Vila Olímpica do Zimpeto – “Xipalapala” de João de Sousa

Vila Olímpica do Zimpeto 

 Um amigo meu fez questão de me mostrar algumas fotos dos apartamentos construídos na Vila Olímpica do Zimpeto que serviu de alojamento aos atletas do nosso continente, que participaram em 2011 nos Jogos Africanos realizados em Maputo. Posteriormente acabei por vêr essas fotos colocadas na internet. A princípio no acreditei no que via. Mas lembrei-me de escritos que a nossa imprensa publicou, criticando, a determinado momento, a qualidade de construção. As fotos mostram rachas, inundações, e outras coisas mais. Quem paga a mensalidade como forma de amortização já deve ter percebido que, nalguns casos, começou a comprar gato por lebre.

Será oportuno lembrar que após o final dos Jogos, o Governo moçambicano, através do Fundo de Fomento da Habitação abriu um concurso para a venda desses apartamentos. Segundo se escreveu na altura na lista dos interessados figura gente com bastante dinheiro para comprar apartamentos a pronto pagamento ou a prestações mais substanciais.

Afirmava-se na ocasião que muitos dos beneficiários dos apartamentos da Vila Olímpica são figuras da elite política e económica nacional, que vivem em mansões luxuosas nos bairros da Polana e Sommerschield. Da lista constavam ministros em exercício e ex-ministros, ex-governadores provinciais ou ex-presidentes de Conselhos de Administração de empresas renomadas, para falar apenas destes. Figuras que, pela pujança económica que têm, não necessitam de tais apartamentos subsidiados em 38% pelo Estado e com juros bonificados, de apenas 5%, vendidos a crédito de longo prazo (25 anos).

Como quase todos os beneficiários já possuem muitas casas próprias em seu nome, o que fizeram neste caso da Vila Olímpica do Zimpeto foi requisitar apartamentos, de forma privilegiada e sem sorteio em seu nome, e depois passá-los para os seus filhos e outros familiares directos. Excuso-me de referir nomes de altas individualidades deste País que entraram neste esquema e que se calhar hoje devem estar arrependidos.

Na altura, se bem me lembro, houve uma desculpa esfarrapada, dada por um dos responsáveis do Fundo de Fomento da Habitação. Quando questionado sobre este tipo de concurso em que o pai é que beneficia da casa, mas o filho é que assina o contrato, referiu-se a um “erro de digitação na lista publicada porque na verdade quem concorreu não foram os pais, mas sim os filhos dessas individualidades”.

Em menos de 2 anos alguns desses apartamentos apresentam deficiências de todo o tipo. Isto para não falar de outros problemas de natureza administrativa, com os quais o próprio FFH se debate. Não sei quantos, dos 848 apartamentos construídos, que serviram para alojar os participantes dos X Jogos Africanos de 2011, estão em perfeito estado de degradação. Mas que são muitos, são.

Será que comprámos gato por lebre ? Ou será que os apartamentos daquela Vila Olímpica (como me dizia um amigo meu) “têm um prazo de validade, que se calhar, ao fim de 2 anos expirou” ? Agora, alguns dos que investiram, estão arrependidos de o ter feito. Muitas vezes o barato sai caro.

João de Sousa – 17.07.2013

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