MOÇAMBIQUE DE 1491 A 1974 – 4 ETAPAS DA SUA HISTÓRIA
Por Cândido Azevedo
Hoje publicamos o 3º dos pequenos textos, sobre a História da nossa querida terra, Moçambique, desde que os portugueses ouviram dela falar. Conforme já referido estes textos pertencem ao livro editado em 2020 e intitulado “PELAS MALHAS DO ANTIGO IMPÉRIO. HERÓIS E VILÕES: CORAGEM, DIVERSIDADE, PECADOS E TRAIÇÕES”, do Cândido Azevedo, alguém que viveu a sua infância na Índia e a juventude em Lourenço Marques.
3. A CAPITANIA DE MOÇAMBIQUE, SOFALA E RIOS DE SENA
Finalmente em 1607, na região de Zambézia e já com boas relações com o povo do antigo Império Monomotapa, obtêm os portugueses a concessão das minas de ouro. Em 1627 o rei Mavura, agora cristão, assume-se vassalo de Portugal. Após o período de capitães-mores (1501 a 1560) e de capitães- generais (1569 a 1609), passou-se a nomear governadores e em 1641, após a Restauração, existindo dificuldade em nomear estes representantes, vai o cargo estar em leilão sendo arrematado por Francisco da Silveira por 30.000 pardaus, moeda em uso nos territórios do português Estado da Índia.
Por essa época vêm colonos indianos, que arrendando terrenos a prazo, dedicar-se-ão ao comércio e agricultura. Mercadores cristãos, com pequenos exércitos privados, vão ocupando pontos importantes inicialmente ao Norte, logo depois ao Sul do rio Limpopo, sempre seguidos por comerciantes indianos. Nesta interiorização que se vai fazendo, vão-se misturando os cristãos com muçulmanos e pagãos, ganhando os primeiros dos outros os seus ritos e costumes, como o da celebração festiva da primeira menstruação de uma moça, conforme referia o Tribunal da Inquisição de Goa em 1771.
Sem resultados na economia, sai esta Capitania da dependência do Estado da Índia em 1752. Agora com um Governador-Geral, chama-se Capitania Geral de Moçambique, Sofala e Rios de Sena. O Sul, principalmente a larga baía passara há muito a ser frequentada por ingleses, franceses, holandeses e até austríacos, pois era próspero o negócio do marfim, e estes por aqui constroem sucessivamente tranqueiras defensivas, efémeras, ganhando o local o nome de Delagoa Bay. Ganhará logo depois o nome de Lourenço Marques, nome de um piloto das naus da Índia, o primeiro português a fazer um reconhecimento profundo, em 1544, numa viagem de exploração ordenada pelo capitão-mor da Capitania de Moçambique, a mando de D. João III.
Em 1782 desembarca nesta Baía o primeiro governador para Lourenço Marques, Joaquim de Araújo, fundando com um reduzido destacamento uma nova tranqueira sob a evocação de Nossa Senhora da Conceição.
Joaquim de Araújo inicia a expulsão da presença estrangeira argumentando pertencer aquelas terras a Portugal “por um antigo e até agora não disputado direito, como se lê nas histórias”. Em 1791 faz-se uma nova reconstrução do forte pelo Capitão António Teixeira Tigre, sendo em Outubro de 1796 conquistado, saqueado e incendiado por três embarcações de corsários franceses.
No início de 1800, os angunes ou vátuas, uma tribo aguerrida vinda de terras zulus do Sul de África, subindo, criará a Norte, no vale do Limpopo um império com o nome de Gaza. Iniciava a confusão na zona Sul. Era tempo de enquadrar guarnições militares e levantar instituições de governo colonial assegurando a presença portuguesa. Só a partir de 1805 é erguida novamente uma “pequena habitação fortificada para quartel de tropa e feitoria, onde se arvorasse a bandeira portuguesa”. A povoação irá desenvolver-se em torno desta pequena fortaleza, que voltará a ser destruída pelos nativos numa luta entre os pró e os contra a presença portuguesa.
Em 1850 encontra-se consolidada a actual fortaleza/presídio, posteriormente melhorada.
Em 1871 a povoação de Lourenço Marques era ainda descrita como um lugar pobre e com ruas estreitas, mas a crescente importância de Transvaal e a influência inglesa na região, graças à política de intrigas que estes praticavam com os chefes indígenas, meio utilizado para minar os interesses portugueses e contestar a nossa soberania, mormente em algumas ilhas vizinhas, só irá consolidar-se definitivamente a 24 de Julho de 1875 com a sentença arbitral do presidente da França, Marechal Mac-Mahon.
Agora levará a um maior interesse por parte de Portugal para com esta povoação, enviando orientações para drenar a terra pantanosa perto do assentamento militar, construir um hospital e uma igreja e, logo em 1876, a tornará vila.
Sabia que …
- Da expedição de Vasco Homem que partira de Sofala em 1574 com 500 expedicionários e alguns canhões para protecção das diferentes minas de ouro e prata do interior, a guarnição de cerca de 200 militares que ficou a guardar as minas de prata de Chicova foi toda massacrada, tendo sido provavelmente o primeiro massacre de portugueses na costa oriental africana?
- Os escravos daqui levados para a Índia, principalmente para Damão, depois de baptizados tomavam como patrono o Santo Benedito, único santo descendente de escravos, e na festa deste colocavam no altar da Sé a sua imagem e tinham o privilégio de vestir nesse dia, o melhor fato, chapéu, colares ou fardas e espadas dos seus Senhores sendo permitido ao presidente da festa, sentar-se na missa, na cadeira do Governador?
- Terminada a missa estes escravos, vindos de Moçambique, celebravam o Santo Benedito com pompa e cerimónia, ao som de sinos e foguetes, com músicos tocando birimbaus, timbilas e marimbas, e homens e mulheres dançando danças frenéticas, com um cunho de erotismo?
- Os vátuas, liderados por Mawewe, irão por volta de 1861 exigir aos comerciantes portugueses residentes no Sul de Moçambique o pagamento de um tributo sob a forma de um par de sapatos, impondo às mulheres grávidas um duplo tributo?
Agradecemos as imagens de:
– http://wwwclube70.blogspot.com/2008/07/renasce-fortaleza-de-sena.html
– https://www.google.com/search?q=general+franc%C3%AAs+mac-mahon&rlz=
– https://www.ilhademocambique.co.mz/content/casa-de-escravos
– https://www.ilhademocambique.co.mz/content/patrimonio
– https://delagoabayworld.wordpress.com/
– https://www.google.com/search?q=santo+benedito+dos+escravos&rlz=1C1GCEA_
NOTA: Para ver ou rever as anteriores artigos sobre o tema: MOÇAMBIQUE DE 1491 A 1974 – 4 ETAPAS DA SUA HISTÓRIA, basta clicar nos links seguintes (escritos a azul):
- Quem estiver interessado em adquirir o livro intitulado “PELAS MALHAS DO ANTIGO IMPÉRIO. HERÓIS E VILÕES: CORAGEM, DIVERSIDADE, PECADOS E TRAIÇÕES”. Pode contactar o autor através do seguinte email: ccarmoazevedo@yahoo.com
3 Comentários
Carlos Rodrigues
Muito interessante , onde poderei adquirir o livro?
Cândido Ramiro Filomeno do Carmo Azevedo
Por favor contacte-me pelo email ccarmoazevedo@yahoo.com
Obrigado
J.Nicolau da Silva
Muito interessante este registo sobre Moçambique do professor Cândido. Obrigado.