O PROFESSOR HÉLDER ARAÚJO E O MEU LIVRO: “OS PESOS E HALTERES, A FUNÇÃO CARDIOPULMONAR E O DOUTOR COOPER” .
“A relação entre a saúde do corpo e as actividades da mente é subtil e complexa: ainda falta muito para ser entendida. Os gregos, porém, ensinaram-nos que a inteligência e a habilidade só podem funcionar no auge da sua capacidade se o corpo estiver sadio e forte: que os espíritos fortes e as mentes confiantes geralmente habitam corpos sadios” – John F. Kennedy
O leitor interessado em aprofundar esta temática poderá encontrar neste blogue três posts meus, todos eles intitulados “Os Pesos e Halteres, a função cardiopulmonar e o doutor Cooper” (datados, respectivamente, de 21 e 29 de Novembro e 10 de Dezembro de 2012).
Hoje, cumpro o grato dever de trazer à colação um comentário do Professor Hélder Araújo, professor catedrático da Faculdade de Ciências e Tecnologia, da Universidade de Coimbra, publicado no meu post: “As declarações do presidente da FPF sobre o último Campeonato Mundial de Futebol” (27/08/2014).
Comentário esse motivado pelo meu encontro com este ilustre catedrático, ainda hoje praticante de musculação e corrida, e em que ele manifestou o interesse colhido na leitura do meu livro: “Os Pesos e Halteres, a função cardiopulmonar e o doutor Cooper”(Lourenço Marques/1973). Escreveu ele:
“Tive, há alguns dias, a oportunidade de conhecer pessoalmente o Prof. Rui Baptista. Em 73/74 eu, e alguns amigos, praticávamos, de forma relativamente “artesanal”, pesos e halteres em Quelimane. Para planearmos e prepararmos os nossos treinos tínhamos acesso a algumas publicações norte-americanas. Muitos dos nossos colegas e amigos nos criticavam, considerando tal tipo de exercício físico como prejudicial à saúde. É então, que, por acaso, compro numa livraria um pequeno livro cujo título era “Os Pesos e Halteres, a Função Cardiopulmonar e o Doutor Cooper”, do Prof. Rui Baptista. Esse livro foi realmente fundamental para nós, na altura, por desmistificar as críticas que eram feitas a esse tipo de actividade física. Desde sempre fiquei grato ao Prof. Rui Baptista pelo trabalho que descreve nesse livro e que fez com atletas em Lourenço Marques. O livro foi muito importante para aquele pequeno grupo de jovens atletas. O meu obrigado ao Prof. Rui Baptista!”
Na minha vida profissional, tive motivos de desânimo por me sentir, na minha prática e defesa irredutível dos pesos e halteres, um proscrito perante os professores do INEF (actual Faculdade de Motricidade Humana), os próprios colegas de profissão e a sociedade desportiva em geral. Em outros momentos, com uma certa dose de imodéstia, diria mesmo de orgulho. Enuncio três desses momentos:
- A entrada da Educação Física pela porta grande da Sociedade de Estudos de Moçambique (“Palmas de Ouro” da Academia de Ciências de Lisboa), através da conferência que aí proferi, intitulada “Os Pesos e Halteres, a função cardiopulmonar e o doutor Cooper, génese do meu livro com idêntico título.
- A minha consequente nomeação para presidente da respectiva Secção de Ciências.
- O testemunho do Professor Hélder Araújo de eu ter contribuído para desmistificar as críticas de muitos colegas e amigos do seu tempo de estudante por considerarem os pesos e halteres prejudiciais à saúde,
Vivia-se então um tempo tenebroso de crenças sem fundamento científico sobre os malefícios dos “ferros” denunciado, com muita autoridade, pelo Professor José Maria Santarém,
um dos maiores especialistas mundiais no treinamento de pesos e halteres, coordenador dos cursos de pós-graduação do Centro de Estudos em Ciências da Actividade Física, da Faculdade de Medicina da Universidade São Paulo.
Assim, num mail que me enviou para o Centro de Estudos de Biocinética, da Faculdade de Ciências do Desporto e Educação Física da Universidade de Coimbra (2001), de que eu na altura era docente, escreveu ele, em transcrição parcial minha:
“Nossos ideais são comuns, e nossas dificuldades históricas também. Felizmente hoje as evidências nos apoiam e somos ouvidos, mas é sempre emocionante lembrar os tempos em que éramos quase ignorados. Gostei muito do seu texto que, naturalmente, deve ser lido com a lembrança da situação do conhecimento de então” (esta análise consta mais detalhadamente do meu post de 21 de Novembro de 2012).
Houve, portanto, períodos na vida em que me senti útil pelo meu contributo para uma Educação Física que, ao ser amputada de alguns dos seus objectivos, pudesse ser pasto da crítica do Doutor Hans Krauss, professor de Medicina Física da Universidade de Nova York, ao escrever:
“São poucos também os professores de Educação Física que demonstram respeito pelos músculos, ao invés de cuidar para que os jovens cresçam com músculos firmes e flexíveis, a maioria deles se preocupa apenas em treinar times que vençam campeonatos!”
Rui Baptista aos 40 anos de idade
Pese embora Ernest Krestchemer (médico e cientista alemão, 1888-1964) ter afirmado que “o homem pensa com o corpo todo”, infelizmente, a crítica a uma Educação Física de “brutamontes”, por vezes, ainda vigora na intelectualidade portuguesa em resquícios de um inefável pedantismo que se acoita na proporcionalidade inversa entre inteligência e músculos, aqueles músculos que o grande Almada-Negreiros endeusou, ao proclamar: “É preciso criar a adoração dos músculos”!
Acredite, leitor, que não sou um Frei Tomás do género “faz o que eu digo, não faças o que eu faço!” Ao contrário dele, faço aquilo que digo como demonstra a minha prática de musculação, três vezes por semana, aos meus 83 anos de idade, cumpridos no passado mês de Maio!
“Last but not least”, a minha grande gratidão pelo testemunho de uma vivência de exercitação física vivida com o entusiasmo da juventude e descrita, com laivos de generosidade para comigo, por um notável académico. Bem haja, Professor Hélder.