MÃO DE OBRA “LOW COST”
Foi louvável a atitude do Presidente da República ao felicitar o escritor Mia Couto pelo facto de ter sido indigitado finalista do prestigiado prémio “The Man Booker Prize for Fiction”.
Independentemente da mensagem este facto vem provar que Nyussi está atento ao que se passa à sua volta. E isso é bom. É importante. E outra coisa não seria de esperar.
Só não é bom saber que quem escreveu a mensagem denota deficiências no que a escrever português diz respeito. Lamentávelmente o presidente “embarcou” num texto cheio de deficiências no que a concordância gramatical diz respeito. Quero acreditar que a mensagem não foi tornada pública apenas nos meios de comunicação social. Provavelmente foi endereçada ao escritor Mia Couto em carta assinada. Se assim foi o Presidente colocou a sua assinatura num documento carregado de erros.
Eu devo dizer-vos que não tinha dado conta dos erros. Fui alertado para esse facto por um amigo, que ouviu pela primeira vez essa mensagem num dos boletins informativos da Rádio Moçambique. Esse mesmo amigo fez questão de me enviar o texto. Ao ler a mensagem dei conta dos atropelos cometidos. E comecei a perguntar a mim próprio, como é possível que estas coisas aconteçam ao nível duma Presidência da República?
A mensagem do presidente da república trata o Mia Couto por Senhor, depois trata por Tu e acaba tratando por Você.
Três formas de tratamento bem diferenciadas, num mesmo documento, o que leva a pensar (e porque não a ter a certeza) de que a conjugação verbal de modo imperativo é um bicho de sete cabeças para muito “escriba”. E isso incomoda muita gente, principalmente os que conhecem a gramática e fazem uso dela para escrever correctamente a nossa língua oficial.
Para quem não teve a oportunidade de ler a mensagem, transcrevo uma parte dela: “A presente nomeação é mais um reconhecimento internacional às tuas qualidades de grande escritor de dimensão mundial. O Prémio Camões 2013 que você conquistou veio lacrar o seu nome na lista de um dos maiores escritores da língua portuguesa”.
Nas redes sociais, por onde circulou esta mensagem, os comentários foram de apreço pelo facto do Presidente da República ter tido a iniciativa de felicitar Mia Couto, mas de grande preocupação pelo facto do mais alto magistrado da Nação estar rodeado de alguns colaboradores que ainda não sabem escrever correctamente a língua portuguesa, por sinal a nossa língua oficial.
Houve mesmo quem chegasse a dizer que todos estes atropelos são o resultado de contratação de mão de obra “low cost”. Professor Doutor Jorge Ferrão:
há que mandar esta gente para um curso de reciclagem.
PS: uma frase que li no jornal A VERDADE: “O golo do combinado nacional foi marcado por Salomão (a meias com Koyo).” Não sabia que agora se marcavam golos a meias. Inovação em Moçambique. Ainda vamos parar ao Guinness.
João de Sousa – 15.04.2015