“UMA DATA NA HISTÓRIA” – 24 de Julho de 1875… Dia da Cidade de Lourenço Marques
A sentença arbitral do Marechal Mac Mahon proferida a 24 de Julho de 1875 trouxe como consequência imediata a proclamação da povoação de Lourenço Marques em vila, por decreto de 9 de Dezembro de 1876 de El-Rei D.Luis I, e a vinda da Expedição das Obras Publicas em 7 de Março do ano seguinte.
A data de 24 de Julho passou a ser o dia da cidade de Lourenço Marques.
Transcrevo, com a devida vénia, um excerto do livro de Alfredo Pereira de Lima “Introdução à História de Moçambique”:
“Um dos mais vivos ataques á nossa dominação na baía e sobretudo nos territórios a sul da mesma foi o sonhado e levado a efeito pelo audacioso capitão Owen em 1822-1823, depois de se apresentar em Lourenço Marques muito recomendado pelo nosso Ministro do Ultramar e Encarregado dos Negócios de Portugal em Londres , sob o pretexto de que vinha numa missão cientifica.
A Inglaterra numa visão do futuro, desejava estender a sua Província do Natal até Lourenço Marques. Deste modo, enviado o capitão Owen com falsas intenções, este internou-se a sul pelas terras do régulo Tembe e Maputo, falsificando tratados com estes régulos pelos quais cediam á Inglaterra as regiões sob o seu domínio. Mais tarde uma magistral memória em réplica aos argumentos ingleses, apresentada à arbitragem do Presidente da Republica Francesa Mac-Mahon lhos aniquilou e deitou por terra.
O procedimento do capitão Owen mereceu o nosso protesto mas a Inglaterra não mudava a sua atitude. Assim em 1861, em conformidade com o pseudo tratado de Owen e para lhe dar inteira execução, desembarcou em Lourenço Marques um oficial, do navio de guerra “Narcisus”, notificando ao governador que o comandante deste navio britânico ia tomar conta da Ilha da Inhaca que incorporaria na colónia do Natal!! Oito anos depois a corveta inglesa “Pontevel” recebeu ordem para arvorar a sua bandeira na ilha, sendo Duprat o transmissor desta resolução britânica.
Poucos soldados portugueses foram precisos para seis meses depois deste acto abusivo arrearem a bandeira estrangeira e ali içarem a portuguesa.
Não nos convinha no entanto esta situação e luta permanente, e conscientes dos nossos incontestáveis direitos, levamos o assunto para a arbitragem sendo para ela escolhida a França na pessoa do seu Presidente Marechal de Mac Mahon, Duque de Magenta,
que em 24 de Julho de 1875, inspirado na mais sã justiça e razão, proferiu a sua sentença favorável, dando como “provados e estabelecidos” os nossos direitos”.
Como reconhecimento por esta decisão, nasce em L. M. a Praça Mac-Mahon, apresentada na foto, com o prédio da Estação dos Caminhos de Ferro de Moçambique (C.F.M.) ao fundo, com monumento em homenagem aos combatentes europeus e africanos da Grande Guerra.
Não deixe de ver o vídeo seguinte: Lourenço Marques “A cidade feitiço”.
Fonte: Arquivo do BigSlam. Texto de João de Sousa adaptado.
3 Comentários
Fernando Machado de Almeida
Nasci nesta linda cidade, vivi com qualidade que em Portugal nunca tive. Não precisei da porcaria do 25 de Abril para ter total liberdade. Enfim… a trampa dos politicos da altura deram cabo daquilo. Mau para os brancos, péssimo para os pretos.
É a vida… O que vale é que quem deu cabo daquilo já está no outro mundo… BOA VIAGEM
ABM
Ok, vamos lá:
1. O incidente do Capitão Owen não foi uma causa mas sim um sintoma. O britânicos não queriam estender o Natal até à Catembe, o que queriam mesmo era um pé na Baía, a melhor de longe em toda a África Oriental. Isso agravou-se com o Grande Trek dos Boers e a pretensão britânica de evitar que as repúblicas Boer tivessem acesso directo ao mar; esse problema era candente na década de 1850;
2. A decisão britânica de submeter a sua pretensão de se apropriar da zona a Sul de Lourenço Marques foi posteriormente lamentada e os britânicos aprenderam a lição: numa futura disputa, em Janeiro de 1890 (tinha o rei D Carlos acabado de ascender ao trono) mandaram um simples telegrama com uma ameaça. Em 8 horas o governo português capitulou;
3. A arbitragem não foi dada a Mac-Mahon para decidir: por acordo entre Portugal e a Grâ-Bretanha, foi entregue para decisão pelo chefe de Estado francês. Que, fortuitamente, aconteceu ser o Duque de Magenta, Mac-Mahon;
4. A evocação de 2M, particularmente significativa para Lourenço Marques (e por arrasto, a Maputo e a actual República Moçambique) não foi imediata. A Praça Mac-Mahon (hoje dos Trabalhadores) só foi assim chamada bem já no Século XX. Quando foi criada foi primeira designada de Praça Azeredo; quando foi primeiro criada, a Avenida 24 de Julho chamava-se Avenida Francisco Costa. Não sei quando a data foi designada o dia da Cidade mas durante anos não foi celebrada, aliás não conheço nenhuma outra cidade portuguesa cujo feriado municipal não coincida com a data da sua elevação a Cidade.
Bom feriado.
ABM
BigSlam
Parabéns ABM por mais este registo histórico do nosso Moçambique. Kanimambo!