as coisas vão de mal a pior. E alguns desses “proficionais” que aparecem nessas imagens, são jornalistas. Nem sequer foram capazes de chamar a atenção ao autor do título, para o erro que estava a ser cometido.
Do Ministério da Educação vem outra argolada. Num documento oficial distribuído aos alunos e a que eu tive acesso, vem escrita a palavra “profissição”. Gralha ou falta de conhecimento de como se escreve a palavra “profissão”? Se foi gralha pergunto: e o revisor? Que é feito dele?O último Boletim da Frelimo traz, numa das suas páginas um “resumo seminal (em vez de semanal) da Província de Tete”. Na ficha técnica até aparece o nome do revisor, que por razões óbvias faço questão de não mencionar. Um revisor que, pelos vistos, não revê.
Duma escola da cidade de Maputo, uma nota dirigida aos pais e encarregados de educação dava conta que a escola não é apenas “um lugar para a prender”, em vez de aprender.
Fico-me por estes exemplos (há muitos mais), porque não quero agredir ainda mais a nossa língua oficial.
Há tempos houve um enorme burburinho por causa de exames anulados da décima segunda classe por confirmação de fraude académica em 9 escolas, 11 disciplinas e 5 províncias. E logo de seguida veio a decisão: ”tolerância zero”. A língua portuguesa era uma das disciplinas de exame. Um velho problema sem solução.
Não bastam os discursos. Há que encontrar formas de debelar o problema, porque afinal, o que se assiste hoje é aquilo que aconteceu ontem e que muito provavelmente vai continuar a acontecer amanhã.
A anulação provocou barulho. Os visados não concordam com a decisão porque provavelmente alguns (muito poucos, diga-se) terão sido prejudicados. Mas que fazer? Nestes processos, as coisas funcionam assim.
O Ministério da Educação está apostado em cortar o mal pela raiz. E ainda bem que assim é. Em matéria de conhecimento não deve haver contemplações. Não podemos permitir que se faça o elogio ao analfabetismo e à mediocridade. Mas como? Com que medidas? Há que fechar este túnel sob o risco de estarmos a dotar esta geração de conhecimentos que ela não tem. Lamentavelmente o importante não é saber. O importante é ter o “canudo”. No nosso País, passar de classe sem estudar parece ter virado norma.
Para fechar este conjunto de atropelos à língua portuguesa, por mim registados ao longo dos últimos dias, devo dizer-vos que fiquei surpreendido com um anúncio de uma das nossas Universidades (infelizmente estes estabelecimentos de Ensino Superior nascem por aí como cogumelos) transmitido por um dos canais de televisão, sobre admissão de alunos e que dizia assim: “Inscreva-te agora e consigas um desconto na primeira propina.”
Português por onde andas?
Bendito o José Maria Relvas.
Bendita a minha quarta classe.
João de Sousa – 09.12.2015