OS CONSENSOS
Dizem que somos povo, mas muitas vezes tratam-nos como animais irracionais. Dão-nos rebuçados na campanha eleitoral. Prometem e não cumprem. Dizem que a chuva é causadora de tudo. Buracos, ruas alagadas, casas danificadas. E não se pode fazer nada enquanto a chuva não parar. Noutros países como é? Quando chove não se trabalha? Só que a chuva já parou. E do que está a ser feito, no que à reabilitação e melhoria das vias de acesso diz respeito, nada ou quase nada. Em Maputo a Av. do Trabalho está em obras. Ainda bem. Já não era sem tempo. Na Matola, o inverso. Nada feito. Nem sinais de quando começaremos a ver as máquinas pesadas a operar, para alívio dos cidadãos que por sinal têm carta de condução. A Avª. da Mozal, a tal avenida das quintas e dos casamentos, vai de mal a pior. Que digam os noivos e os respectivos convidados. Esses e outros que utilizam esta via diariamente sabem bem da gincana que fazem para evitar que a sua viatura caia numa cratera. Esta via já foi palco de paralisação dos “chapas”, pelas más (péssimas) condições de transitabilidade. O povo sofreu porque não tinha transporte. Foi preciso intervenção superior para colocar os semi-colectivos de novo em movimento. Prometeu-se que “brevemente vamos arranjar esta estrada”. Até agora nada. Provavelmente há outras prioridades. Prioridade para a Machava, porque afinal lá para as bandas da nossa zona industrial, andar de carro, mesmo depois das chuvas, é aventura.
Outra preocupação: os consensos. Parafraseando o Dr. Gilberto Correia, antigo bastonário da nossa Ordem dos Advogados,
não há consenso politico sobre o Cessar-Fogo do conflito armado. Não há consenso politico sobre a cessação da morte e deslocação de moçambicanos por causa do conflito armado. Não há consenso sobre a Paz em Moçambique. Mas houve um rápido consenso politico sobre as regalias dos deputados da Assembleia da República. O que pensar das prioridades dos nossos políticos e da nossa política”?
No capítulo de regalias e mordomias a Renamo impressionou tudo e todos. Quando foi da votação das mordomias a atribuir ao Presidente da República, depois deste deixar o “poleiro”, barafustou, apresentou argumentos, falou em voz alta, votou contra. Quando foi da votação das regalias aos deputados, ficou sem tom de voz. Meteu o rabo entre as pernas e votou a favor.
No muro das nossas lamentações os acidentes de viação.
A dor, o desespero. Há quem diga, como eu já ouvi: “tenho medo de conduzir”. Ninguém sabe se voltamos para casa, depois da nossa jornada laboral.
Há duas ou três semanas, se a memória não me atraiçoa, a polícia reagiu. O exemplo do que aconteceu na Matola com o “acantonamento” de 176 condutores do transporte semi-colectivo de passageiros, por não terem carta de condução, por terem documentos caducados ou por não estarem habilitados a conduzir viaturas do serviço público merece o meu (nosso) aplauso. Espero que seja uma acção para continuar. A menos que alguns prefiram, como tem acontecido bastas vezes, continuar a dormir à sombra da bananeira permitindo que gente seja transportada como gado, nos já conhecidos “my love” que já virou marca registada no que a transporte público moçambicano diz respeito.
A propósito de condução: alguns mais atrevidos, até se dão ao luxo de conduzir na contramão e reclamar contra quem circula na sua faixa de rodagem. Estes novos “ases” do volante, não só reclamam como insultam.
Civismo, respeito, cortesia, boas maneiras, educação … predicados que foram atirados para o caixote do lixo.
João de Sousa – 28.05.2014