Nome: Cândido do Carmo Azevedo.
“Alcunha” ou nome pelo qual és conhecido entre os amigos: Cândido, ou “o irmão do Américo”.
Data de nascimento: 24 de Agosto de 1948.
Natural de: Damão – antigo Estado Português da Índia.
Localização actual: Jardins da Parede – Parede.
Estado civil: Casado e bem, há já 47 anos, como tantos outros do meu tempo …
Altura e Peso: De altura tanto quanto baste, mas para baixote; encorpado, mas em dieta, agora nos 75/76 Kg.
Ideologia Política: Porque a vida me ensinou, em tempos e espaços tão diferentes a ser bom português e democrata, direi aquilo que Eça de Queirós disse em 1872, logo, um aviso com mais de cem anos, sobre o nosso desgoverno. Escreveu ele: “… da indignidade política, da ladroagem pública, da agiotagem, da administração grotesca de desleixo e de confusão”». Como vês, estava, desde então, tudo dito! E ninguém fez caso. E o que assistimos hoje, mais de 100 anos depois? Damos conta da mesma indignidade, do nepotismo, da enorme corrupção, com tantos escândalos silenciados, mordomias e regalias absurdas, ineficiências e má gestão no seu melhor …
Crença religiosa: Cristã.
Profissão: Profissionalmente reformado. Mas continuo a escrever em revistas e jornais (tenho uma coluna permanente no Correio do Ribatejo). Ainda procuro ganhar sabedoria e não perder qualidades. Desportivamente sou o representante da FITB pela introdução de um desporto novo em Portugal, o “tchoukbol”.
Em Macau ainda sou o coordenador de dois projectos na área de Lazer e Recreação: Passeios com História e Grande Encontro Anual de Jogos Tradicionais Portugueses (integrado no Festival da Lusofonia).
Localização da tua residência em Moçambique: 1958-1962 Rua Princesa Patrícia; 1963-1974 Av. Pinheiro Chagas. Sempre em Lourenço Marques, junto ao quarteirão da Associação dos Velhos Colonos, onde brinquei no seu parque infantil, nadei, saltei e namorei na sua piscina, li na sua biblioteca, fumei e fui mau jogador no seu salão de bilhar e casei-me no seu salão de festas …
Percurso escolar:
- Ensino Primário na Índia Portuguesa;
- 1º ano no Liceu Salazar em LM, 2º e 3º no Instituto dos Pupilos do Exército (Lisboa);
- 4º e 5º anos nos Maristas de LM; 6º e 7º anos no Liceu António Enes;
- 7º ano (repet./nocturno) no Liceu Salazar.
- (A partir do 5º ano passei a trabalhar nas férias grandes, tendo sido funcionário no Hospital Miguel Bombarda e na Fazenda Nacional, trabalhando com o Adriano Morgado, já recordado no BigSlam, era um grande jogador de futebol de salão.
Modalidades praticadas e clubes que representaste em Moçambique: Amante incondicional da prática desportiva, fiz um percurso desportivo bastante ecléctico:
- Hóquei em Patins no Malhangalene com o pai Adrião em 1958/59 pela Mocidade Portuguesa;
- Natação e Saltos para água, nos Velhos Colonos em 1959/60 e 64/66;
- Ginástica Aplicada, no Ferroviário de LM em 1964/68 com Júlio Roncon e na Associação Africana com Nuno Abranches. Em simultâneo guarda-redes de andebol e futebol de salão da selecção dos Maristas e Liceu António Enes.
- Futebol Salão, fui guarda-redes ao longo de anos nos campeonatos do Iquebal, Associação Muçulmana e Copa Malhanga, jogando pelo Clube dos Lisboetas, Clube 100 à Hora, Zuid (Campeão da Copa Malhanga), Casa Solgal, COOP, etc.
- Patinagem artística, em 1968/69 no SNECI, com a treinadora alemã Lote Cadembach (eram necessários rapazes e não pude fugir ao pedido do meu tio seccionista do clube e, havia muita miúda “sem par”).
Qual foi a tua principal modalidade? Enquanto verdadeiro praticante (cuidar do treino, das suas cargas, da alimentação, disciplina de vida, etc.), não na procura de um corpo apolíneo, mas por exigência da modalidade, foi a ginástica de competição. Iniciei-a nos Pupilos do Exército na sua Classe Especial, com o Prof. Robalo Gouveia.
Quais os atletas moçambicanos com quem conviveste nesta modalidade? Convivi no Ferroviário de LM com um grupo de bons ginastas como Vitalino Vargas, Jorge Ferreira, Fernando Reis, Filipe Vargas, Mário Reis, Eurídia Correia, Isabel Terna, Conceição Vargas, etc. Com a partida de Júlio Roncon ainda treinei algum tempo, pouco, na Associação Africana com Nuno Abranches tendo como companheiros a nata da ginástica moçambicana. Recordo-me do Mussá Tembe, Calliano, Zézito, Carlitos. Recordo também dois bons atletas com quem privei, um bom ginasta de saltos no tapete, o Humberto Coimbra, pertencia à classe do Prof. Rui Baptista e o meu homónimo Cândido Coelho. Infelizmente ambos já desaparecidos.
Competições de ginástica em que participaste? Classificações? No meu tempo de ginasta não havia campeonatos, mas apenas demonstrações. Portanto foram algumas como aquela quando o presidente Américo Tomás foi a Moçambique. Recebíamos uma medalha pela presença. Daí que os ginastas de LM até 1970, não tenham os peitos repletos de medalhas como os da natação, atletismo, etc. Ganhávamos sim outra coisa: um grande querer, pois a ginástica para nós era uma escola de vontade, virtudes, de amor, humildade, sacrifício e prazer onde para levar de vencida o férreo e imóvel aparelho fossem as argolas, barra fixa, arções, etc. a recompensa, nada mais eram que as nódoas negras e os “bifes” arrancados às palmas das mãos.
Os teus ídolos na tua modalidade de eleição: Em Moçambique: Mussá Tembe. No panorama internacional e actualmente pela constante evolução da modalidade: Simone Biles.
O momento mais frustrante na tua carreira de atleta: Foi na modalidade de saltos para água. Eu e o Carlos Sacramento Monteiro, (que já nos deixou) o meu eterno rival, passámos a ser convidados de quando em vez, pela secção de natação dos Velhos Colonos, como um duo de demonstração de saltos. E certo dia, convidados a exibir na piscina do Clube Militar, damos conta que a prancha de saltos não dispunha de elasticidade suficiente, e … arriscámos: grande fiasco, a maioria dos exercícios saíram mal. Pela primeira vez soube o que era ouvir assobios, apupos e risos. Algo desconcertante!
As modalidades que mais aprecias na qualidade de tele/espectador? Futebol e Ginástica.
Percurso profissional:
- Professor de EFD no Ensino Básico e Secundário (Moçambique em 1972/73, 1973/74 e Portugal 1974/75);
- Delegado Regional da Direcção Geral dos Desportos para o Distrito de Santarém (1976/1988);
- Chefe do Desporto Recreação no Instituto do Desporto de Macau (1988/1991);
- Chefe da Divisão de Equipamento e Construção de Instalações Desportivas de Macau (1991/1994) e Professor de EFD no Ensino Superior (Macau 1994/2001).
- Professor de História no Ensino Superior (Macau 2002/2013. Destacado durante 6 anos em 2 universidades na China). Como responsável da Dir. Geral dos Desportos no Distrito de Santarém, permaneci 12 anos e, com 11 governos constitucionais neste período, fui sempre reconduzido. Foi com gosto que dei emprego como técnicos ou monitores de desporto a alguns professores e desportistas vindos de Moçambique e necessitados de trabalho. Chamavam-na a “Delegação da DGD dos retornados”.
- Pertenci à Direcção da Feira Nocional de Agricultura durante 9 anos (1977/1985) e membro da Região de Turismo do Ribatejo (1987/88).
Serviço Militar. Quando, Onde, Como, Recordações?
- Quando: de 1969 (Ago) a 1973 (Jan).
- Como: Fui Alferes Miliciano Comandos. Servi na 17ª CC e na 1ª CC de Moçb. Fui instrutor em 2 cursos de Comandos da 2ª e 3ª Companhias Cmds./Moç.
- Onde: Em Cabo Delgado e Tete.
- Recordações: Como outros jovens moçambicanos o que fiz foi não desertar, nem ficar na retaguarda. Num clima que se por vezes nos derretia, outras, porque frio, nos vazava até aos ossos, entre tiros, rebentamentos, gritos de dor, sofri, chorei, embrulhei corpos, respeitei o inimigo, aprendi a não deixar que o medo me impedisse de tentar, aprendi a dar valor a todos os instantes, como se não houvesse amanhã. Rezei…e ELE satisfez o pedido!
Recordação marcante da vida militar? Nos Cursos de Comandos que dei, eu jovem conhecido de LM, fui instrutor na disciplina mais odiada: a ginástica de aplicação militar, a famosa GAM, onde se dava o tudo por tudo pela excelência física de um futuro operacional comando. Toda a malta me conhecia e eu tinha que fazer que não os conhecia de lado nenhum. Tinha que ser o mais severo possível. Foi difícil. Ganhei a fama de “Alferes FP”. Vou-me alongar com uma pequena história que se passou entre mim e o meu amigo Sérgio Albasini grande futebolista aqui sempre recordado.
O Sérgio esperançado na promessa do seu Desportivo, de que o livraria da tropa e dos Comandos enquanto recruta instruendo, não dava o seu melhor. Todos se interrogavam: mas ele um futebolista excepcional não aguenta? Não será “sorna”? E todos olhavam para mim o instrutor do físico, que tinha a obrigação de o “dobrar”. Sim era uma sorna propositada (à espera de sair) pois todos sabíamos da sua enorme capacidade física. E assim nós os dois, amigos, encontramo-nos numa situação inimaginável que vai durar vários meses, todo o curso de comandos. Um exigindo o máximo o outro numa indiferença total …. e quando não se esforça castiga-se fisicamente a doer… e o Sérgio sofreu todos os dias… Ambos cumpriam o seu papel. Acabado o serviço militar logo vem o 25 de Abril que não nos vai permitir o reencontro. Apenas nos reencontramos há uns dias atrás, após o meu regresso de Macau onde estive 31 anos, num almoço de gentes moçambicanas do desporto. E como verdadeiros homens e desportistas, sem rancor algum da ingrata situação que o destino nos destinara quando jovens militares, voltamos a abraçar-nos.
Fizeste duas Licenciaturas: Educação Física e História. Porquê? Por influência familiar e por ter frequentado o Instituto dos Pupilos do Exército em Lisboa quis seguir a carreira militar, mas fui recusado na Academia Militar, por não ter a cadeira de matemática do 7ºano. Licenciei-me então em EFD pelo amor que havia ganho à ginástica e desporto ao conviver com grandes Pedagogos e Professores de EFD em Portugal e Moçambique como: Robalo Gouveia, Fernando Ferreira e Valdemar Saágua (Port.), Manuel Prata Dias, João Boaventura, Rui Baptista, Hermínio Barreto e mais alguns em Moçambique.
E História porquê? Licenciei-me em História porque nasci em Damão, na Índia portuguesa, junto a uma enorme fortaleza. Aqui fiz o ensino primário, entre crianças hindus e moiras. À medida que crescia admirava aquele espaço de coexistência e de trocas de diferenças, entre o Oeste e o Este. Desde então que fiz a promessa de estudar aquelas paragens, paragens essas onde assumimos e cumprimos, a nossa vocação e missão na história da humanidade.
Para além dessa formação superior, frequentaste acções de formação complementar, úteis para um melhor desempenho profissional? Aqui interessa apenas o desempenho na área da EFD. Sim, frequentei muitos entre cursos de curta duração de vários desportos, estágios, reuniões científicas e técnico-profissionais, etc. Em Ginástica destaco:
- Curso em Espanha (12 dias ao longo de 3 anos) que me encartou como Treinador de Ginástica Artística e Trampolins pela Federação Espanhola (1973, 74 e 75);
- Estágio técnico em Bucareste, Roménia, junto da Federação Romena com o treinador Carol, o treinador da Nadia Comaneci (1977);
- Estadia como Observador Especial Português, ao Campeonato do Mundo de Ginástica Artística em Estrasburgo (1982).
Portanto também foste treinador. Descreve uma situação caricata que tenha ocorrido neste campo: Aconteceu em 1978 numa eliminatória do campeonato nacional de trampolins, em Almada. Era eu treinador de ginástica de trampolins da Académica de Santarém. A minha melhor atleta tinha-se lesionada no último treino. Levei-a na comitiva dos restantes atletas só para assistir. No período do aquecimento para a sua prova dei conta que só participavam 2 atletas no escalão juniores femininos. Mas o apuramento para o nacional era de 3 atletas por escalão. Então em cima da hora mandei-a equipar com um maiot emprestado, e com o pé todo ligado, disse-lhe para saltar de qualquer forma sobre o minitrampolim. Quando foi chamada apresentou-se e para surpresa dos juízes correu a pé coxinho e assim saltou para cima do trampolim. Aí caiu, mas foi pontuada com 0 pontos. Logo, como foi pontuada, classificou-se em 3º e teve direito a participar na final nacional, em Lisboa, um mês depois. Aí já recuperada sagrou-se campeã nacional de 1978. Chama-se Encarnação Noronha.
Qual a infra-estrutura desportiva que mais te impressionou ao vivo, no estrangeiro e em Portugal? Com tantos anos ligados ao desporto como técnico ou responsável distrital, percorri inúmeros países por esse mundo fora, visitando todo o tipo de instalações desportivas e recreativas. Era Professor na Universidade de Pequim quando foram os Jogos Olímpicos de 2008 nesta cidade. Fui correspondente de 2 jornais. Tive assim ocasião de visitar as instalações desportivas mais importantes. Excelentes.
Escolhe três modalidades diferentes da tua, e elege o melhor atleta de sempre (nacional e mundial) em cada uma delas:
Futebol: Cristiano Ronaldo “CR7”.
Hóquei em Patins: Fernando Adrião.
Natação: Mark Spitz
Possuis distinções ou louvores pelo desempenho profissional? Sim, dos Governos de Portugal, de Macau, Instituições universitárias, etc. Não é importante pormenorizar aqui.
Que desporto novo é esse que andas a fomentar em Portugal? É o tchoukbol.
O tchoukball nasceu das reflexões e pesquisas do Doutor Hermann Brandt, um eminente médico suíço, nascido na cidade de Genebra, que durante toda sua carreira cuidou de inúmeros atletas que se contundiam na prática de exporte.
Trata-se de uma modalidade com alguma semelhança ao andebol jogado por equipas de 5 ou 7 jogadores, onde não é possível: bater com a bola no chão e manter a posse da bola mais de 3 segundos, sendo obrigatório o remate após 3 passes entre jogadores da mesma equipa. A particularidade consiste em não haver contacto nem obstrução entre jogadores, na não existência de baliza nem de guarda redes, mas sim de um dispositivo em rede que ressalta a bola quando tocada, e poder ambas as equipas arremeter esta para qualquer lado do campo. É jogado em todo o tipo de piso.
A ONU reconhece-o como o desporto da paz, pois não havendo contacto nem obstrução não há qualquer violência, dando oportunidade ao jogador de demonstrar o seu melhor em ambiente de respeito e harmonia. Tem Associações, Federações, todo o tipo de campeonatos pelos 5 continentes. Em muitos países é o desporto escolar preferido. Em Portugal, nem o nome conhecemos. O nome vem do som da bola ao ser repelida pela rede (tchouk).
O teu clube do coração: o Sport Lisboa e Benfica. Aprendi a ser benfiquista na longínqua Índia, influenciado por militares idos de Portugal, teria uns 5 anos de idade.
Qual o teu hobby? Em casa e no estrangeiro?
Em casa: ler, escrever e ver os canais História, Odisseia, FOX e AXN. No estrangeiro: viajar à procura de cultura, aventura e história. Muito sucintamente: conheço as 7 maravilhas do mundo; conheço 75% de entre os 70 territórios que os portugueses colonizaram ou ocuparam em todo o mundo entre os séculos XV e XX. Estes territórios fazem parte dos meus estudos e foram temas de alguns livros meus já publicados pois em muitos deles vivi afectos, anseios, saudades, fados e angústias, não podendo ficar indiferente. Resolvi escrever.
Aventuras? Foram tantas (será um espírito herdado do Curso de Comandos?) pelo que apenas enumero umas poucas e perdoem-me a imodéstia:
Vi o Sol da meia-noite e a aurora boreal nos gelos do Norte da Suécia, conduzindo um trenó puxado a cães;
Trepei os White Cliff Range no Sul da Austrália; Mergulhei nos fundos de Palawan nas Filipinas;
Saltei de paraquedas nos céus do Alentejo;
Deslizei em canoa as gélidas e revoltosas correntes dos Himalaias no Nepal;
Trepei montado num yak os picos da “eterna juventude” em Sangrilá, província de Yunan, China;
… Mas também me emocionei em Olímpia, na Grécia, onde tudo começou… local importante para nós gente do Desporto.
Destino de férias preferido? Moçambique. Porque não?
Dizes que tens livros publicados. Fala-me deles.
Sim, sou já autor de nove livros. Perderia muito tempo se aqui os enumerasse. Refiro apenas aqueles que merecem algum destaque:
“Goa, Damão e Diu. Factos, Comunidade e Lazer nos meados do século XX. Memórias de uma infância feliz [Prémio Literário Camilo Pessanha, Instituto Português do Oriente, 1994] Já vai na 2ª edição.
“Portas do Cerco. A ténue fronteira no conflito sino-japonês de 1894 a 1945”. [Traduzido em Chinês pela Universidade de Comunicação da China].
“O Lúdico na História do Oriente Português. Um diálogo intercultural do século XV ao século XX” [Prémio Literário “Obra Excelente 2012” das seguintes instituições: Fundação Macau, Social Science in China Press e GuangDong Social Sciences Association. Uma investigação de 6 anos por todos os territórios da diáspora portuguesa oriental, do século XV ao XX e que foi a minha tese de doutoramento na Universidade do Porto.
“Eu, a alegria de viver e a escola, na minha longa e lusófona errância. Uns minutos de síntese para uma vida de análise”. [Editado pela Casa da Educação Física, Belo Horizonte, Brasil].
Sou também co-autor em alguns livros, mas destaco apenas este: “Ditema. Dicionário Temático de Macau” [Autor das entradas referentes ao Desporto, Divertimentos, Teatro, Festas e Guerra no Pacífico].
Viagem de sonho que gostarias de realizar ou que já realizaste? Como conheço largas dezenas de países e tudo quanto me interessou neles, creio que a minha viagem de sonhos será pegar numa tenda de campismo e percorrer o Portugal profundo, comendo e bebendo nas suas feiras… lembra-te que em 71 anos de idade apenas tenho 14 anos de Portugal intensamente vividos em Santarém. Os outros foram repartidos pela Índia (10), Moçambique (16), e Macau (31).
Programas televisivos do teu agrado? Porquê? Muito poucos. Um ou outro documentário interessante. Porquê? Sinto que a informação é, na sua maioria, instrumentalizada. A maioria dos outros programas – certamente por eu estar fora da moda – são apresentados por gente oca, com falsos trejeitos, com gente duvidosa como convidados e público imbecil. São exibições de tatuagens em exagero e piercings quanto baste, penteadinhos à maneira, tiques de todo o tipo, roupas as mais rasgadas possível ou outras que nem lembram ao diabo, desde os apresentadores, aos cozinheiros e costureiros… Faltam programas que cativem os jovens para valores e outros temas importantes, tão importantes na sua vida.
A tua estação de rádio? M/80.
Um livro que tenhas lido e que recordes? Terei de falar de muitos. Como equilíbrio à intensa actividade desportiva e, seguramente pelos tempos de contestação e novidade que varriam o mundo, – o inferno do Vietname, Maio em Paris, Jean Paul Sartre: “Vocês estão ampliando o horizonte do possível”, (recordam-se?), até o “Hello Houston. Aqui Apolo 11, na Lua” do Neil Armstrong, ganhei o gosto de ler horas a fio desde novo, pois uma grande biblioteca estava mesmo à frente da minha casa, a dos Velhos Colonos. Li então Leon Uris, Eric Maria Remarque, Sven Hassel, Rabindranath Tagore, Ernest Hemingway, Caryl Chessman, Alan Patton e muitos mais. Com essa leitura de resmas de livros, envolvi-me em temas inquietantes como o da guerra, da vida, morte, racismo, todos eles encerrando questões, por vezes, para além da minha compreensão, e desvendei então um vasto leque de modos de ser e viver. E a minha vida mudou!
Filmes preferidos? Algum especial? Todos de acção que nos mostre que a vida não é um mundo cor de rosa ou um tapete vermelho estendido. Especial? Muitos. Principalmente daqueles que tenho saudades e que os via no velhinho Varietá, mais a namorada do momento. “Bonnie e Clyde”,
“Odisseia”, “No Calor da Noite”, “Devagar Não Corra”, “Dio Como Te Amo”, etc. com a mão na namorada e não nas pipocas e coca-cola…
Qual o teu ator/atriz predileto? Harrison Ford.
Qual o estilo de música que aprecias? Quais? E a banda favorita de sempre? Sem dúvida a dos anos 60/70, música para dançar com a parceira nos braços e seduzidos pela canção. De preferência nos “parties de garagem”, Girassol, Polana ou Zambi. Canções de uma plêiade de românticos como Percy Sledge, Jane Birkin, Elvis Presley, Roberto Carlos, etc., que com os seus “slows” mexiam connosco, jovens debutantes dos finais dos anos sessenta: “When a man loves a woman”, “Je t´aime mois non plus”, “Love me tender”, “Eu te darei o céu”, “Adieu Jolie Candy”, “Ciao amore ciao” e tantas outras. A sedução começava com uma conversa de ouvido à parceira. Foi o tempo da excentricidade psicadélica, da perda da inocência, o tempo do The Doors com o seu “Light my Fire” and “Touch me”… Não havia nenhum de nós, rapazes do meu grupo, que não soubesse de cor os versos do “Only You”, dos Platters, e que não os murmurássemos, qual galanteio, chegadinhos, ao ouvido da bonita jovem enquanto se dançava:
Only you, can make all this world seem right
Only you, can make the darkness bright
Only you, and you alone, can thrill me like you do
And fill my heart with love for only you
Para as tardes-dançantes, onde dançávamos de tudo, como o Rock, Twist, AliGali, Marrabenta, Let Kiss ou Zorba a minha primeira escolha entre muitos eram as tarde-dançantes nos Velhos Colonos, … e até no Restaurante Matola-Rio.
A minha banda favorita, era Os Night Stars, pois foi o período da minha vida que mais dancei.
Acontecimento pessoal que mais te marcou? Porquê? Internacionalmente, foram os atentados terroristas de 11 de Setembro de 2001. Por tudo quanto provocou e dura ainda.
Pessoalmente, e hoje, ao ver o papel do Ministério da Educação recordo o meu passado e sinto-me injustiçado, o de me terem reprovado 3 vezes no curso liceal. Sempre por causa da severíssima exigência em matemática. Hoje verifico que já nem exames se fazem, passam com negativas e para acompanhamento dos estudantes há esse enorme rancho de pedopsiquiatras, pedagogos, sociólogos, psicólogos, etc. No meu tempo existia a Escola, (orgulho-me de todas onde andei), o Professor, a prática intensa do Desporto e, de quando em vez, duas palmadas do meu pai, fazendo jus ao ditado popular de que “de pequenino é que se torce o pepino”.
Um sonho ou desejo pessoal para Portugal? Para já, que esta crise do Corona Vírus, que nos vai “arrebentar” passe depressa e sem grandes danos. Recuperado o país que seja introduzida o “serviço militar obrigatório”. Porquê? Porque o país vai precisar. Porque os políticos, que deviam dar o exemplo, puseram o país no “forróbadó da cigarra”, e hoje falta à juventude o suporte de uma função verdadeiramente formadora, que os chame aos valores cívicos, preparando-os para o dever.
Citações favoritas: ao longo da minha vida tive várias. Mas porque amei a minha vida de desportista ecléctico e a profissão de professor onde encontrei não apenas o ganha-pão, mas uma substantiva razão de ser e agir, agora na posição de reformado e ao olhar para trás, há uma que gosto de citar frequentemente. A do escritor galego Camilo José Cela (1916-2002), prémio Nobel da Literatura 1989, pois como ele posso também dizer:
“Creio que fui um homem honesto, que se dedicou àquilo que gosta de fazer. Foi uma bênção de Deus poder viver a fazer aquilo de que se gosta”
Se te saísse o euromilhões o que não dispensavas ter ou fazer?
Depende da quantia. Mas uma coisa te garanto: se fosse elevada a quantia faria filantropia, e semestralmente faria uma grande festa juntando os amigos da minha infância e juventude. Tal como fiz pelos meus 60 anos, quando reuni na minha casa em Almeirim cerca de 80 amigos, todos moçambicanos, que já não via há décadas. Houve música do nosso tempo com DJ, gastronomia moçambicana e muita laurentina e catembe. Gosto de estar rodeado por gente amiga.
Como imaginas Portugal num futuro próximo? Estás optimista? A continuar assim Portugal está condenado a ser um país adiado. Mas tenho esperanças.
Elege um animal de estimação: o cão. O meu “Tarzan”, Lobo de Alsácia, em LM e o “Cadete” (era do meu filho, então cadete da Academia Militar), um Cocker Spaniel, em Almeirim, Santarém.
As tuas qualidades? As normais penso: gentil, equilibrado, mas batalhador e íntegro. Não conto piadas ruins e desagradáveis. Não uso o telemóvel quando estou sentado à mesa.
Os teus defeitos: tenho alguns mas o maior é ser um pouco ingénuo, acreditando sempre no outro. Um outro é o de emprestar livros e não anotar num papelinho, pois acabo por nunca os receber de volta.
Dá a tua opinião sobre o www.BigSlam.pt :
Se escrevo e leio bastante e mesmo assim acedo sempre ao BigSlam é sinal que gosto. Porquê? Porque depois que saí de Moçambique perdi o rasto à maioria dos meus amigos de infância, da juventude e dos campos de jogos, sejam eles brancos, pretos, chineses ou indianos. E no BigSlam vou sabendo de um e outro. Por isso o BigSlam tem feito um trabalho altamente notável. Tem procurado trazer uma memória comum e uma ligação afectiva, pelo desporto, de uma inteira geração. Com essa memória tem tornado presente o passado já longínquo.
Deixa aqui a tua mensagem para os leitores do BigSlam: Os portugueses vivem tempos difíceis, antes e agora, com o corona-vírus. Mas estou certo que na riqueza do nosso passado, seremos capazes de encontrar um novo rumo com esperança.
BigSlam agradece ao Cândido Azevedo toda a sua disponibilidade e simpatia em responder a esta entrevista.
Bem haja!
28 Comentários
nino ugheto
Parabéns Muito interessante Bravo Mas infelizmente Tudo passa tudo acaba… Nem acredito que L.Marques tenha exestido Um abraço
Augusto Silva
Foi muito agradável conhecer tão interessante currículo. Os meus parabéns pelo seu passado. Um abraço.
josé carlos alves da silva
Muito bom rever o Cândido Azevedo. Força e Parabéns. Um abraço
candido azevedo
Aqui vai manuel um mais moderna marrabenta
https://www.facebook.com/eduarda.nasillo/videos/3185105618189058
Cândido Ramiro Filomeno do Carmo Azevedo
manuel entretanto vai aqui uma marrabenta para gente da nossa idade. V~e o link
https://www.facebook.com/pinto.sapereira/videos/10215065172174009
Mariano Barreto
Que bom ”rever-te” pelo bigslam. Um grande abraço amigo. Mariano Barreto
Maria vera correa da Silva
Gostei. Um beijinho tua orima Vera, quando passar este pesadelo vamos de novo almoçar
Cândido Ramiro Filomeno do Carmo Azevedo
Tinhas toda a razão Mariano. Li este teu comentário, pensei em responder querendo saber de ti e olha …. passou. Abraço
Cândido Ramiro Filomeno do Carmo Azevedo
Prima muito obrigado.
Vitor Almeida
Conheci o Cândido Azevedo nos longínquos anos 69/70 em Moçambique na cidade Vila Cabral, actualmente denominada Lichinga. Estávamos a cumprir o serviço militar obrigatório e ambos incorporadas na 17ª Companhia de Comandos. A nossa convivência prolongou-se até Setembro de 1970, altura em que regressei á Metrópole dado que havia terminado a minha comissão. Como militar primava pelo rigor, exigência e determinação no cumprimento das missôes. Como homem era uma pessoa afável, extremamente humana e sempre pronta a ajudar. Ouvia mais do que falava, era um bom conselheiro e um óptimo fisionomista. Pessoa muito activa na organização de eventos desportivos para manter a rapaziada ocupada durante os tempos de inactividade operacional. Estivemos muitos anos sem nos encontrarmos, até que um dia ao desembarcar do ferry boat em Macau tropecei no Cãndido Azevedo que estava ali para receber o grupo que havia viajado de Portugal. A principio não o reconheci. Depois de trocadas algumas palavras e a minha memória ter recuado no tempo, então sim,trocámos um prolongado e afectuoso abraço. Foi um óptimo ciceróne em Macau, cidade que muito bem conhecia e onde era muito estimado e conhecido pelas actividades que aí desenvolvia. Desde o seu regresso a Portugal que nos vamos encontrando com mais assiduidade nos convívios dos ex-militares.
Quero expressar -te a minha admiração pelo teu invejável curriculum que de todo não conhecia.
Parabéns,Cândido Azevedo. Fico-te grato por seres meu amigo.
Mama Sumae!!!
Cândido Ramiro Filomeno do Carmo Azevedo
Amigo Vítor é sempre um prazer encontrar velhos camaradas. Abraço
LUIS ARRAIS
Excelente entrevista sobre um GRANDE HOMEM. Obrigado por tudo aquilo que deixou “plantado” na melhor cidade do Mundo: Santarém.
Bem Haja.
Encarnação Noronha
Obrigada Professor.
Para sempre no meu coração.
Feliz o homem com uma vida de tal tamanho.
Delfim
É claro que não conheçi este companheiro da terra. Mas li a entrevista e é brilhante o percurso deste madala. Um grande currículo sem dúvida. Tem gozado bem os seus anos de vida e ainda continua. Cinco estrelas. Muitos parabéns.
Zito Abdula
Grande amigo Cândido. Dos pupilos do exército até Boane onde nos conhecemos e parceiros no mesmo pelotão do curso de oficiais milicianos. lembro-me de andarmos sempre picados nos exercícios de aplicação militar.Desde então nunca mais soube de tí. Sobrevivemos e cá estamos num novo combate. Com esta entrevista viajei imenso….”NIGHT STARS” festivais yê yê no pavilhão do Malhanga.
Um grande Abraço amigo
Cândido Ramiro Filomeno do Carmo Azevedo
Oh Zito espera aí. ?? Tu não és o Zito que era craque no futebol de salão? Joguei tantas vezes creio, contigo. Dizes que só nos conhecemos em Boane? Não foste do meu curso de oficiais milicianos em 69? Creio que já nos encontramos num dos almoços organizados pelo Van. Ou não será? Esclarece isso e se possível manda-me uma foto do nosso tempo ou mesmo actual pois tenho a certeza que te reconhecerei. Abraço
Ernesto Fena
Gostei imenso de ler a tua entrevista, fizeste me recordar tempos do nosso Lourenço Marques, quando ainda jovens e no nosso Ferroviário muitas vezes sentado no pavilhão a deliciar-me c as tuas acrobacias nas argolas, paralelas e outros adorava, algumas das vezes até chegava atrasado ao meu treino de futebol Junior que era logo ali Como bem sabes perdia a noção do tempo, esse tempo passou e quis o destino fazer o novo encontro no batalhão de comandos em montepuz, fiquei contente por te ver mas não tinha noção de que era ser comando dirigir-me ati para te cumprimentar e a tua resposta nua é crua foi, você conhece me de algum lado desaparece da minha frente, era assim nos comandos tinha que ser, mas algum de curso tudo voltou ao tempo antigo, amigos como sempre vieste a ser mmeu comandante de grupo e meu comandante de equipa, por isso aqui deixo o meu muito apreço e obrigado por teres feito de mim um comando. Um abraço amigo e tudo de bom para ti e família.
António Correia
O Candido tem o condão de alumiar quem se cruzou no seu caminho!
Tive o privilégio de me cruzar com ele há umas três décadas a Oriente da vida mas a luz do seu imenso saber tem sido uma enorme benção nestes tempos outonais. Memorável foi a viagem que fiz sob a sua liderança à antiga Provincia do Norte do que foi a Índia Portuguesa!
Tempos de cumprir a promessa do livro a quatro mãos, meu irmão de afeto!
António Amorim Lopes
Para começar tenho que pedir desculpa por iniciar esta conversa com o envio de um forte abraço ao meu amigo e compadre Cândido Azevedo, padrinho do meu filho, nascido, fez ontem 50 anos, na Maternidade do Hospital Miguel Bombarda, na bonita e saudosa Lourenço Marques. A comadre, madrinha Isabelinha Veloso, telefonou ontem ao afilhado, assim como depois ligou para os pais do aniversariante.
Quanto ao que foi divulgado sobre a entrevista, posso dizer que conheço bem Cândido Azevedo e por isso não admirei com as respostas 100% favoráveis que lhe foram dirigidas. Trata-se de um grande homem com um sentido de justiça e harmonia perfeito e quando assim é tudo esta bem. Julgo que a entrevista foi muito bem conduzida e por tal também
António Amorim Lopes
Julgo que a entrevista a Cândido Azevedo foi muito bem conduzida e por tal também o Big Slam merece os parabéns.
Cândido Ramiro Filomeno do Carmo Azevedo
Estimado Amigo Prezado Compadre fico agradecido pelo seu comentário. É um prazer saber de si. Parabéns ao Toninho pelos seus 50 anos. A vida passa depressa . Espero abraçá-lo quando este pesadelo terminar. Um abraço para todos
MARIA MANUELA ANTUNES GALVÃO DE ALMEIDA
Parabéns Candido Azevedo!Em Moçambique se “forjaram” Homens desta têmpera!
Manuel da Silva
Ahhh Já me estava a esquecer:
Candido, escreveste que gostavas de MARRABENTA então vê como se canta e dança actualmente na nossa querida (minha 2a. pátria) Moçambique:
https://www.youtube.com/watch?v=aL0HI9HTgDs
Esta miúda canta e dança que não sei como a descrever … ela tem muitas!
Cândido Ramiro Filomeno do Carmo Azevedo
Prefiro a marrabenta. Isto não é nada, senão efeitos da globalização no mais negativo.
Manuel da Silva
Já percebi: https://www.youtube.com/watch?v=-W15UOM8W5A
Manuel da Silva
CANDIDO AZEVEDO,
Estou estupefacto (corrija-me esta palavra tem c ou não Sr. Prof. Cândido … ahh ahh!)
Quem diria!
Eu já calculava … mas sabia tão pouco sobre ti … meu rapaz, amigo, bom conversador, culto, patriota, … e frequentador dos cafés na Rua Pedro Coutinho e Caravela, onde nos encontrávamos durante tantos anos em Macau.
De mim, levas somente isto, hoje:
http://ultramar.terraweb.biz/ManueldaSilva_AlferesMildeInfantaria.htm
Um abração e obrigado por ler tanto sobre ti … e o prazer que me deste de rever-te e falar-te.
Um abração
Manuel da Silva e Raquel (tua prima)
Cândido Ramiro Filomeno do Carmo Azevedo
Obrigado Manuel da Silva. Um abraço para vocês com saudades do café junto ao Caravel Court.
O meu endereço de email: ccarmoazevedo@yahoo.com
Manuel da Silva
Obrigado Cândido!
Vou contactar-te brevemente,
Um abração