MOÇAMBIQUE DE 1491 A 1974 – 4 ETAPAS DA SUA HISTÓRIA
Por Cândido Azevedo
Hoje publicamos a 4ª e última súmula da História de Moçambique. Uma história ligeira, para gente comum, com alguma curiosidade pela sua terra.
Conforme já referido, estes textos pertencem ao livro editado em 2020 e intitulado “PELAS MALHAS DO ANTIGO IMPÉRIO. HERÓIS E VILÕES: CORAGEM, DIVERSIDADE, PECADOS E TRAIÇÕES”, do Cândido Azevedo, alguém que viveu a sua infância na Índia e a juventude em Lourenço Marques.
- A PROVÍNCIA DE MOÇAMBIQUE
No último quartel do século XIX, a criação de um governo colonial era um trabalho que ainda se afigurava difícil, pois em vilas importantes como Quelimane, Sena, Tete, Manica e outras, a população instruída era reduzidíssima e na generalidade constituída por poucos portugueses idos da Metrópole, indianos e seus descendentes, muitos mulatos e negros, acrescidas de outras dificuldades. A Sul da ilha de Moçambique, na região de Angoche, pequenos estados islâmicos da costa formados a partir do século XVII, em aliança com os pequenos reinos macuas do interior irão resistir à dominação portuguesa até ao fim do século XIX. No Sul, no vale do Limpopo, os vátuas chefiados agora por Muzila que inicialmente contou com o apoio dos portugueses, vai criar o seu “Império de Gaza” desestabilizando os regulados existentes pelo que, muitos líderes locais, preferem submeter-se aos portugueses do que à hegemonia vátua. Após o decreto de 1869, que finda a escravatura em todo o ultramar, esta ainda se mantinha disfarçada em Moçambique, já não com o nome de escravos, mas agora de “engajados”.
Em 1878 Moçambique abre-se às grandes companhias estrangeiras, não mais interessadas em escravos ou marfim, mas em outros produtos, com realce para as oleaginosas, muito procuradas pelas novas indústrias entretanto surgidas, a quem o Estado concede, sob sua fiscalização, o direito a certos privilégios comerciais. Estas, tornaram-se verdadeiras substitutas do Estado detendo poderes de administração sobre as populações locais e os territórios. Logo depois, já chamadas de
majestáticas, se trouxeram desenvolvimento e domínio de grandes espaços geográficos, com os seus grandes exércitos de “achicundas” (escravos-guerreiros), dominavam vastas regiões explorando os povos locais, opondo-se por vezes à administração colonial e trazendo também obrigações à população nativa mais desfavorecida, obrigações essas não isentas de sofrimento.
Em 1885, da Conferência de Berlim surge a pressão europeia para ocupação efectiva dos territórios africanos e, a ambição da Alemanha e, muita, da Grã-Bretanha, que pelo “Ultimatum de 1890” ameaça Lisboa com um bloqueio naval e acção armada, inviabilizando a vontade portuguesa ao Mapa Cor de Rosa, à ligação de Moçambique a Angola, inspirada na célebre viagem pelos exploradores Roberto Ivens e Hermenegildo Capelo.
No Sul, principalmente no vale do Limpopo, reina ainda a confusão. Após lutas fratricidas dentro da própria etnia, é agora Ngungunyane (Gungunhana) o rei dos vátuas. Este assina em 1886 um tratado de amizade e submissão com Portugal. A permanente infidelidade, a arrogância perante as autoridades e as revoltas armadas, levam à sua prisão a 28 de Dezembro de 1895 por Mouzinho de Albuquerque. Gungunhana e alguns familiares são exilados logo depois para Portugal e a 22 de Junho de 1896, para os Açores. Aqui é baptizado de Reinaldo Frederico Gungunhana, todos eles aprendem a ler e escrever e pouco a pouco integram-se na sociedade açoreana, que por eles sente simpatia.
Entretanto em 1894, os alemães vindos da sua colónia de Tanganica ocupam o território de Quionga junto ao rio Rovuma. Serão muitos os combates, alguns até aéreos, por mais de uma década, sendo o maior o de Negomano, onde os portugueses e a sua tropa landim são derrotados. Retirar-se-ão os alemães, uns anos depois, para a Rodésia.
Lourenço Marques tornara-se cidade em 1887, e a construção da linha férrea para Transvaal e o consequente aumento populacional leva à mudança da capital para aqui em 1898, na agora chamada “província”, e à organização de uma efectiva administração que, dada à perda de influência das já referidas companhias majestáticas, transformam os seus exércitos em sipaios do Governo.
Um surto de desenvolvimento no campo agrícola, industrial, comercial e educacional alastra-se por todo o território. Pequenas povoações prosperam e passam rapidamente a vilas. Em 1926 é chamado Colónia de Moçambique, para voltar uns anos depois a ser novamente intitulada de Província.
Fica estruturada uma vasta rede de comunicação e acessibilidades, fossem terrestres, marítimas, e em 1936, aéreas. Crescem as povoações, modernizam-se as instituições, suavizam-se os preconceitos, atenua-se a discriminação racial, embora não ao ritmo desejado.
Nos anos 40 tem início e a bom ritmo, o turismo. Com o correr dos anos nas zonas urbanizadas, uma ampla e fraternal convivência entre gentes de origem e estratos diversos, fosse em instituições administrativas, financeiras, religiosas e desportivas é já uma realidade. Mas no plano nacional, desconsiderando todos avisos que vão surgindo, uma política cega e obsoleta impedia ainda a construção de um país com a sua herança e identidade multirracial. Em 1964 a Frente de Libertação de Moçambique, com apoio externo, inicia a luta armada contra o regime português. Lisboa procura evitar o pior e qual sinal de um futuro diálogo, chama-lhe, nesse mesmo ano, de Estado de Moçambique. Mas o diálogo não acontece e a luta prossegue até à Revolução de Abril de 1974. Moçambique torna-se independente em 1975.
Sabia que …
- A cidade de Lourenço Marques, povoação que se inicia com 16 portugueses, torna-se vila em 1876, mas carenciada de tudo, pois só vem um barco por ano, não tinha médico e, quem adoecesse, era tratado por um curandeiro landim que recebia uma capulana por cada um dos curados?
- Pelo tratado de 1886 Gungunhana ganhou honras de coronel de 2ª linha, com direito ao uso da farda, mas devido à sua revolta, é despromovido para 2º sargento?
- O Hino Nacional foi criado em 1890, no período monárquico, contra a Grã-Bretanha, devido ao seu “Ultimatum de 1890” a Portugal, sendo o último verso no seu original “contra os bretões marchar, marchar”, substituído no ano de 1911, após a implantação da República, por “contra os canhões marchar, marchar”?
- O 1º voo português em África foi feito a 7 de Setembro de 1917 na pista de Mocímboa da Praia, num avião Farman F40, pelo Tenente Sousa Gorgulho (o 1º piloto militar vítima de guerra em África), integrado na Esquadrilha Expedicionária a Moçambique, devido ao conflito com os alemães?
Agradecemos as imagens de:
https://www.google.com/search?q=mo%C3%A7ambique+negomano&rlz=1C1GCEA_
https://jornaleagora.pt/historiador-destaca-dignidade-com-que-gungunhana-foi-tratado-
http://www.momentosdehistoria.com/001-grande_guerra/001-02-exercito/001-02-03-
https://pt.wikipedia.org/wiki/Selos_e_hist%C3%B3ria_postal_da_Companhia_do_Niassa
https://www.google.com/search?q=frelimo&rlz=1C1GCEA_enPT865PT865&o
NOTA DO AUTOR:
Terminam hoje as 4 etapas, muito aligeiradas, da História de Moçambique publicadas aqui no BigSlam, a quem agradeço. Estas fazem parte do meu último livro “PELAS MALHAS DO ANTIGO IMPÉRIO – Heróis e Vilões: Coragem, Diversidade, Pecados e Traições”. Nesta peregrinação escrita, qual síntese de mais de 100 territórios que fizeram parte desse antigo Império e no julgamento da nossa história ultramarina, não faltaram os grandes obstáculos, a que não fugi, nem íngremes encostas, por onde não resvalei. Procurei a verdade. Falei assim de heróis e vilões, de vitórias e derrotas, da diversidade e inovação, da coragem e traições. Finalizo, esperando ter alcançado um vasto leque de leitores, pelo resumo histórico da nossa sempre querida e presente Moçambique, que desse tal Império fez parte.
- Pode ver ou rever as anteriores artigos sobre o tema: MOÇAMBIQUE DE 1491 A 1974 – 4 ETAPAS DA SUA HISTÓRIA, basta clicar nos links seguintes (escritos a azul):
- Quem estiver interessado em adquirir o livro intitulado “PELAS MALHAS DO ANTIGO IMPÉRIO. HERÓIS E VILÕES: CORAGEM, DIVERSIDADE, PECADOS E TRAIÇÕES”. Pode contactar o autor através do seguinte email: ccarmoazevedo@yahoo.com
4 Comentários
Maria Candida Meireles
Muito interessante e educativo.
Vivi em Lourenço Marques desde 1961 até 1975.
Os melhores tempos da minha mocidade.
Sai de Lourenço Marques para a Suazilândia 🇸🇿 e depois com rumo a Londres onde vivo até agora.
Regressei a Lourenço Marques em 2005 com a minha filha que nasceu em Lourenço Marques, uma semana no Hotel Rovuma em frente há linda Catedral e uma semana no Hotel Polana.
Achei tudo muito desenvolvido lindos hotéis. Shopping centres.
Muito emocionante quando vi a minha casa no alto mae na rua Estácio Dias, ainda bem cuidada.
Os CFM a linda Estação onde trabalhei 5 anos nós anos 70s.
Essa linda Moçambique 🇲🇿 terra maravilhosa ficará sempre nos nossos corações 💕.
Obrigado 🙏.
Milu Gouveia
Interessantissimo
BigSlam
Último artigo histórico (4) sobre o nosso Moçambique, do professor, historiador e desportista – Cândido Azevedo.
A não perder!
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