Informação sobre as cerimónias fúnebres do funeral de João de Sousa em Moçambique
- De modo a proporcionar ao João Sousa exéquias à dimensão da sua estatura, o velório terá lugar dia 29 de Outubro (quinta-feira), pelas 08H00 no Parque dos Continuadores e enterro terá lugar no Cemitério de Lhanguene pelas 10H00.
Pode acompanhar em direto as cerimónias fúnebres:
A TVM (Televisão de Moçambique – TVM) vai fazer o live na sua página de facebbok – Clicar no link: https://www.facebook.com/mocambique.tvm
Mensagem da RM (Rádio Moçambique): Entre na playstore e baixe o aplicativo Rmplay, em seguida seleccione o canal rmdesporto ou radio cidade maputo.
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Dois posts retirados com a devida vénia da cronologia do facebook de João de Sousa:
Haja vergonha, João; partir sem um Adeus!
Não se assustem quando as ruas encherem-se de datas desarrumadas que vasculham contentores de lixo a procura de um caco de valorização, não se assustem quando os acontecimentos por vontade própria atirarem-se na vala comum da nossa amnésia.
Façam favor, meus senhores, não se assustem, nem tirem as gravatas das línguas para fora quando os microfones saírem à rua carregados de protesto de vazio e não tão pouco quando a língua portuguesa cruzar as avenidas suspensa em muletas com uma algália de desgosto nas sílabas.
Façam um mínimo de favor, meus senhores, não se assustem. O João é que sem vergonha na cara partiu sem um adeus. Esteve por aqui, arrumou as datas, poliu os acontecimentos, deu-nos o beberão da língua, colocou porções da sua voz nos microfones da RM e do nada: partiu. Partiu como a mesma gentileza amarga que usava para afinar a sua voz na RM. Pelo menos na RM dizia “até a próxima”. Quem vai embalar as datas na história, colocá-las nas nossas montras, colá-las anualmente um novo rótulo, um selo?
Tinhas de ter vergonha na cara, João. Ter vergonha na cara de virar-nos as costas, amartelar-nos a nossa presença com teus passos de partida e no fim de tudo poupar-nos, talvez por elegância da maldade, do adeus. Tinhas de ter vergonha na cara, João. Quem vai abrir as lápides, acordar os mortos, recompor-lhes os ossos e entrevistá-los?
Abandonaste-nos como um professor que dá as costas à sua turma e evapora nos corredores da escola. E nós cá estamos de cadernos abertos, esperando por mais lições, esperando que as suas costas virem-se e o seu rosto volte para, pelo menos, balbuciar um adeus.
Tu relatavas os dribles e eu sei que eras capaz de fintar a morte tal qual fazias nos microfones da RM, eras capaz de fazer esperar a morte, ensiná-la a sua história e com um ar de revolta ensiná-la bons modos, ensina-la a língua. Mas tu não o quiseste, João. Partiste sem um adeus.
João porque não escreveste sobre a tua partida antes de nos dar as costas? Haja vergonha, João; partir sem um Adeus!
Sérgio Raimundo – Militar
Depois do choque e da incredulidade vem o luto. Não cheguei a estar frente a frente com João de Sousa, com imensa tristeza minha. Falei com ele pela primeira vez em 2018 quando buscava memórias da rádio em Moçambique, do período colonial. Tentámos uma conversa via WhatsApp mas quiseram as dificuldades técnicas que passássemos à escrita rapidamente para trocar palavras, mensagens, e que ele assim me fosse respondendo às minhas várias interrogações sobre o seu percurso, as suas experiências, práticas e lutas pela voz no então Rádio Clube de Moçambique.
Em Janeiro deste ano, voltei ao contato com ele. Ia finalmente a Maputo e gostaria de finalmente lhe falar face a face. Quis o destino que a sua agenda estivesse preenchida durante a minha curta estadia na cidade. Ainda tentou mudar planos, mas um convite irrecusável da televisão de Moçambique fez com que tivéssemos de voltar a adiar o nosso encontro. Prometi-lhe voltar a Maputo, e mais provavelmente teria regressado neste verão, não fosse a pandemia. O seu sentido determinado de compromisso, levou-o ainda a partilhar comigo, nessa altura, estórias e um material valiosíssimo para as muitas histórias que eu gostaria de contar sobre a Rádio em Moçambique. Há dias, quando vim a saber que o João de Sousa iria lançar um livro de memórias, disse-me num dos seus actos de generosidade gigantesca, que o caracterizavam, que me guardaria uma cópia do mesmo para quando eu finalmente pudesse regressar a Maputo.
Espero voltar um dia, mas guardarei para sempre a tristeza de não o ter podido conhecer pessoalmente. Às vezes esquecemo-nos que pessoas grandes – como ele – também partem. Era cedo demais para tal acontecer! Com a partida de João de Sousa interrompe-se uma vida com muito para viver ainda, para contar e também ensinar. É um marco do fim de um ciclo de memórias sobre uma era, que deixando legados, precisa de mediações históricas, coisa que só poucos como o João de Sousa podem, poderiam, fazer. Um bem haja João, onde quer que esteja. Estamos todos de luto.
Catarina Valdigem Pereira
Um Comentário
Zé Carlos
Depois de tão triste e inesperada notícia, gradualmente conseguimos aceitar que o nosso querido João de Sousa partiu de vez…
Ficamos com o luto.
Com a despedida, agora começamos a perceber o enorme vácuo que o João e a sua genorisidade irão deixar…
Condolências a familiares e íntimos.