Luis Pina: Um autentico “Sr. Basquetebol!” – Por Alexandre Ribeiro Franco
A poucos dias de termos o Luís Pina com 84 anos de idade (13 de Janeiro de 2013) preparámos este trabalho com um prazer extraordinário, pois estamos a dizer ao gigantesco mundo de seguidores do BigSlam, que não deve perder pitada desta entrevista, pois trata-se de um Sr. Basquetebol, único na sua forma de estar neste planeta.
Os nossos melhores amigos são pessoas que de algum modo estiveram ligados ao Basquetebol moçambicano. Ainda há tempos estive a conversar com o Mário Machado, outro senhor que “invadiu” (e conquistou) Moçambique, vindo do seu Sport Lisboa e Benfica, para ali (em Moçambique) criar raízes. Ferroviário do Mário Machado e muito Ferroviário de Luis Pina, mas vamos já abrir o “livro” que titulámos “Sr. Basquetebol, Luís Pina!”.
Gente Boa. Perdemo-nos entre tantos nomes inesquecíveis e embora correndo o risco de ferirmos susceptibilidades, arriscamos. Do Ferroviário, para além do entrevistado, tantos outros, Costa Pereira, Adam Ribeiro, Labistour Alves, Ip Chiu Ah, Sousita (Carlos Sousa),Alberto Rodrigues, Mário Machado, Samuel Carvalho, António Almeida, George Sing, Alberto Jorge, José Sepodes, António Azevedo, “Casquinha” José da Costa, Armindo Costa, Leonel Velasco, Valdemar Freitas, Kakoobai, Jorge Gassin. Do Desportivo: Carlos Alemão, Becas (Eduardo Branco), Varito (Álvaro Santos), Pedro Santos, Manuel e Chico (irmãos), Manuel Lima, Paulo Carvalho, Nuno Narcy, José Arruda, João Vicente “Pinduca”, Carlos Ko, Armando Lobo. Do Sporting: Octávio Bagueiro (um dos génios), Edmundo “Bebé” Carreira (que o Luis Pina recorda que foi do Desportivo para o Sporting), Carlos Braga, Assis Carvalho, José Gomes, Octávio de Sá e o irmão Marcelo de Sá, Claudino Ribeiro, Hélder Silva (pai), Mário Albuquerque, Nelson Serra, Rui Pinheiro, Luis de Almeida, Sérgio Carvalho, Vítor Morgado, Jorge Carmo, Mário Martins, Rui Carvalho, Mora Ramos, Tomané Ruas Alves, Jorge Taborda, João Romão, Belmiro Simango, e os mais jovens que também foram jogadores importantes na estrutura leonina, como Luis Dionísio, Luis Fernandes, os irmãos Carlos e José Jóia, o Hélder Silva (filho), o Marques, o Mário Lopes, o Artur Meirim e o Rogério Machado, Mário Martins (filho do Mário Martins defesa direito da equipa de futebol do Sporting, não confundir com o outro Mário Martins), o Manuel Santiago, Tam Ling… E tantos outros, da Académica, do Malhangalene, do Benfica, do Atlético, etc. etc. e que nos perdoem os que sem qualquer intenção omitimos.
Mas o fulcro desta questão é Luis Pina, o Sr. Basquetebol. Jogador, árbitro, treinador, jornalista. Um amigo com quem vivemos histórias inesquecíveis, como o nosso encontro em Barcelona, em 1973 para o Eurobasket 73, mas vamos deixar que seja ele a contar.
Começamos pelo BI:
Nome: Luis Armando Martins da Silva Pina.
Data de nascimento: 13 de Janeiro de 1929.
Local de nascimento: Lourenço Marques.
Filho de: Atilío João Martins da Silva Pina
e de Raquel Pronto Martins.
Pai nascido em Lourenço Marques e mãe em Lisboa.
Vivi até aos 46 anos em Lourenço Marques.
Frequentei a escola Ferreira da Silva e Liceu Salazar.
Ainda antes de termos vindo a este mundo, já Luis Pina era um jovem a dar os seus primeiros passos no basquetebol moçambicano…
“No princípio de 1943 eu e o Juca (Júlio Cernadas Pereira), por coincidência nascido no mesmo dia que eu, assistimos a um treino no Sporting, o treinador chamava-se Jaime Caldas, e perguntámos se também podíamos experimentar. Assim começou. E, juntos jogámos nos infantis, juniores e seniores desde 1943 a 1949, e futebol em juniores e seniores de 1945 a 1950. Interessante salientar que sempre que havia jogos particulares, tanto em Lourenço Marques como em Joanesburgo (África do Sul), seja em basquetebol ou em futebol, embora ainda fossemos juniores nas duas modalidades éramos escolhidos para sermos integrados nas respectivas equipas como suplentes.
O “osso” da minha carreira foi nos primeiros dois jogos que fiz nos infantis ficamos a “zero”, pois perdemos por 14-0 e 8-0.
Andei toda a vida a tentar ganhar um jogo também a zero, mas nunca o consegui, tendo estado perto por três vezes, em situações giras:
A primeira, num jogo contra o Malhangalene, em juniores perto do fim vencíamos por 40-0 e um dos meus adversários que era “vesgo” (olhos tortos) parecia que estava a olhar para o outro lado e não me preocupei em marcá-lo e o lançamento entrou, acabando o jogo com 45-2.
A segunda, foi pelo Ferroviário, fomos jogar ao norte a convite do Lumbo,
separados por uma ponte da Ilha de Moçambique, com quem havia uma grande rivalidade. Primeiro ganhámos ao nosso anfitrião por 95-4 e eles pediram-nos para ver se contra os rivais conseguiríamos uma diferença maior. Quando entrámos em campo havia uma banda a acompanhar o jogo e logo no início o nosso adversário marcou um cesto e a banda tocou entusiasmada, mas foi a única vez, pois o resultado foi 100-2!
Os do Lumbo ofereceram-nos um jantar de lagostas gigantes…
A terceira, no encontro em que eu bati o recorde Português, num jogo de seniores, de que mais abaixo falo, o marcador acabou com 220… a 2!”
Vamos então aos títulos…
“Com a camisola do Sporting fui campeão em infantis, juniores e seniores (nesta com uma célebre equipa constituída por mim, Elidío Alves, Octávio Bagueiro, Carlos Braga, Assis de Carvalho, José Gomes, Juca, José Ferreira e João Ribeiro), da qual eu sou o único vivo, tendo aparecido mais tarde o Adam Ribeiro, Bebé Carreira, Octávio Sá e Claudino Ribeiro.
No princípio da época de 1949, no primeiro jogo da temporada perdemos e na chegada ao balneário, o Capitão Carlos Braga culpou-me da derrota, querendo deitar-me abaixo pois estava a começar a ser suplente devido ao meu valor e ao do Juca.
Os colegas embora soubessem que ele não tinha razão não me defenderam e eu disse que não jogava mais, o que ninguém acreditou, por eu ser um “doente” pelo clube e julgaram que eu não aguentaria o resto da época na bancada, pois já tinha actuado oficialmente no primeiro jogo.
Quando viram que eu não mudava de decisão vieram-me pedir para mudar de ideias e pedirem desculpa de não me terem defendido contra o Carlos Braga.
Mantive-me intransigente e o José Lopes, na altura, treinador do Desportivo (filial do Benfica de Lisboa), clube este de que o meu pai era director e chegou a ser número 1, veio pedir-me para ir para lá e podia começar a treinar, o que eu não aceitei.
Decidi ir ao Ferroviário onde o Tenente Coronel Alfredo Neves (uma lenda do basquetebol Português) era o treinador e pedi para começar a treinar lá e ele autorizou mas, como pensava que eu o fazia só temporariamente, pois ninguém acreditava que eu não voltasse ao Sporting e ficasse um ano sem jogar, mandou dar-me para o treino um equipamento velho, com calções muito usados.
Um mês depois convenceu-se e como ia haver uma digressão do Ferroviário a Durban (na África do Sul) integrou-me e ofereceu-me uns calções de cetim.
Entretanto o Bebé Carreira, no Desportivo, também se zangou e foi para o Sporting e o Adam Ribeiro, do Sporting, idem, e foi para o Desportivo.
Como os três clubes estavam em situação idêntica houve um acordo e nós os três pudemos actuar nessa época em jogos particulares e deslocações dos respectivos novos clubes.No Ferroviário atingi o máximo da minha carreira embora nunca tivéssemos sido campeões, algumas vezes devido a arbitragens facciosas…
Fui sempre seleccionado para representar Lourenço Marques e convocado para a selecção nacional, representação que foi entregue a Moçambique com Alfredo Neves como seleccionador nacional, para irmos ao Campeonato da Europa, a realizar em Istambul.
Depois de muitos treinos acabámos por não ir por falta de verba das entidades oficiais!
No entanto realizou-se os que foram denominados I Jogos Internacionais do Indico, em Madagáscar,
e eu e o António Fonseca, também do Ferroviário, estivemos presentes e ficámos em segundo lugar, atrás da França.
Ano 1952 – Seniores “Selecção L. Marques em Madagáscar”
Em cima: Luis Pina, António Fonseca, Mário, Adam Ribeiro, Francisco Marques, Alfredo Cardoso (Treinador).
Em baixo: Hélder Silva, Américo Silva, Octávio Bagueiro, Tavares Rocha, Braga.
Quando da deslocação em 1952, pela primeira vez, de três equipas de Lourenço Marques a Portugal, numa noite em que além de nós actuaram também no Pavilhão dos Desportos o Sporting, Benfica e Atlético, os baluartes da modalidade em Lisboa, o jornal A Bola considerou-me o melhor jogador da jornada.
Representei o Sporting Clube de Portugal em 1951 (o Juca tinha vindo no ano anterior para o futebol e desafiou-me) e eu como empregado bancário tinha direito a férias com viagens pagas e estada de três meses, cá apareci, acabando também por jogar voleibol pelo Sporting.
Fui o primeiro jogador ultramarino a vir para Portugal.
Como o director da minha entidade patronal era “ferrenho” dos “leões” acabou por conseguir que as ditas férias se prolongassem por cinco meses.
Em 1957 voltei a Portugal e actuei novamente pelo Sporting de Lisboa.
Caso curioso, em 1951 quando eu apareci no Passadiço, perto do Coliseu dos Recreios, e fiz o primeiro treino, o Sporting quis logo inscrever-me, pois havia um jogo importante e faltavam 48 horas. A pressa foi tal que embora tivéssemos ganho com uma grande exibição minha – que mereceu uma entrevista no jornal “A Bola”, de quase uma página – acabámos por apanhar uma derrota, pois eu fui mal inscrito com a falta da declaração na respectiva ficha do “elemento a utilizar no Campeonato Nacional”. Foi tamanha a pressa de me segurarem, pois a Académica tinha actuado pouco tempo antes em Lourenço Marques e quando soube que eu cheguei a Portugal, tentou convencer-me a ir para Coimbra.
Além do Sporting de Lourenço Marques e de Lisboa e do Ferroviário acabei a minha carreira de jogador no Malhangalene de Lourenço Marques, com 31 anos, em 1960, embora a imprensa tivesse escrito que eu ainda era o melhor jogador moçambicano e na despedida tivesse sido o melhor em campo…”
Luis, como é a história do recorde de pontos num só jogo?
“Em relação ao jogo em que bati o recorde Nacional de uma equipa sénior, e que hoje se mantêm, julgo que em 1958, com 115 pontos, e que se realizou no campo do Desportivo contra o 1º. De Maio, eu era treinador jogador do Ferroviário e decidi actuar num jogo de segundas categorias. A equipa adversária era composta por principiantes e eu como treinador, mas a jogar, estabeleci o “sistema” de que a bola era de preferência passada a mim… senão… fazia substituições. Como todos queriam era jogar, o sistema não falhou! O Mário Albuquerque teve de se “contentar” com a medalha de prata. Quando ele já ia, salvo erro, nos 94 pontos, já tinha batido o Mário Machado (outra Grande figura do basquetebol português, penso que marcou 90 pontos também num jogo).
Nesse jogo eu era o treinador e deu-me a “impressão” que ele estava a ficar “cansado”, substitui-o, tanto mais que o campeonato era longo e eu tinha que zelar pelos seus esforços, poupando-o na sua condição física…
Talvez o culpado fosse o meu pai, pois ele sempre disse “Quem parte e reparte e não fica com a melhor parte ou é burro ou não tem arte” (ai Scolari… tu bem dizes Então!?… Eu é que sou burro?).”
Qual a melhor recordação?
“Como jogador talvez a que me deu mais gozo foi a seguinte:
– A selecção de Lourenço Marques foi jogar à África do Sul e o seleccionador Alberto Correia Mendes não me convocou, embora eu fosse titular do Ferroviário sem nunca ser substituído, levando no entanto três jogadores da minha equipa. Reflexos de algumas “gracinhas” entre nós dois, provocadas no entender dele por arbitragens e no meu, pela sua maneira de ser como treinador. Lourenço Marques ganhou em Joanesburgo salvo erro, por 33-26. A África do Sul retribuiu a visita e ele manteve a sua equipa.
Então eu pedi à Associação de Basquetebol que se realizasse mais um jogo nessa altura com os visitantes a defrontarem a Selecção B, escolhida e treinada por mim e ainda também comigo como jogador. Aceitei o programa, como eu era jornalista e escrevia para o Noticias da Tarde, afirmei que a minha equipa ganharia pelo menos por mais um ponto que a Selecção A, que tinha feito uma exibição muito boa e ganho por 49 pontos de diferença. No dia do jogo da equipa B eu escrevi no jornal que embora parecesse impossível iríamos vencer pelo menos por mais um ponto que a A, ou seja, por 50 pontos (evidentemente que eu não pensava que isso fosse possível). Porém faltavam 3 segundos para acabar e tínhamos 48 pontos de vantagem com a bola a ser reposta por nós a meio campo. Pedi ao meu colega da equipa que me a entregasse (julgo que foi um dos irmãos Américo ou Armando) e ao recebe-la fiz um dos lançamentos que me era habitual do meio campo e quando a “redonda” ia no ar a mesa apitou no momento em que ela caiu dentro do cesto, a cumprir a minha promessa. Foi a única vez na minha carreira que os meus colegas me pegaram ao colo (bem nessa altura eu era magro).”
Também existiu uma questão relacionada com” lances-livres”?
“É ainda relacionada com o Mário Albuquerque. Lembro-me que teve “espírito” de vingança. Na minha carreira de jogador eu tinha feito, num treino, um total de 49 lances livres seguidos transformados, concentrado, como o Sousita ainda há pouco tempo para aqui escreveu, sempre com o dedo indicador no “pipo” da bola. Pois o Mário certo dia, num treino afirmou: Vou bater o recorde pessoal do Luís Pina! E não é que teve a “gracinha” de fazer 50! Entusiasmado parou para me “gozar” e não continuou. Qual seria esse recorde se não tivesse parado?”
E, como treinador, qual foi o trajecto?
“Comecei a ser treinador nos juniores do 1º de Maio, quando jogador do Ferroviário em 1953 (tinha 24 anos).
Aconteceu que no Último jogo do campeonato o Ferroviário se ganhasse era campeão e o 1º de Maio estava no meio da tabela.
A brincar perguntei ao Luís Jardim, que estava ligado ao Ferroviário, se queria que mandasse a equipa que eu treinava perder, para terem o título e ele respondeu: – deves estar a gozar, ganha se fores capaz! Eu tinha na equipa um jovem que acabou por se tornar um grande jogador – o Ip Chiu Ah – e eu disse-lhe: Se jogares bem pago-te “matinés” (cinemas) durante um mês com scones e chocolate ao intervalo. Á custa dele ganhámos… Tive de cumprir a promessa! Fui chamado à Direcção do clube por ter contribuído por ficarem sem o título e quiseram dar-me uma reprimenda ao que eu respondi: É simples, mudo de clube como jogador. Não preciso de vocês, pois nem sou funcionário dos Caminhos de Ferro (que o Ferroviário representava)! Como eu era a estrela da equipa mudaram logo e pediram-me então que treinasse os juniores do clube. Assim fiz e no primeiro ano conquistei o meu primeiro título de campeão como treinador.
Nesta actividade treinei o Ferroviário,
Malhangalene, 1º de Maio, Alto Maé, Naturais de Moçambique, Atlético, Sporting de Lourenço Marques e antes de vir para Portugal, o Desportivo.
Com títulos de campeão conquistados em diversos campeonatos de primeiras categorias e fomos Campeões Nacionais de Portugal por duas vezes. Fui seleccionador Nacional de Portugal nos primeiros jogos Multirraciais que se realizaram na África do Sul em 1973, representação entregue a Moçambique, tendo-se conquistado a medalha de prata (2º lugar) só atrás dos Estados Unidos da América, e à frente de outras potências que estiveram presentes.
Época 1972/73- Seniores – Selecção Nacional Portugal
“Selecção Nacional nos I Jogos Multirraciais da R.S.A.”
Em cima: C1? (Dirigente), George Sing, Rui Pinheiro, Samuel Carvalho, Mário Albuquerque, Eustácio Dias, José Sepodes, Victor Morgado, Luis Pina (Treinador).
Em baixo: Mário Machado, João Donato, Luis Almeida, Nelson Serra, Alberto Santos.
Nessa altura o Presidente da Federação era Máximo Couto e na representação do atletismo o outro título ganho por Portugal foi alcançado pelo Fernando Mamede.
Quando parti para Portugal, ao mesmo tempo que a avalanche de jogadores que revolucionaram o basquetebol português, tive convites de alguns clubes principais, mas como eu nunca quis ser profissional não aceitei.
Houve então um torneio em Joanesburgo a “convidados” e eu fui com o Mário Albuquerque, Rui Pinheiro, Nelson Serra e que se integraram com outros que viviam em Joanesburgo – Carlos Serra, Celso Carvalho, etc. – e uma das equipas que foi convidada foi o Clube TAP Air Portugal.
Regressados ao Continente (Lisboa) e após o convívio, representantes da equipa “aérea” vieram-me convidar para seu treinador e após me aperceber que eram malta fixe com quem adorava conviver, que fazia muitas viagens, o que eu sempre gostei, e a prova é que eu, por duas vezes, fui no mesmo ano duas vezes aos cinco continentes (em muitas viagens particularmente com a minha mulher Raquel) –, aceitei mas declarando que não queria ser remunerado pois nunca na minha vida desportiva – nem como jogador, nem como árbitro ou treinador – tinha beneficiado de qualquer pagamento. Na altura propuseram-me que eu teria então uma viagem anual, acompanhado pela minha mulher, para onde a TAP voasse e eu quisesse ir. E já vamos em 31 anos que estou a dirigir a equipa… tendo gozado apenas metade da oferta.
Acho que “correspondi” pois o clube TAP, que disputa os Campeonatos Europeus e Mundiais de linhas aéreas, durante a minha colaboração já conquistou quatro títulos de campeão da Europa e um Mundial disputado em Splitz – Jugoslávia, contra América, Rússia, Jugoslávia, França, Itália, Espanha, Austrália e outras potências,
TAP AIR PORTUGAL campeão mundial em Splitz – Jugoslávia
Luis Pina sinaliza o titulo conquistado pela TAP AIR PORTUGAL no I Campeonato Mundial de Companhias Aéreas – Splitz (Ex-Jugoslávia) – 17 a 20 de Maio 1990.
assim como um título de campeão do INATEL (prova que se disputa todos os anos).
Também ajudei a formar uma equipa que disputou provas federadas ficando Campeão Nacional da 3ª. Divisão e conquistando um 4º lugar na 2ª. Divisão, durante o breve tempo que existiu. Colaborei e dirigi a equipa em torneios realizados em Lourenço Marques (Moçambique), África do Sul, Rio de Janeiro, Guiné-bissau, Cabo Verde, Madeira e Açores, sempre com grande impacto nas Comunidades Portuguesas e muito nas televisões locais, com transmissões integrais para a TAP.”
Outras recordações?
“Já fui agraciado pela Federação Portuguesa de Basquetebol como Sócio de Mérito e sempre que há eventos organizados por esta, quando de finais de campeonatos ou Taças de Portugal, sou convidado a dirigir a equipa formada pelas “Velhas” Glórias. Sempre gostei de ser treinador – se tal não fosse não estava a sê-lo desde 1953 – já lá vão 60 anos! Haverá alguém no Mundo que aos 84 anos ainda seja treinador e esteja ligado ao basquetebol há 71 anos, sem nunca ter recebido um tostão? Evidentemente que ser orientador me dá muito mais prazer pois as “nuances” do jogo proporcionam situações muito mais empolgantes e a terem de ser resolvidas em fracções mínimas de tempo.”
Finais empolgantes?
“A melhor foi numa fase final em Lourenço Marques, em que o Sporting e a Académica decidiam entre si quem vinha a Portugal disputar o título de Campeão Nacional. Após o primeiro jogo, que ganhámos por 64-62, tínhamos o segundo jogo 72 horas depois e eu alertei a Associação de Basquetebol que o regulamento metropolitano para este caso exigia um terceiro jogo em caso de empate.
O Professor Teotónio de Lima – sem dúvida o melhor técnico Português de sempre -, na altura treinador da Académica, opôs-se dizendo que teria de haver “cesto-average”, virando-se para mim e ameaçando: Perca por um ponto se for capaz, já que ganhou por dois!
Faltavam menos de 30 segundos para acabar e perdíamos por 99-95, com os “estudantes” a acenarem com lenços a despedirem-se de nós, e a bola vai fora e era da Académica, mas o árbitro, Freitas Branco (depois baptizado de Freitas Verde) disse que era nossa e rapidamente, enquanto o adversário discordava pusemos em jogo e fizemos 99-97.
Como estávamos empatados no “cesto-average” total – dois pontos para cada lado – a Académica de posse da bola tenta o cesto mas falha e nós fazemos o contra ataque e, debaixo do cesto, quando o Nelson ia a lançar sofre uma falta com dois lançamentos.
Avisei o Nelson que não podia falhar o primeiro e ele respondeu-me que não falhava os dois para no prolongamento ganharmos. Faltavam três segundos… Assim foi pois ele transformou o primeiro a dar os 99-98. Com um ambiente infernal pedi um minuto e calmamente instrui: Nelson falhas o lançamento e se a bola for para as mãos do John Hucks (um gigante que eu tinha na equipa de 2,13 metros)
este segura no ar e não faz o ressalto. Assim aconteceu e eu limitei-me a dizer ao Professor: – Perde por um ponto se for capaz!!!!! Olhe eu mando-lhe um postal de Lisboa!
Até porque no prolongamento os dois pontos podiam não chegar!
Chegados a Lisboa nos cumprimentos ao Presidente da Federação, na altura o Máximo Couto, ele perguntou-me quais tinham sido os resultados do apuramento final e quando eu disse que ganhámos um jogo por dois pontos e perdemos outro por um, afirmou: – e o desempate? Não sabem ler o regulamento que diz que tinha de haver um terceiro jogo? Eram estas decisões que faziam a diferença de ser treinador ou orientador.”
E a derrota frente ao Benfica de Lourenço Marques?
“Quanto a esse jogo que fizemos com o Benfica de Lourenço Marques, de quem o treinador era o Alexandre Franco (o entrevistador), sportinguista e bom amigo, devem de o ter enganado pois eu não tinha a presunção de quando o defrontámos de chegar aos 100 pontos pois eles tinham um senhor jogador chamado Mhalon Sanders
Mhalon Sanders e Mário Albuquerque, momentos inolvidáveis…
que fez com que a sua equipa ganhasse, com uma exibição memorável, salvo erro por 66-62 e quase 60 pontos de sua autoria, com uma intervenção genial do “coach” a instruir os outros jogadores da equipa a que sempre que tivessem a bola só a podiam passar ao “prodígio” Americano (À Pina…). Foi mais uma prova de que ser orientador dá mais prazer que ser treinador.”
E eis que nos debruçamos sobre a acção como árbitro…
“Como Árbitro tenho a recordação máxima de ter apitado em Lourenço Marques um Real Madrid – Standard de Liége da Bélgica.
Numa final de um grande e muito competitivo prélio, com os jogadores de ambas as equipas a cumprimentarem-nos (julgo que o meu colega era o Adriano Morgado, com quem tive os melhores momentos da minha carreira). Orgulho-me de ter um palmarés de seis presenças consecutivas nas finas de seis campeonatos Nacionais da 1ª Divisão (duas em Lourenço Marques, duas em Lisboa e duas em Luanda – aqui um celebre jogo do Benfica de Luanda e Sporting de Lourenço Marques, onde os “angolanos” conquistaram o único título nacional da sua carreira).
Quando regressei a casa olhavam-me de lado por não ter dado um “jeito”. Não tenho culpa de ser daltónico… Também apitei as finais de uma Taça de Portugal, realizada no Fundão.”
Recordamos a altura em que devido à falta de árbitros, as mesmas foram entregues a jogadores, com Octávio Bagueiro a “vingar-se” de uma arbitragem tendenciosa, avisando que a equipa desse determinado Árbitro (o Desportivo) ia perder sem motivo para protesto… Assinalando passos sempre que os jogadores do Desportivo pegavam na bola.
“Quanto às arbitragens de elementos em actividade como jogadores, é verdade que existiram muitos casos a merecerem ser assinalados. Assim se passou com o Bagueiro, mas depois do Sotero e o Marques terem feito o que motivou o “Manolete” (Bagueiro), a “vingar-se”!”.
E como jornalista?
“Como jornalista tive o meu auge aconteceu quando fui o primeiro a ser enviado aos jogos Olímpicos de Munique, em 1972.
Também fui aos jogos Olímpicos do México (1968), Montreal (1976) e Moscovo (1980).”
E recordámos o Eurobasket 73…
“O nosso encontro no Eurobasket 73, de Barcelona, tão inesquecível pois foi a única prova da modalidade (sem contar os jogos Olímpicos) a que assisti, com muito interesse e curiosidade.”
Ainda como jornalista…
“Com o pseudónimo de SAM LUPI, colaborei com o jornal Noticias, Noticias da Tarde, Guardião e Diário de Lourenço Marques, além de correspondente de Moçambique para o jornal de Angola, de Moçamedes, chamado Namibe Desportivo. Como comentador desportivo nas Produções Golo, do Rádio Clube de Moçambique, de que era proprietário um dos grandes amigos da minha vida e companheiro em equipas do Ferroviário e Sporting de Lourenço Marques, felizmente ainda vivo e quase Único das “lendas” do meu tempo. Evidentemente que foi um prazer alinhar numa equipa que contava com o João Sousa e o Alexandre Franco, neste “metier” muito mais consagrados e competentes que eu.”
E o mito de “Se o Luis Pina se atirar de um décimo andar, atira-te atrás dele, pois ele vai ganhar dinheiro!”…
“É verdade! Por coincidência em Lourenço Marques sempre residi em vivendas, o máximo de 2 andares. Cheguei a ser apelidado do “Rei do Cajú” uma vez que depois de ter estado em comissão de serviço pela parte da minha entidade patronal – o Banco Nacional Ultramarino – na Cajú Industrial durante 12 anos, quando regressei, passei cumulativamente a explorar o negócio em nome do meu “padrasto”, conseguindo a exclusividade de revenda a todos os comerciantes interessados, e que eram muitos, devido aos turistas sul-africanos, aos milhares, passarem férias em Lourenço Marques só para irem à praia, comerem mariscos e levarem, como recordação, as latas de cajus que adoravam e eram as melhores prendas que podiam levar aos amigos.
Acontece que quando vim para Portugal, após a descolonizarão – deixando lá tudo quanto tinha – apresentei-me no Banco que tinha cá a sua Sede – com os meus 46 anos de idade, categoria de chefe de serviços, e com 40 anos de contagem de serviço (entrei ao serviço com 16 anos de idade, trabalhei 30 e tinha direito a uma contagem do Ultramar de 1/3, o que já dava direito a uma reforma por inteiro, mas só possível por motivos de saúde graves, antes dos 65 anos de idade).
Entretanto queriam que eu fosse trabalhar como nível 8 (3º. escriturário) quando eu era nível 11 (chefe de serviços).
Disse que não trabalhava porque tinha uma doença e eles ao responderem que se só se eu fosse maluco, deram-me a sugestão certa.
Barbas crescidas, camisa preta, olhos e atitudes de maluco começaram a por os médicos às “aranhas”. Quando os encarei perguntei porque que eram “Gajas”, vestiam à homem, mas não tinham “mamas”. Bem me tentaram dar a volta, mas com a minha categoria de “artista”… Eles é que estavam a ficar malucos.
O culminar foi que numa última reunião esteve presente um representante negro, médico da Frelimo e eu que domino bem a língua nativa dele, comecei a dizer-lhe que queria ir para a cama com a mãe dele para fazer um filho mais bonito que ele e lhe disse determinados “piropos”, ele começou a agarrar-se aos outros médicos cheio de medo, dizendo que eu era um maluco perigoso,…. e reforma consumada!”
Mais recordes?
“Como sou um Homem de recordes, somo mais este: – trabalhei 30 anos no banco mas já tenho 37 de reforma…”
Banco Nacional Ultramarino de L. Marques, hoje Banco de Moçambique.
E sem que fosse preciso perguntar fosse o que fosse, o Luis prosseguiu…
“Acontece que em Portugal após uma passagem por Algés, mudei-me para a Portela de Sacavém para um… 10º andar (acontece que quando olhava lá para baixo pensava que maluco era quem pensava que havia negócio compensador com a ideia).
Há dez anos regressei novamente para a zona de Algés, mais precisamente a Miraflores e para outro 10º andar (só com a diferença de passar do esquerdo para o direito). Como nunca gostei de estar sem fazer nada – o que continua a ser uma realidade apesar dos meus 84 anos – e influenciado, talvez, das vossas ideias de que “sou um homem bem sucedido nos negócios”, algum tempo depois de me reformar montei um escritório de Transitário Marítimo com a minha filha Carla.
A ideia era tratar de organizar embarques de viaturas para a Madeira e Açores/Continente, destinadas aos concessionários de marcas, empresas de aluguer de automóveis, stands de particulares,
Além das inúmeras pessoas que para ali se deslocam, organizando toda a burocracia inerente e a assistência e recepção, controlo e o necessário no cais, até irem para o navio. Resultado: Nestes 30 anos de actividade arranjei um problema que me obriga a só poder ir às Ilhas disfarçado, pois os Madeirenses e Açorianos se me apanham dão-me uma sova, pois dizem que eu ando a afundar as ilhas com o peso dos carros. São uns exagerados pois ainda só se mandaram 95.000 carros para a Madeira e 55.000 para os Açores, fora autocarros, tractores, camiões e motas.”
Recordações basquetebolísticas em Portugal?
“Durante a minha carreira tive o privilégio de ter jogado, sido treinador e de ter tido a oportunidade de dirigir jogos particulares com a intervenção de quase todas as estrelas que vieram e estiveram no Ultramar, além de locais, nos festivais da Federação ou na colaboração que deram ao Clube TAP, onde também fiz muitas amizades e encontrei um dos meus melhores amigos, Fernandes, a quem agradeço pela sua sincera amizade.
Um momento à Luis Pina…!!!
São tantos os jogadores que tenho medo de esquecer alguém, mas sem dúvida que os principais, por tudo o que consegui em Portugal, foram o Mário Albuquerque, Rui Pinheiro e Samuel Carvalho, sem os quais nunca teria sido possível conquistar tantos títulos europeus e um mundial.”
E a fechar…
“Gostaria de deixar uma palavra de reconhecimento pelo que o trio maravilha (Samuel Carvalho, António Almeida e Luis Dionísio) nos proporcionou ao longo dos anos com a organização dos convívios na Figueira da Foz,
e de que sentimos tanta falta – bem como a oportunidade que o BigSlam do Samuel Carvalho nos concede para nos sentirmos felizes, pois “Recordar é Viver”!
A todos um abraço cheio de votos de felicidades.
Bom Ano 2013!”
E é assim que colocamos um ponto final nestas maravilhosas palavras de um verdadeiro Sr. Basquetebol – Luís Pina, a quem estamos certos os 84 anos que agora comemora são apenas o início de um resto de vida com ele a contribuir ainda muito para o Basquetebol português.
Obrigado, Luís Pina!
NÃO PERCAM ao longo deste mês e nesta mesma rubrica ENTREVISTAS/PERSONALIDADES/LUIS PINA, comentários de algumas figuras que conviveram de perto com Luis Pina “SR BASQUETEBOL”.
4 Comentários
Vera Aguiar
Parabéns ao meu grande bisavô pela sua carreira neste fabuloso desporto chamado basketball. Eu comecei a praticar basket este ano e tem vindo a ser uma experiência fantástica. Ter uma equipa que esta lá sempre nas vitórias e nas derrotas. No ano passado, o meu avô num jogo dos seniores, penso eu, jogou um período completo tendo 86 anos, Pode-se dizer que é uma lenda viva.
Um beijinho, Vera.
Samuel Carvalho
Caro Dave Adkins, depois de tantos anos passados e sendo tu de nacionalidade americana, foi com redobrado prazer que eu e o BigSlam registámos o teu comentário em relação ao Luis Pina! Trabalhaste três anos como treinador em Moçambique e vejo que aprendeste depressa e bem a língua portuguesa…Parabéns! Aparece sempre neste nosso “Ponto de Encontro”. Um abraço, Samuel.
carlos alemão
Grande Luis. Aqui deixo uma mensagem de parabens e que este dia se repita por muitos anos.Como sempre, grandes momentos e grandes histórias e recordações de um senhor, que com todo o respeito merece o título de Senhor Basquetebol. Bons momentos que passámos juntos, tanto em Moçambique como aqui em Portugal. Boas recordações do Clube Tap aonde eu também fui treinador e do qual só tenho bons amigos. Concordo com o Dave Adkins quando diz que no que se refere ao Basquete em L.Marques tem de se pensar sempre em Luis Pina. É claro que eu guardo algumas recordações quando tu apitavas os jogos do Desportivo e me lixavas sempre que podias. Tu sabes do que eu falo……. Um abraço deste amigo que sempre te recordará como um grande brincalhão e animador das férias que passámos juntos no Brasil.
Dave Adkins
Parabéns Luis Pina. Quando trabalhava como treinador em LM de 71 a 73, Luis esteve no seu “prime de vida” como treinador e funcionario del banco. . Quando se piensa de basquet em LM, se tem que pensar no Luis Pina. Ele contribiui muito ao progresso do esporte em Moçambique. Uma entrevista excelente (com fotos extraordinarias) pelo Sr. Franco. .