NARRATIVA?! A Lenda de Narciso!
O tempo não está para brincadeiras, como soi dizer-se!
Chuva, vento, trovoada, deslizamento, depressão, buraco, cheia, derrocada, atentado, terrorismo, sismo, …, mas a desesperança ainda não é titular!
As notícias são tantas e estonteantes, reproduzindo-se num turbilhão devastador, que nos aniquila, gelando a alma:
- Subsídios: => -Cortar!
- Direitos: => -Retalhar!
- Impostos: => -Subir!
- Estado: => -Reduzir!
- Governo: => -Trocar!
E assim passam os dias e as noites, e continuamos arrebanhados na confusão difusa da ditadura dos média:
- Competência? => -Esquecida!
- Mérito? => -Desaparecido!
- Portugal? => -Adormecido!
- Nação? => -Adiada!
Mas, há sempre o outro lado, o contratempo, o contraste, aquela explicação e ainda a outra reflexão, aquele pensamento, a narrativa! …
Deixando-me levar pelas finas areias da duna, em grão monogranular, aterro na narrativa do «Alquimista» de Paulo Coelho, «A LENDA DE NARCISO»:
«Narciso era um belo rapaz que todos os dias ia contemplar a sua própria beleza num Lago.
Estava tão fascinado por si mesmo que certo dia caiu dentro do Lago e morreu afogado.
No lugar onde caiu, nasceu uma flor, a que chamaram de narciso.
Quando Narciso morreu, vieram as Oréades, deusas do bosque e viram o lago transformado de um lago de água doce, num cântaro de lágrimas salgadas.
-Porque choras? –perguntaram as Oréades.
-Choro por Narciso! -disse o Lago.
–Ah, não nos espanta que chores por Narciso! -continuaram elas.
Afinal de contas, apesar de todas nós sempre corrermos atrás dele pelo bosque, tu eras o único que tinha a oportunidade de contemplar de perto a sua beleza.
-Mas Narciso era belo? –perguntou o Lago.
-Quem mais do que tu poderia saber disso? –responderam, surpresas, as Oréades.
-Afinal de contas, era nas tuas margens que ele se debruçava todos os dias!
O Lago ficou algum tempo silencioso. Por fim disse:
-Eu choro por Narciso, mas nunca tinha percebido que Narciso era belo!
-Choro por Narciso, porque todas as vezes que ele se debruçava sobre as minhas margens, eu podia ver no fundo dos seus olhos, a minha própria beleza refletida!
Também na narrativa política, o contraste admirável entre o ontem e o hoje, entre o evidente e o subjectivo, proporcionam momentos hilariantes, do Algarve ao «Allgarve», de Jardim à beira-mar plantado à «Europe’s West Coast», da instrução severa à licenciatura lowcost , baixou-se o analfabetismo e a mortalidade infantil, legalizou-se o casamento gay, …entre outros.
De regresso, os homónimos divergem na filosofia, na fonte grega, «eu só sei que nada sei», na actualidade, a negação da realidade na tentativa de reescrever a história, demonstrativa do transtorno da personalidade narcisista.
No geral, a indignação sobrepõe-se a tudo isto e ao resto, a maioria com oposição, não fazem grandes distinções, mas iguais é que não são!
Pelo regresso aos mercados, agitando-se a bandeira da democracia, longe da filosofia, apraz-nos registar/agitando, o pensamento sentido de Ary dos Santos, no fado do operário leal:
E chega para nós a Primavera,
Dos cravos fica apenas a lembrança,
A luta está aqui à nossa espera,
Entre o beco da quimera
E a rua projectada ali à esperança!
Aos Beijos e Abraços, v/Devoto Incensador de Mil Deidades, PC.
FOTO 1: Mitologia Grega_Narcissus
FOTO 2: O «Narciso-das-Areias» (Pancratium Maritimum L.) é uma planta que se encontra nas areias das dunas das costas do Atlântico e do Mediterrâneo, incluindo a portuguesa! -Tolera grandes períodos de seca!