MARIA LUÍS ALBUQUERQUE E A REFORMA DOS ACTUAIS PENSIONISTAS
Meu artigo de opinião saído hoje, dia 29 de Maio, no jornal Publico:
“O comércio e o crescimento económico associam-se com o mal e a infelicidade”.
Platão
Com a devida vénia, transcrevo da “Lusa” (24/05/2015) excertos de uma notícia que está a ser amplamente difundida nos noticiários televisivos da noite em que escrevo este texto. Rezam esses nacos de prosa:
“A ministra das Finanças, Maria Luís Albuquerque, afirmou no sábado à noite que é honesto dizer aos portugueses que vai ser preciso fazer alguma coisa sobre as pensões para garantir a sustentabilidade da Segurança Social’. Falando em Ovar, num evento organizado pela JSD local, Maria Luís Albuquerque admitiu a possibilidade de reduzir as pensões actuais, se isso significar uma melhor redistribuição social do esforço contributivo.
Se isso for uma distribuição mais equilibrada e razoável do esforço que tem de ser distribuído entre todos – actuais pensionistas, futuros pensionistas, jovens a chegar ao mercado de trabalho –, se essa for a solução que garante um melhor equilíbrio, é aí que nos devemos focar, disse”
Sem suporte académico que suporte a minha incursão no complexo e esotérico mundo dos cifrões – embora esse conhecimento não fosse, porventura, garantia suficiente tendo em vista o que se passa, por exemplo, com o debacle de alguns bancos portugueses sobre a supervisão de reputados académicos da ciência económica – começaria por alvitrar que se deixasse de recorrer aos fundos da Segurança Social para tapar buracos de outras rubricas deficitárias do Orçamento de Estado. Cada um pague pelas asneiras de que é responsável!
Quanto aos cortes nos actuais pensionistas, ou daqueles em vésperas de se reformarem, que depositaram nos cofres do Estado os devidos descontos carecem eles de justiça por falta de respeito por direitos adquiridos em leitura arrevesada que deles se fazem em função de interesses ocultos. Para utilizar uma linguagem do meio desportivo, tão ao gosto na boca dos políticos, as regras do jogo não devem mudar a meio do jogo. E, muito menos, se devem alterar os resultados do jogo com manobras de secretaria de equilíbrio orçamental.
Num tempo em que o Estado privatiza tudo que dá prejuízo (ou julga dar!), penso que o “negócio” das reformas não será tão deficitário que não interesse à banca dele se apropriar no todo ou em complemento de aposentações ainda a tempo de serem acauteladas num futuro que se apresenta mais negro que as asas do melro dos versos de Guerra Junqueiro.
Entretanto, os detentores da governação do país têm vendido grande parte do seu património imobiliário, acumulado ao longo dos anos, enquanto, em contrapartida, promovem e inauguram construções faraónicas em período pré-eleitoral (a carapuça tanto serve ao PSD como ao PS). E assim se cumpre o aforisma: “Vão-se os anéis, mas fiquem os dedos!”
E quando não houver mais anéis? Sobram dedos gangrenados pelos cortes das actuais pensões e pelo avanço da corrupção com os seus nefastos efeitos na economia nacional denunciados por Vasco Pulido Valente: “Talvez convenha perceber duas coisas sobre corrupção. Primeira, onde há poder há corrupção. E onde há pobreza há mais corrupção. Destes dois truísmos resulta necessariamente que quanto maior é o poder ou a pobreza maior é a corrupção”.
Ou seja, em verdadeiro atentado a uma justiça social, aumentar a pobreza com cortes das pensões da classe média (em vias de desaparecimento) é uma perigosa forma de aumentar as chorudas e duvidosas contas bancárias dos ricos e diminuir o pão de cada dia dos que o ganharam com o suor do rosto. Não haverá por aí uma alma caridosa social-democrata que explique isto à ministra Maria Luís Albuquerque?
4 Comentários
Ana Maria Teixeira Nogueira
Nuno Gomes – Novo Pensionista!
Não nos incomoda em nada os clubes que serviu, ou a própria pessoa, pois não é o único, mas sim a imoralidade.
Era bom saber quanto contribuiu para a segurança social e durante quanto tempo.
E também saber se está inválido para trabalhar.
Aos 34 anos de idade e com 16 anos como empregado do Benfica, Nuno Gomes acaba de requerer a Pensão a que tem direito, no valor mensal vitalício de 12.905 euros mensais. Contudo, um trabalhador normal tem de trabalhar até aos 65 anos e ter uma carreira contributiva completa durante 40 anos para obter uma reforma de 80% da remuneração média da sua carreira contributiva.
Isto é o cúmulo!!!! Se não nos indignarmos é porque não merecemos melhor. Está na hora de o povo português exigir alteração legislativa que ponham fim a estas obscenidades. E ainda falam dos pensionistas que trabalharam e descontaram durante mais de 40 anos de serviço!!! Estes exemplos apenas servem para demonstrar que uns são portugueses de 1.ª pois nem precisam de idade e tempo de serviço para se reformarem e depois o resto são os portugueses de 2.ª, 3.ª que são obrigados a tudo e mais alguma coisa e ainda por cima nos cortam com taxas… Digam lá somos ou não “ESCRAVOS”
Rui Baptista
E o ordenado que Jorge Jesus ganha comparado com os vencimentos auferidos, por exemplo, por professores catedráticos universitários? Ainda dizem que o futebol era o ópio do povo no Antigo Regime. E hoje?
Rui Baptista
Assim como há assessores de imagem que transfiguram para melhor os políticos, vestindo-os com fatos Hugo Boss e políticas com vestidos importados de Paris (honra seja feita a Maria Luís Albuquerque pela discreta maneira de vestir), não seria possível haver assessores de declarações públicas para evitar declarações que são verdadeiros tiros nos pés de quem as pronuncia?
Bem sei que numa altura pré-eleitoral ou mesmo eleitoral em que os políticos prometem mundos e fundos em namoro a possíveis votantes, a declaração pública de Maria Luís Albuquerque poderia assumir um grito de honestidade em avisar os portugueses do que faria no caso de voltar a ser ministra. Tudo bem, não se desse o caso de logo ter dado o dito por não dito. Ou seja, seguinte a metodologia de Maurice Tayllerand, político e diplomata francês do tempo de Napoleão, com rara habilitada em se manter no poder: [ A política] “ é a arte de estar contra, mas com uma habilidade tal que logo se possa estar a favor”.
Parafraseando o nosso imortal vate, mudam-se as conveniências, mudam-se os discursos! Será que nada aprendemos desde o tempo da nossa Epopeia Marítima “por mares nunca dantes navegados”?
Ana Maria Teixeira Nogueira
“Não haverá por aí uma alma caridosa social-democrata que explique isto à ministra Maria Luís Albuquerque?” Concordo com tudo menos com o último parágrafo. Esta senhora só tem que dizer e fazer os que as corporações a mandam fazer. Os portugueses entregaram a Soberania do Estado numa bandeja de ouro… Agora não adianta gemer…. As eleições estão próximas e o nosso povo tem 3 papelinhos num saco escuro (CDS,PSD e PS) o que sair é no que vota. É como se fosse um campeonato de futebol. E assim continua tudo igual, vira o disco e toca o mesmo. Não paramos, não meditamos, e não se analisa. Procurar informação nos meios de comunicação também não adianta porque tudo faz parte do jogo e a informação que interessa não passa nos nossos meios de comunicação. Já para não falar no “PAPÃO” que se não se votar nos partidos que estão na assembleia da república vamos todos morrer porque ficamos sem dinheiro, sem comida…blá, blá, blá. (conversa para escravos). E para a presidência da República vai ser igual o que melhor gemer será o próximo Presidente.
SÓ TEMOS O QUE MERECEMOS!