LM Lourenço Marques “A CAPITAL da NOSSA MEMÓRIA”…
Era uma rambóia protagonizada pela aburguesada e nova-rica “fidalguia desfilante” trajando elas “Laurentina Borges” e eles Smoking do “Príncipe de Gales” e os menos abastados as fatiotas da “Saratoga”, os “assim-assim”, com sapatinhos da “Hélio” tudo a condizer no Hotel Polana em prolongados festins dançantes, ao ritmo dos “I cinque di Roma” ou do novel Polana-Mar com o virtuoso Maurílio e a sua organística magia, inebriando o pagode no infinito deslumbre, propiciado pela Baía de Espírito Santo, dali avistada…
Dos requintados jantares no Sheik, das patuscadas “em bom” e à “média-luz” no Kalifa, aonde pela mágica mão do Chef Laurent se compraziam divinais pitéus servidos em caçarolas de barro, “regados” com Tintos Reserva e da aconchegante “sopa da pedra”, noite dentro, na tasca rica ribatejana anexa ao “Marialva” e contígua à “Casa Bambi”, a casa dos sonhos de tantas infâncias…
Outro tanto, na sublime sopa fria do “El Greco”,
nos camarões da “Laurentina” ou das sandes de carne assada da Cervejaria Nacional, a 2$50…
Dos “baratuchos” restaurantes chineses da Consiglieri Pedroso, de toda a culinária goesa com a divinal “bebinca”, do restaurante israelita na Paiva Manso ou do caril de caranguejo do “Come e Bebe”, nas redondezas da Pastelaria Teresinha. Dos queques, dos brigadeiros e dos “babás” da Ateneia, dos croissants do Djambo, estes acompanhados da deliciosa limonada “Reunidas” fresca…
Do delicioso pato à Pequim no “Macau”, dos camarões gigantes grelhados na brasa, barrados com manteiga e sumo de limão na “Coimbra”, em frente ao campo do Clube Ferroviário,
aos “petiscos” do “Leão de Ouro” no Alto- Maé e as amêijoas na “Peninsular” próximo da Praça Mac-Mahon!
Dos “Gelados Italianos” na Massano de Amorim, onde se via a lindíssima empregada de mini-saia, mas de expressão esfíngica, do “Piri-Piri” e sua “galinha à cafreal” (quantas vezes já após as doze badaladas).
Do “Safari”, sala de estudos dos cábulas, do “Pigalle”, da “Princesa” do pãozinho especial e do irresistível molho no tornedó. Dos célebres “parfaits” da “CCG-Cooperativa de Criadores de Gado” nas proximidades do Bazar, das geladinhas “Catembes” no Tico-Tico e dos gelados da “Socigel”. Dos pastéis de nata da “Cristal”, das arrufadas da “Colmeia” ou do caranguejo recheado e ameijoas no Restaurante da Costa do Sol…
Das castiças sessões de fados nos “Lisboetas”, na “Palhota” ou na “Tertúlia e Festa Brava”…
Das travessias de barco até à Catembe, no velho “gasolina”,
em lautos convívios de peixe fresco ainda “a saltar” e lagostins grelhados, “regados” pelo “verdinho” Lagosta, a condizer e até ao pôr-do-sol!
Das deslocações em “excursão” e viaturas privadas até à Namaacha, nos Libombos aonde, à sombra da frondosa vegetação e deslumbrante cascata se confraternizava em idílicos pic-nics…
Dos passeios até Vila Luísa, Macaneta e Rio Marracuene dos hipopótamos, aonde o Mouzinho despojou do ceptro, o vátua Gungunhana. Das visitas ao Jardim Zoológico e as palhaçadas repetidas do burlesco Pepito. Das loucuras no “Luna Park”, o divertimento mor da infância e da adolescência da geração dos anos 50, 60 e 70…
Luna Parque, que assentava arraiais no terreno situado entre a Fazenda e a Avenida da República.
Do Circo Boswell e da fascinação provocada pela sua caravana que desfilava ao longo da Av. da República com animais exóticos; leões, elefantes, cavalos, palhaços, trapezistas e malabaristas quando, da vizinha África do Sul, desembarcavam na estação dos CFM, Praça Mac-Mahon…
Da acabrunhada mas simpática Banda Militar no Jardim Vasco da Gama, que lá tocava aos Domingos à tarde. Das noites e matinés dançantes do Carlos Fortuna no “Comandante”, do Hotel Cardoso, dos aprazíveis fins-de-tarde no “Pôr-do Sol” à entrada do hotel e ao sabor do tranquilizante som dos “Stan Getz, Fausto Papeti, James Last ou Herp Albert”. Das quermesses nos Maristas e dos bailes de Carnaval nos Velhos Colonos ou no Malhangalene.
Do Bingo na Piscina do Desportivo, das garraiadas na “Monumental”, das voltas ao autódromo do ATCM,
dos amores clandestinos no “Paraíso”, na rampa do “Caracol” e no “Miradouro”. Dos “parties” no Bairro do Triunfo terminando invariavelmente na praia, das “Jam Sessions” na Associação Africana ou no Consulado da Suécia, das festarolas politizadas na residência universitária do “Self”…
Do “Grémio” ao “Naval”, do “Oceânia” às “bifas” “I love you and i don’t give up” nas paixões da “season” no Miramar, no Peter’s ou no Dragão de Ouro e no “camping” dos amores “forever” de uma semana.
Elas felizes e eles contentes, 24 horas por dia, religiosamente sincronizados com a Estação “B” da “LM Radio” e do Hit-Parade do David Davies, aos Domingos à noite…, “at 8 o’clock”.
Finalmente, o desassossego provocado no topo do Hotel Girassol pelo Carlos Duarte (vulgo “Ass”) vocalista dos “Inflexos”, fazendo convergir no seu simbolismo, a irreverência da juventude numa liturgia de desencontros para a insensatez de narcotizantes consumos, o princípio do fim de tantas “viagens” sem regresso. A derradeira época da “saudável loucura” aqui reproduzida…
Fernando Cerejeira
- A antiga cidade de Lourenço Marques é uma saudade com muitos anos. São sentires comuns de todos os laurentinos, mas por muito que escrevemos ou ouvimos, não conseguimos exprimir o que sentimos.
No entanto este texto de Fernando Cerejeira fazem mergulhar em recordações de uma época que marcou e ainda marca a vida de muitos de nós.
11 Comentários
Jorge
Boas, por acaso têm uma foto do antigo bairro dos sargentos?
Rui
Muito do descrito nesta “pequena” síntese do módulo vivendo da época na nossa amada LM relembra me as minhas melhores memórias de juventude. Faltará, talvez, como pinceladas finais, a lembrança dos cheiros de especiarias no bazar , das latas com laranjas e tangerinas doces como aquela terra, dos ananases, vendidos á meia ou dúzia e, finalmente dos sons do amanhecer e do anoitecer
Candido Ferreira Neves
Sem duvida foi os melhores anos da minha vida. Nasceram duas filhotas. Conheci Mocambique do norte ao sul. Aminha profisão obrigava estar ausente cerca de um mes, tres vezes por ano. Fiz amizades em todos os locais visitados mas, o que mais me marcou foi a Ilha de Moçambique.Passei momentos inesqueciveis. Hoje com 86 primaveras, as saudades em vez de diminuirem são cada vez maiores. HAMBANINE MOÇAMBIQUE. CHUANO POVO DE MOÇAMBIQUE SEMPRE PRESTAVEL CONNOSCO..
Angelina C. C. Antunes
Foi bom recordar a cidade mais linda que conheci. Vivi lá, dos 21 aos 32 anos de idade. Deveriam ter sido os anos mais felizes da minha vida,mas foram anos de muito trabalho e bastante sofrimento.Aqui,eu recordo o nosso Camões <>
fernandocerejeira@msn.com
Senhor Carlos Saraiva
Em primeiro lugar aproveito para o cumprimentar.
Em segundo lugar devolvo-lhe a pergunta:
O que é que o senhor tem a ver com a tal “classe” a que eu supostamente pertencia?
À época eu era um jovem estudante dos Marista. Posteriormente fui aluno no então Liceu Salazar ande completei o antigo 7º anos para depois me formar em Direito em Lisboa.
O meu saudoso pai exercia funções como Inspetor Superior nos CFM.
Mais alguma pergunta?
Ao seu dispor,
Saudações amistosas.
José Rafael Bento de Araújo e Silva
Sr. Fernando Cerejeira
Uma descrição da culinária e da vida festiva na nossa bela cidade.
No que respeita ao início do seu texto estou com o sr. Carlos Saraiva. Uma visão infeliz e serôdia a estragar a sua boa descrição. Na verdade a juventude vivida em L.M. foi alegre, festiva, despreocupada, vivida em grande liberdade. No entanto havia hábitos de trabalho que impulsionaram a vida económica e por lá se formaram e tiveram sucesso quem frequentou os cursos quer do ensino técnico, comércio e indústria, quer do ensino superior.
Como tive a felicidade de participar da vida dessa juventude, não me revejo no início do seu texto, que faz dessa juventude um bando de patetas.
Já agora o sr. Carlos Saraiva fez-lhe quanto a mim um reparo justo, não merecendo a sua resposta desabrida.
Os meus cumprimentos na certeza que se um dia chegarmos à fala, provávelmente nos tornaremos amigos.
Orlando Oliveira
Muito bom recordar aqueles tempos que nunca sairão da nossa memória.
O pior são as saudades do nosso modo de viver tão simples e divertido.
Wanda Serra
Mto apreciado por mim este maravilhoso reviver de um inesquecivel tempo.
Gostei Fernando
Carlos Saraiva
O texto diz alguma coisa da nossa vida em LM, mas não entendi, se calhar por falta de inteligência da minha parte, o que quereria fizer com “era uma rambóia protagonizada pela aburguesada e nova-rica “fidalguia desfilante” trajando elas “Laurentina Borges” e eles smoking do “Principe de Gales” e os menos abastados as fatiotas da “Saratoga” os assim-assim com sapatinhos da “Hélio”- – – – – – – – – – – – – – -, só fiquei com uma dúvida, a qual destas “classes” pertencia o Sr. Fernando Cerejeira? Fico a aguardar uma resposta, mesmo que seja “aborguesada” mas sincerado autor. De um remediado que vivia assim-assim, mas trabalhador, na nossa maravilhosa Lourenço Marques.
Maria Alice Gomes
Olá Carlos já que não posso falar contigo de outra maneira aproveito para saber como estás e a tua família está tudo bem olha nos por cá estamos muito mal não sei onde vamos ter seja o que Deus quizer espero que não fiques aborrecido por escrever aqui mas já tenho saudades de falar contigo que Deus vos abençoe e um beijinhoho para ti e tua família resto de domingo muito feliz na paz de Deus
Zulfi
Muito agradecido Cerejeira por me ter ajudado a reviver aqueles belos momentos no que foi um paraíso para mim e como noto para muitos.
Deixei essa linda terra em rumo para a Inglaterra em 1968 mas o coração ficou la!,,