“UMA DATA NA HISTÓRIA” – 9 de Março de 1939… Fernando Adrião
“COM O HÓQUEI EM PATINS NO SANGUE”
“Na verdade, eu nasci com a patinagem e o hóquei em patins no sangue. Influenciado naturalmente pela dedicação de meu pai à modalidade ainda muito antes do meu nascimento em 9 de Março de 1939, encontrei no âmbito familiar, como brinquedo favorito os patins. Já aos dezoito meses tinha os meus, e equilibrava-me relativamente bem. Aos dois anos tive a honra de entrar pela primeira vez num recinto reservado à prática do hóquei em patins, envergando a camisola do Futebol Benfica (clube de meu pai), bem como dos então famosos Sidónio e Olivério Serpa. Efetuei a minha primeira entrevista sem falar, pois meu pai disse tudo por mim, porque eu pessoalmente encontrava-me “demasiado ocupado” com a bola e o stique, nessa noite. O “Stadium” publicou. Essa é a recordação mais querida da minha carreira desportiva que hoje se traduz num papel que guardo com muito carinho. Daí em diante o meu entusiasmo foi aumentando e já em Lourenço Marques, em 1943 fui dos mais jovens a pisar o recinto do SNECI, quando ainda não havia nesta cidade uma Associação que dirigisse os destinos do hóquei”.
NO DESPORTIVO (GDLM)
“Tendo o meu pai, transitado para o Desportivo de Lourenço Marques, onde fundou a secção de hóquei em patins, eu acompanhei-o. Em 1948, iniciou-se a fundação a primeira Escola de Infantis, no clube, e no ano seguinte tivemos a honra de participar no programa da inauguração do primeiro campo do Desportivo para a prática da modalidade, com a visita dos então Campeões Mundiais, Portugal. Tive o primeiro jogo nessa ocasião e a alegria foi enorme. Jogámos os “A” contra os “B”. No ano seguinte efetuou-se em Lourenço Marques, o primeiro e único Campeonato de Infantis, aonde representei o Desportivo. Saímos vencedores. Conquistei o meu primeiro troféu. Ofereceram-me uma miniatura em bronze do Campeão Mundial, Sidónio Serpa, por ocupar o seu posto na minha equipa. Foi o primeiro estímulo, na minha carreira.
Ano de 1952 – Infantis Desportivo LM (GDLM)
Campeão de LM
Em cima: Fernando Adrião (filho), Carlos Santos, Álvaro Santos (Varito) e Fernando Adrião (pai) (treinador).
Em baixo: Abílio Moreira e Victor Machado da Cruz.
No ano seguinte transitei para as segundas categorias com 13 anos. Fiz aí uma época e depois ocupei o lugar de Mário Lisboa na categoria principal. Aos quinze anos era titular da equipa do Desportivo”.
Época de 1954/55 – GDLM
Campeão de LM
Em cima: Eurico Menezes, Romão Duarte, Cerqueira Afonso, Fernando Adrião.
Em baixo: Eurico Monteiro, Fernando Santos, Bettencourt e Garradas Domingues.
MONTREUX 1958
“Na minha carreira desportiva, tenho diversas recordações inesquecíveis, cada qual na sua ocasião e completamente distintas. No entanto, tenho duas bastantes significativas para a minha carreira. A vitória em 1958, na “Taça das Nações”, em Montreux, representando Portugal, na Seleção de Moçambique, quando na final perdendo por dois a zero, fomos vencer o encontro por quatro a dois. A nossa alegria foi de tal forma, que todos ríamos e chorávamos simultaneamente.
Seleção de Moçambique, em representação de Portugal em Montreux 1958
Em cima: António Souto, Abílio Moreira, Francisco Velasco, Fernando Adrião, Amadeu Bouçós e Manuel Carrelo.
Em baixo: Romão Duarte, Passos Viana, Alberto Moreira e Vítor Rodrigues.
Também em 1960 no Mundial em Madrid, quando tudo e todos eram contra nós vencemos na final a Espanha por três bolas a uma, e aquele público que nos silvou inicialmente, tributou no final da contenda a maior ovação que presenciei no estrangeiro. Nessa ocasião a alegria também foi enorme, mas todos tínhamos um orgulho muito especial na cerimónia da entrega dos prémios”.
Na sua vida artística Fernando Adrião representou oficialmente 2 clubes; o Desportivo e o Malhangalene. Ele foi, no dizer do seu colega de equipe Francisco Velasco “um caso único no desporto nacional e a sua carreira, uma das mais brilhantes até hoje vividas por um desportista”.
Segundo elementos obtidos junto da Federação Portuguesa de Patinagem :
- Foi cinco vezes Campeão do Mundo em, 1958, 1960, 1962, 1968 e 1974.
- Venceu a Taça Latina em 1953 e 1965.
- Venceu cinco vezes o Torneio de Montreux.
- Foi quatro vezes Campeão Europeu em, 1959, 1961, 1963 e 1965.
- Foi jogador Internacional, 145 vezes.
- Marcou 241 golos pela Seleção Nacional.
- Foi distinguido com a medalha de Mérito Desportivo (1960) e medalha de Honra ao Mérito Desportivo (1999).
Seleção de Moçambique – 1978
Campeonato Mundial de Hóquei em Patins – S. Juan na Argentina
Em cima: C1 (argentino do protocolo da Associação de Hóquei de San Juan), Miguel, C3 (argentino do protocolo da Associação de Hóquei de San Juan), João Boavida, Manuel Morais (Chefe da Delegação Moçambicana e representante do Ministério da Educação), João de Sousa (jornalista da Rádio Moçambique), José Mauro, Carlos Pinto e Arsénio Esculudes (falecido).
Em baixo: Fernando Adrião (selecionador nacional)(falecido), José Carlos, Neutel Abreu e Abdul Satar (Tesoureiro da Federação Moçambicana de Hóquei Patins). Dentro do autocarro: António Simões (falecido) e João Mangue (Massagista). Não aparecem na foto: Alfredo Nicolas (Guarda-redes), Américo Tavares e Luís Guimarães (Presidente da Federação Moçambicana de Hóquei Patins).
Fernando Adrião, esteve na primeira internacionalização como Moçambique independente (Mundial de San Juan – Argentina), faleceu no dia 12 de Janeiro de 2006. Se fosse vivo comemoraria hoje o seu 85º aniversário!
Fonte: Arquivo do BigSlam e www.franciscovelasco.com
17 Comentários
Fernando Teixeira Xavier Martins
Fomos colegas no 1ºano Turma/F em 1949 no Liceu Salazar (velhinho), mesmo ao lado da sala de aulas era o ringue de hoquei, Ele era o nr. 6 eu o 7 Saudades.
Carlos Galvao da Silva
Pura e Simplesmente o maior de todos os tempos. Foi realmente o Maradona do Hoquei patins.
freitas.mariagraca@gmail.com
Sou natural de Lço.Marques, lembro-me muito bem dele e gostava de o ver jogar. Que descanse em Paz.
Nino ughetto
Tudo passa tudo acaba, mas as nossas lembranças de L.Marques sào lembranças eternas. Um abraço na graça de Deus
Fritz
O melhor jogador de hóquei patins de todos os tempos, sem dúvida o mais completo
Luis 'Manduca Russell'
Vivam, novamente,
Um abraço ao Victor Nunes dos Santos – obrigado pela simpática mensagem.
Não referi – como não mencionei muitos outros detalhes, para não maçar as pessoas – que também fui (por um breve período de tempo) jogador do CD Malhangalene (grande clube também! lembro-me sempre do Eustácio Dias no basket). Em Portugal vesti também de azul e branco, no FC Porto, na segunda metade dos anos 80.
Cordias saudações a todo(a)s!
Orlando Valente
Falar de Fernando Adrião e falar de um dos maiores Ícones do hóquei Moçambicano. VER O FERNANDO ADRIÃO JOGAR era assistir a um vai vem rápido de defender e contratar… e o remate portentoso e certeiro carimbado de GOLO, GOLO, GOLO… DE FERNANDO ADRIÃO… E ASSISTENCIA TODA DE PÉ E EM UNÍSSONO GRITAVA
MALHANGA, MALHANGA E AS PALMAS ..
BELOS TEMPOS… E HOJE ÉS E SERAS SEMPRE LEMBRADO!!!
Nino ughetto
Olà Valente, faz:me prazer de me lembrare os nossos colegas e amigos do Desporto em si mesmo. Bravo os antigos campeoes da Namaacha. Um abraço
Orlando Valente
Concertina foi uma realidade,Quinhones, Noronha. Vasquinho, Antonio Silva, Amilcar Carlos Borges, Raul e tantos OUTROS..
E a fabrica de jogadores era na Namaacha, eram genuinos… Não eram Reciclados pois eram DA juventude Salesiana.
O.VALENTE
josé carlos alves da silva
Descanse em Paz. Grande Homem, Grande Desportista e Atleta.
Victor Nunes dos Santos es dos Sant
Tive o privilégio de lidar com este Grande Desportista, pois foi meu Cunhado e Pai do meu primeiro Sobrinho, Bruno Nunes dos Santos Adrião.
Descansa em Paz meu Amigo.
Luis 'Manduca Russell'
Car@s Alvi-Negro(a)s e, em geral, Laurentino(a)s e Coca-Colas,
Hoje, se me permitem, quem vai contar uma história sou eu.
1974: Com 9 anos de idade, aprendi a patinar no Colégio D. Bosco em Lourenço Marques e representei a respetiva equipa de infantis;
1975: A minha falecida Granny Elsie, cidadã com tripla nacionalidade, Britânica, Portuguesa e Moçambicana (logo a seguir à independência de Moçambique), explicou que andar num colégio privado passou a ser visto como fascista, colonialista, racista e esclavagista, pelo que me mudou para a Escola Secundária de Lhanguene (gostei desta escola e dava jeito, porque morávamos no Bairro do Jardim).
Em termos desportivos, o meu pai pôs-me no hóquei do GDLM e, portanto, o meu treinador era o Fernando Adrião pai.
E quem era o ‘treinador-adjunto’? O Fernando ‘Pelé do Hóquei’ Adrião. De facto, o Fernando Adrião, já retirado como jogador, colega do meu pai na Tabaqueira, aparecia nos treinos conduzidos pelo seu pai, equipava-se a rigor e nós (incluindo um filho e neto Adrião, com a mesma idade que eu) beneficiávamos do privilégio de o ter connosco.
O Adrião pai, sapateiro de profissão e sábio do hóquei por vocação, andava preocupado por minha causa. Isto porque o meu pai, treinador de natação (quando estava sóbrio), pôs-me ao mesmo tempo na natação (no GDLM, claro) e o Sr. Adrião (pai) dizia que, assim, eu andaria sempre muito cansado e não conseguiria tirar o melhor proveito do meu talento para o hóquei.
O Adrão filho corroborava a posição do pai e tentava convencer o meu pai da necessidade de eu me concentrar no hóquei. Disse-lhe, em certo momento – disso lembro-me – que eu era um jogador com ‘souplesse’, com adn de driblador (como ele próprio, que foi considerado, entre outros feitos, o maior driblador do mundo) e faro de golo. O Adrião sapateiro dava-me presentes para me convencer. Por exemplo, fez-me uma pulseira lindíssima em cabedal, umas joelheiras, recauchutou umas luvas que ficaram como novas, etc.
Mas como eu estava a conseguir algum sucesso na natação, por exemplo, o record nacional ex aequo dos 100 metros bruços no escalão 11/12 anos, o meu pai não cedeu. E lá continuei eu em ambas as modalidades. Não era muito difícil e era até divertido: era só vestir e despir e atravessar da piscina para o pavilhão e vice-versa.
1976: O treinador Adrião pai indicou-me para a seleção nacional que foi participar num torneio internacional em Novembro, em Luanda, a propósito do Dia do Pioneiro. Segundo os jornais da altura, fui o melhor jogador do torneio.
1977: Infelizmente tivemos de sair à pressa da terra que nos viu nascer, porque alguém do governo moçambicano, munido de uma caneta, uma arma que, alegadamente, pode ser, se assim for utilizada, mais ‘letal’ do que as armas que tinham surgido antes, fez uma lei que obrigou o meu pai – e muitas outras pessoas que tinham a dupla nacionalidade – a optar pela nacionalidade portuguesa (tomou a decisão certa – sóbrio ou não, disso já não me lembro). E lá viemos nós num avião da Aeroflot, com escalas na Beira, Cairo, Yémen do Sul, Moscovo (2 dias), Luxemburgo, Lisboa (em Lisboa a minha mãe raptou-me mais uma vez ao meu pai e escondeu-me numa aldeia em Trás-os-Montes, mas isso já são outras histórias… que, infelizmente serviram para estragar o meu progresso como desportista…)
E assim acabou esta história…sei que não foi final muito entusiasmante, mas enfim… manda quem pode (e quem tem as armas…).
Um grande Viva! ao Fernando Adrião! E saudações fraternais para todo(as)!
Bem-hajam!
Victor Nunes dos Santos es dos Sant
Bonito texto Luís Russell (Manduca).
O Fernando Adrião (filho), foi meu cunhado e Pai do meu primeiro Sobrinho, o Bruno Adrião e cheguei a conviver com o mais velho Fernando e sua esposa Sra. D. Adelina.
O meu pai também foi quadro superior da SUT, (José Manuel Nunes fos Santos), de certeza que o seu pai o conhevia.
Um abraço.
Manuel Nunes Petisca
Então quer dizer que o senhor Vitor Nunes dos Santos era irmão da minha querida amiga e colega a saudosa Armandina dos Santos. Já cá em Portugal, ainda tive o privilégio da sua companhia em um dos meus almoços de Aniversário. Que descanse na Paz de Deus.
LUIS MANUEL ANDRADE RODRIGUES BATALAU
Tive o previléggio de ver jogar o melhor jogador do mundo, muitas vezes. Um génio!
Ana Rebelo
Que orgullho sinto em ter pertencido a esta época. Que saudades .Gozas da imortalidade. Eterno Fernando Adrião.
Manuel Martins Terra
Fernando Adrião, um nome lendário do hóquei mundial, e que deixou maravilhado quem teve a felicidade de o ver jogar. Exímio na arte de patinar e de remate potente e certeiro, fazendo golos espetaculares. Jogava também futebol de salão nos Torneios da FNAT,atuando pela Sociedade Ultramarino de Tabaco, onde trabalhava num cargo de destaque. Lembro-me da SONAREP, onde jogava o Octávio de Sá, e aqueles lances entre os dois eram quentinhos. Saudades,desses gloriosos tempos.