SACUDIR A ÁGUA DO CAPOTE
Há sensivelmente duas semanas fiquei chocado com a informação de que 2 programas da Rádio Moçambique, (Gha Tshandzala e Clube dos Entas) de autoria dos meus colegas e amigos Luís Loforte e Edmundo Galiza Matos iam ficar na prateleira. Dito doutra forma: entrariam “em defeso”. Comecei a pensar que estava diante daquilo que acontece no desporto. Nunca imaginei (recuso-me a engolir essa) que na radiodifusão haja “defeso”. É uma nova invenção dos gestores duma rádio pública que se calhar não têm a coragem de dar a conhecer aos respectivos produtores, as reais intenções que estão por detrás desta decisão.
O mais caricato de tudo tem a ver com o facto de se ter proposto aos produtores desses 2 programas a fusão dos mesmos. Mais ainda: a continuidade da sua transmissão estará dependente de cobertura financeira que permita pagar os custos de produção, sendo que o patrocínio comercial dos dois programas deve ser angariado pelos dois produtores.
Sinto-me com propriedade para emitir a minha opinião e também um certificado de incompetência a quem tomou esta estapafúrdia decisão.
Se os programas não interessam, se os mesmos não se enquadram nos objectivos da Rádio Moçambique ou se existe alguma outra razão para uma tomada de decisão desta natureza, quem de direito deve dizer abertamente. Há que discutir a questão tendo por base argumentos sólidos. Infelizmente esses argumentos, pelo que entendo, surgem em forma de decisão. Decide-se com os pés e não com a cabeça.
Desde quando é que dois programas, com dois conteúdos completamente diferentes, se fundem?
Desde quando é que a missão dum produtor radiofónico é angariar patrocínios?
Há ou não há na RM uma Direcção Comercial, que tem (ou devia ter) como função, encontrar formas de tornar o programa financeiramente viável? A Direcção Comercial fez alguma tentativa junto do empresariado nacional, no sentido de encontrar patrocínio para o mesmo?
Mais do que isso: se a RM considera os programas como sendo importantes e necessários (dado o seu conteúdo, perfil, etc …) deve ser função da RM, como veículo público de radiodifusão, assumir os custos de produção desses mesmos programas.
Sei, pelo que me disseram os produtores destes 2 programas, que estas duas realizações semanais chegaram ao fim, por vontade própria dos respectivos produtores, que há muito se aperceberam das intenções de quem gere a Grelha de Programas da Rádio Moçambique, de colocar um ponto final nos programas. Era, segundo sei, algo que já vinha sendo engendrado há bastante tempo.
Estes dois programas saem da “grelha” da Antena Nacional. Em substituição, provavelmente, outros dois virão. Quem vai pagar os custos de produção desses programas? Vai ser a RM ou vão ser os futuros responsáveis dos mesmos? Se calhar, nem uma coisa nem outra. Se calhar vão-nos impingir com uma rubrica de “música variada” que é das coisas mais baratas e reles que se pode fazer em matéria de realização radiofónica.
Estes decisores sacudiram a água do capote, táctica por demais utilizada pelos incompetentes da nossa praça.
João de Sousa – 02.12.2015