VISITE SEM AVISAR!
(Faça o favor de entrar, com ou sem Fé)
Ontem, 8 de Dezembro, dia de Nossa Senhora da Imaculada Conceição, Rainha e Padroeira de Portugal, feriado nacional instituído desde 1476 e venerado pela igreja católica.
Após mais uma contestação paroquiana em Canelas (Gaia), eis que na Vila de Buarcos, na cidade da Figueira da Foz, a Misericórdia-Obra da Figueira reabre após obras de reabilitação e restauro, a Capela Oratória em honra da Nossa Senhora dos Navegantes (padroeira das cidades de Porto Alegre e Pelotas no Brasil),
parte integrante do edifício da Casa dos Pescadores (quantos por ti passaram, consultando, aprendendo ou não, comungando e casando, servindo a grandiosa comunidade piscatória, numa base de corporação e previdência social).
A palavra «capela» provém da «cappella» (ou manto) de São Martinho, a relíquia mais sagrada dos reis francos, sobre o qual se faziam os juramentos, e que era levado na frente das tropas. Os seus guardiões eram os «cappellani» e o santuário no qual se guardava o estandarte era a «cappella». Por isso, «cappella» veio a ser a designação de um templo cristão secundário, onde habitualmente não existe culto religioso, diário ou dominical, ou existe apenas por alturas de festividades.
Embalado pela festa litúrgica em especial na veneração pelo Cântico dos Cânticos, «_Tu és toda formosa, meu amor, não há mancha em ti!», usado para defender a Imaculada Conceição, solenemente definida como dogma pelo Papa Pio_IX (em sua bula a 8 de Dezembro de 1854), elevo o pensamento para fora, cá dentro e descortino a oportunidade, conjugando património, religião, natureza e complexidade humana.
Roxanne Bueso, pintora, natural de Porto Rico, que já não exponha os seus trabalhos na Figueira da Foz desde 1997,
inaugurou no dia 8 de Novembro no CAE, uma mostra da sua arte, explicando que «esta exposição são manchas que fazem parte do meu mundo.» Assumindo as suas manchas, Roxanne Bueso transpõe-nas para a tela, para observação e contemplação, justificando-se:
«_Ao percorrerem a sala, vão talvez, encontrar temas que podem chocar, mas como artista, como ser humano, não posso ignorá-los!»;
_Sou transparente e rodeada de cor!»
Exposto também, mas numa imensa mancha verde, está o forte, vivo e carregado património religioso, integrante da Mata do Bussaco, primeira mata nacional com gestão certificada.
A certificação da gestão florestal tem como objectivo primordial a promoção da gestão sustentável da floresta, compreendendo a sua utilização tendo em conta os aspectos económicos, ambientais e sociais.
E assim face ao valor acrescentado, carregando sentimentos e crenças, natureza e religião, cumpre-me divulgar, apelando a uma visita na e à Figueira da Foz, ou ao Luso (também da água termal), na Mealhada (capital do Leitão à Bairrada), enfatizando tão ao jeito de, _vá para fora cá dentro:
- TRILHOS NA MATA DO BUSSACO – 6 percursos identificados, classificados e denominados: água (1/6), adernal (2/6), floresta relíquia (3/6), invasoras (4/6), património religioso (5/6) e militar (6/6);
- APENAS EU E AS MINHAS MANCHAS – ROXANNE BUESO NO CAE, a pintora de Porto Rico, radicada na Figueira da Foz, expõe os seus elaborados traços, manchas de visões sobre tela, até ao dia 31 de Janeiro, na sala_2 do Centro de Artes e Espectaculos Dr. Pedro Santana Lopes, na Figueira da Foz;
- CAPELA ORATÓRIO DA SENHORA DOS NAVEGANTES – na Casa dos Pescadores da Vila de Buarcos, e ainda, Capela Sra.Conceição, Capela Sta.Barbara-Vais (Sra.Lourdes), Capela Sra.Encarnação, Capela da Serra (Sra.BoaViagem), Capela do Cemitério (Sra.Nazaré), Capela da Nossa Senhora da Encarnação, Capela da Misericórdia de Buarcos (Sra.Visitação) e Igreja São Pedro (Sra.Carmo);
A mancha verde da Mata Nacional do Bussaco, património vivo, natureza mágica, ocupa uma área com cerca de 105 hectares (um hectare são 10.000m2). Classificado como Imóvel de Interesse Público, o conjunto do Buçaco monumental, mobiliza uma riqueza patrimonial de excepção:
- Palace Hotel do Bussaco, Convento de Santa Cruz, ermidas de habitação, capelas de devoção, e os Passos que compõem a Via Sacra, a Cerca com as Portas, o Museu Militar, o Monumento Comemorativo da Batalha do Bussaco, os cruzeiros, as fontes (destacando-se a Fonte Fria com a monumental escadaria), as cisternas, os miradouros (o da Cruz Alta oferece vista privilegiada sobre toda a região de Coimbra e a Serra do Caramulo) e as casas florestais;
De salientar que, actualmente a preservação de tão importante património, natural e cultural, abrangendo uma área com cerca de 1.050.000,00m2 (um milhão, e cinquenta mil metro quadrado), compete à Fundação Mata do Buçaco, sob alçada de um distinto e estimado figueirense, António Eduardo Ferreira Gravato, como Presidente do Conselho Directivo.
O Eng.º António Gravato,
devoto desportista, exímio condutor e destemido piloto de ralis, é licenciado em Engenharia Silvícola, pela Universidade Técnica de Lisboa, defendeu tese em Economia florestal, desempenhou funções entre 1984 e 1996 como Director do Centro de Operações e Técnicas Florestais, exerceu ainda reputado técnico especialista como Sub-Director dos Recursos Florestais, Delegado Regional do Centro na Comissão Nacional Especializada em Fogos florestais, Director da Circunscrição Florestal do Centro, e Secretário-Executivo na Comunidade Intermunicipal do Baixo Mondego (CIM-BM).
Com um percurso profissional sempre ligado à fileira florestal, com competências comprovadas na especialidade, o Eng.º AG desempenhava ainda recentemente as funções de assessor principal, no Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF).
Segundo o sítio, «LugarDasPalavras», Eugénio de Andrade, pseudónimo de José Fontaínhas, 1923_2005 (autor admirado também pelo Presidente do Conselho Directivo da Fundação Mata do Buçaco, F.P.), é um poeta «cujo tema central da sua poesia é a figuração do Homem, não apenas no eu individual, integrado num colectivo, com o qual se harmoniza, terra, campo, natureza – lugar de encontro!…»
Assim pelo lugar de encontro, num desígnio desprendido, mas emotivo, grito e canto para vós:
- CAE-Figueira da Foz: _faça o favor de entrar!
- Mata do Bussaco (Mealhada): _visite sem avisar!
- Buarcos-Terra de Nossa Senhora: _a fé como devoção aos que viajam por terra, mar, serra e rio!
Para terminar e unindo pelas palavras, fauna com flora, poeta e homem, tela com pintor, olhos com visão e fé, rebusco na pena intemporal de Eugénio de Andrade, a evocação sentida da natureza humana em «As Mãos e os Frutos»:
I
«_Só as tuas mãos trazem os frutos.
Só elas despem a mágoa
destes olhos, e dos choupos,
carregados de sombra e rasos de água.
Só elas são
estrelas penduradas nos meus dedos.
-Ó mãos da minha alma,
flores abertas aos meus segredos.
II
Cantas. E fica a vida suspensa.
É como se um rio cantasse:
em redor é tudo teu;
mas quando cessa o teu canto
o silêncio é todo meu.
III
Quando em silêncio passas entre as folhas,
uma ave renasce da sua morte,
e agita as asas de repente;
tremem maduras toadas as espigas
como se o próprio dia as inclinasse,
e gravemente, comedidas,
param as fontes a beber-te a face.
IV
Somos como árvores
só quando o desejo é morto.
Só então nos lembramos
que Dezembro traz em si a Primavera.
Só então, belos e despidos,
ficamos longamente à tua espera.
V
Nos teus dedos nasceram horizontes
e aves verdes vieram desvairadas
beber neles julgando serem fontes.
VI
Não canto porque sonho.
Canto porque és real.
Canto o teu olhar maduro,
o teu sorriso puro,
a tua graça animal.
Canto porque sou homem.
Se não cantasse seria
somente um bicho sadio
embriagado na alegria
da tua vinha sem vinho.
Canto porque o amor apetece.
Porque o feno amadurece
nos teus braços deslumbrados.
Porque o meu corpo estremece
por vê-los nus e suados.
…
Bem-haja aos criativos, aos empreendedores e aos visionários, que nos espaços de história ao abandono por nada, delinearam uma estratégia interventiva e objectiva, com parcerias activas, fazendo muito com pouco, restabelecendo assim a esperança e a satisfação, nas respectivas comunidades!
Aos beijos e abraços, Paulo Craveiro, o Bispo, v/Devoto Incensador de Mil Deidades (Figueira da Foz, 8 de Dezembro de 2014).
Um Comentário
Rosa Mamede
Está um artigo muito bem estruturado, passando por uma miscelania tão diferente, mas com algo em comum.
Muitos parabéns meu AMOR!