BigSlam no Sul da América (7) – Montevideo encanta com a sua calma e Buenos Aires vibra com paixão
4 de março de 2025 – Terça-feira
O Sapphire Princess navegava rumo a Montevidéu, num tranquilo dia de navegação. Para entreter os passageiros, pelas 10h00 estava agendada uma demonstração de culinária no Princess Theater,
seguida de um tour exclusivo pelas cozinhas do navio — uma oportunidade única para conhecer os bastidores do requinte gastronómico servido a bordo.
Ao jantar, fomos brindados com um verdadeiro banquete…
Para entrada, deliciámo-nos com escargots, preparados de forma requintada e aromática, que nos surpreenderam pela textura e sabor.
Como prato principal, optámos por uma lagosta grelhada no ponto certo, servida com arroz e legumes, numa combinação leve e sofisticada.
A sobremesa foi um final perfeito: bolo de amêndoa com cobertura de chocolate, acompanhado por uma cremosa bola de gelado de baunilha — simples, mas irresistível.
Depois do jantar, fomos ao Princess Theater assistir ao espetáculo protagonizado pelo talentoso cançonetista Drew Pournelle, que nos brindou com uma atuação envolvente, cheia de charme, boa disposição e grandes clássicos. Uma noite perfeita para fechar o dia com música e aplausos.
5 de março de 2025 – Quarta-feira
O nosso navio atracou no Puerto de Montevideo por volta das 9h00 da manhã. Este porto do Uruguai é um dos mais movimentados da América do Sul. Situado junto à Ciudad Vieja, a zona histórica da cidade, este porto recebe tanto navios de carga como de cruzeiro, sendo o ponto de entrada ideal para explorar a capital uruguaia.
Ao nosso lado estava atracado o majestoso navio-escola da Marinha Espanhola, Juan Sebastián de Elcano, marcando uma escala significativa na sua 97.ª viagem de instrução.
A bordo encontrava-se a Princesa Leonor, herdeira do trono de Espanha, que participou nesta travessia como parte da sua formação militar na Armada Espanhola. A sua presença a bordo atraiu atenções e deu ainda mais visibilidade a esta escala diplomática e de formação, reforçando os laços históricos e culturais entre a Espanha e os países da América do Sul.
Depois de tomarmos o pequeno almoço, fomos conhecer Montevideo.
À saída do navio, observámos com curiosidade o majestoso navio-escola da Marinha Espanhola que estava ancorado ao lado do nosso. Possui quatro mastros com quase 100 metros de comprimento, que impressiona tanto pela sua imponência como pela sua história. Batizado com o nome Juan Sebastián de Elcano em homenagem ao navegador espanhol que completou a primeira viagem de circum-navegação ao globo, este navio é utilizado desde 1928 para formar futuros oficiais da Marinha.
O navio está pintado de branco com detalhes dourados ornamentados, a proa destaca-se pela sua figura decorativa elaborada, esculpida com motivos clássicos que evocam tradição e prestígio.
A título de curiosidade, e antes de partirmos à descoberta da capital do Uruguai, vale a pena lembrar que a moeda oficial do país é o peso uruguaio, em uso desde 1993. No dia a dia, é comum vê-lo representado apenas com o símbolo $, embora o seu código internacional seja UYU. À data da nossa visita, 1 euro equivalia a cerca de 47 pesos uruguaios, informação útil para pequenas compras ou pagamentos locais.
Logo à saída do porto, multiplicavam-se as empresas de turismo, oferecendo uma variedade de excursões para explorar Montevideo. Optámos por uma visita mais tranquila e acessível, ideal para conhecer melhor a cidade sem grandes esforços, permitindo-nos desfrutar dos principais pontos de interesse com todo o conforto e a um ritmo descontraído.
Partimos numa carrinha de 9 lugares, em direção à Rambla, a longa e icónica avenida costeira que acompanha as margens do Rio da Prata.

Foto de Claudio Di Mauro
Com mais de 20 quilómetros de extensão, é um espaço vibrante e descontraído, perfeito para caminhadas, passeios de bicicleta ou simplesmente para contemplar a paisagem. Ligando vários bairros da cidade. A Rambla é muito mais do que uma avenida — é um verdadeiro símbolo de identidade dos montevideanos, onde a vida flui ao ritmo sereno das águas e dos encontros ao ar livre.
Fizemos uma pequena paragem em Pocitos um ponto turístico imperdível da cidade, com vistas inigualáveis do Rio da Prata, de onde se pode tirar um lindo cartão postal e levar para casa a melhor lembrança de Montevideo.
Seguimos depois em direção ao imponente Estádio Centenário, um verdadeiro ícone do futebol mundial e orgulho do Uruguai. Construído em 1930 para acolher a primeira edição do Campeonato do Mundo de Futebol, o estádio celebra também o centenário da primeira Constituição do país. Com capacidade para cerca de 60.000 espectadores, é o único estádio do mundo declarado Monumento Histórico do Futebol Mundial pela FIFA. No seu interior, o Museu do Futebol preserva a rica história do desporto rei no Uruguai, num espaço que respira paixão e glória em cada canto.
A Helena e a nossa guia turística posaram com simpatia para a objetiva do BigSlam, num registo que eterniza mais um momento especial desta jornada por terras sul-americanas.
Durante o nosso passeio por Montevideo, fizemos uma paragem no Parque Batlle para admirar o Monumento a La Carreta, uma imponente escultura em bronze criada por José Belloni. Inaugurado em 1934, o monumento retrata, com grande realismo, uma carroça puxada por bois, conduzida por camponeses — um tributo ao esforço e à perseverança dos pioneiros rurais que moldaram a história do Uruguai.
Uma obra cheia de força e simbolismo, que nos transporta para as origens simples e resilientes deste país.
Junto ao Monumento a La Carreta, alguns vendedores ambulantes faziam pela vida, oferecendo aos visitantes uma variedade de produtos típicos. Entre eles, destacavam-se as cabaças para o mate, muitas delas artesanalmente trabalhadas, símbolo maior da tradição cultural da região.
Seguimos depois para conhecer o Mercado Agrícola de Montevideo, um dos espaços mais encantadores da cidade, onde tradição e modernidade se encontram.
Inaugurado em 1913 e restaurado cem anos depois, o edifício em ferro e vidro preserva o charme da arquitetura original, acolhendo hoje lojas de produtos frescos,
artesanato,
vinhos locais e iguarias típicas do Uruguai.
Mais do que um mercado, é um verdadeiro ponto de encontro cultural, um ótimo local também para experimentar sabores tradicionais do Uruguai, como o doce de leite, o queijo artesanal e, claro, o mate.
No centro do Mercado, deparámo-nos com um curioso monumento chamado “Alcátara”. Trata-se de uma instalação artística construída a partir de antigas bombas de água e tubagens, homenageando o passado agrícola e industrial da cidade. Rodeado por um espelho de água, este conjunto evoca a importância vital da água para a agricultura e para o desenvolvimento de Montevidéu, integrando-se de forma simbólica e harmoniosa no ambiente vibrante do mercado.
A poucos quarteirões dali, encontrava-se o imponente Palácio Legislativo de Montevideo, um dos edifícios mais emblemáticos da cidade e símbolo do poder democrático uruguaio.
Foi inaugurado em 1925 para celebrar o centenário da independência do Uruguai. Construído com nobres mármores nacionais e desenhado em estilo neoclássico com influências renascentistas, é considerado um dos edifícios parlamentares mais belos do mundo. Símbolo da democracia uruguaia, abriga as Câmaras de Deputados e Senadores, além de preciosos documentos históricos que contam a história política do país.
Junto ao Palácio Legislativo de Montevidéu, encontra-se o Monumento a José Pedro Varela, figura central da história uruguaia. Considerado o pai da educação pública, gratuita e laica no Uruguai, Varela foi um reformador que deixou um legado profundo na construção de uma sociedade mais justa e instruída. A sua estátua presta homenagem ao seu contributo para o desenvolvimento do país, num local que simboliza, também, os valores democráticos e progressistas do povo uruguaio.
Partimos depois para a Plaza Independencia, o coração da cidade, onde o passado e o presente da cidade se encontram. No centro da praça ergue-se a imponente estátua e mausoléu de José Artigas, herói nacional,
junto a um dos edifícios mais icónicos de Montevidéu – Palácio Salvo. Inaugurado em 1928 e projetado pelo arquiteto italiano Mario Palanti, destaca-se pelo seu estilo eclético e pela torre imponente de 100 metros de altura. Foi durante anos o edifício mais alto da América do Sul e continua a ser um símbolo arquitetónico da cidade.
Na Plaza Independencia podemos ver ainda o Palácio Estévez, um elegante edifício de estilo neoclássico, construído no século XIX. Antiga sede do governo uruguaio até 1985, acolhe atualmente o Museu da Casa da Liberdade, onde se preservam documentos e objetos que testemunham momentos marcantes da história política do Uruguai.
Mesmo ao lado do Palácio Estévez destaca-se a Torre Executiva, um edifício moderno inaugurado em 2009, que serve atualmente como sede da Presidência da República do Uruguai. Com uma arquitetura sóbria e funcional, contrasta com os edifícios históricos vizinhos, simbolizando a modernização do poder executivo no país. É daqui que se coordenam as principais decisões governamentais do Uruguai.
Na Plaza Independencia, destaca-se a Puerta de la Ciudadela, o último vestígio da antiga muralha que em tempos protegia Montevidéu colonial.
Esta porta histórica faz hoje a separação simbólica entre a Ciudad Vieja (Cidade Velha) e a cidade moderna que se estende pela Avenida 18 de Julio, funcionando como um portal entre o passado e o presente. É um dos marcos mais emblemáticos e fotografados da capital uruguaia.
Muito perto da Plaza Independencia, encontramos o majestoso Teatro Solís, o mais antigo e prestigiado do Uruguai.
Inaugurado em 1856 e situado à entrada da Ciudad Vieja, este teatro destaca-se pela sua elegante arquitetura neoclássica e pela sua importância cultural, sendo palco de óperas, concertos e peças teatrais de renome internacional. Uma verdadeira joia artística de Montevidéu, a poucos passos do coração da cidade.
Mesmo ao lado do Teatro Solís, encontra-se a estátua de Juan Manuel Blanes, um dos maiores pintores da história do Uruguai. Conhecido como o “pintor da pátria”, Blanes imortalizou cenas históricas, batalhas e a vida rural do país, contribuindo para a construção da identidade cultural uruguaia. Esta escultura homenageia o seu legado artístico, num local emblemático dedicado às artes e à cultura.
Antes do termino da excursão ainda deu para uma visita rápida à Catedral Metropolitana de Montevidéu, também conhecida como Igreja Matriz localizada na Ciudad Vieja, mesmo em frente à Plaza Matriz. Inaugurada em 1804, sobre os alicerces de uma antiga capela jesuíta, é o principal templo católico da cidade.
De estilo neoclássico, com duas torres elegantes e um interior sereno e ornamentado, com altares em mármore, vitrais coloridos e imagens sacras de grande valor artístico. A catedral é a sede da Arquidiocese de Montevidéu e um dos espaços religiosos mais importantes do país.
Após a excursão, regressámos ao navio e, a meio da tarde, decidimos explorar a Ciudad Vieja, o bairro mais antigo e histórico de Montevideo.
Mesmo junto ao cais de cruzeiros, encontra-se o emblemático Mercado del Puerto, um dos espaços mais animados e autênticos da cidade.
Inaugurado em 1868, é famoso pelas suas tradicionais parrillas, onde se saboreiam os melhores grelhados uruguaios,
e pelo ambiente vibrante, com lojas de artesanato, vinhos locais e, por vezes, música ao vivo. Um verdadeiro ponto de encontro entre a cultura, a gastronomia e a alma da cidade.
Ao sair do porto, somos imediatamente envolvidos pelo charme das ruas pedonais de calçada antiga,
praças carregadas de história, cafés acolhedores e mercados cheios de cor e tradição — tudo aquilo que torna esta zona num retrato vivo da identidade de Montevideo.
Ao final da tarde, regressámos de vez ao navio, mas antes ainda fizemos uma breve paragem para tirar mais algumas fotos — pequenos registos cheios de significado, que um dia mais tarde nos hão de ajudar a reviver este dia memorável por Montevideo, cheio de descobertas, sabores e encantos.
Depois de uma tarde em que o calor não deu tréguas, soube ainda melhor ser recebido com bebidas geladas e sorrisos calorosos — aqueles pequenos gestos simples que fazem toda a diferença e nos fazem sentir verdadeiramente bem-vindos a bordo.
Por volta das 18H00, o navio soltou amarras e partiu rumo a Buenos Aires, a última escala deste inesquecível cruzeiro pela América do Sul. Deixámos Montevideo com o coração cheio, acompanhados pelas imagens marcantes da despedida: o rebocador, que nos guiava com precisão, e a lancha do prático, que transportava o profissional encarregado de auxiliar nas manobras portuárias — pequenos grandes protagonistas deste momento simbólico de transição entre o que vivemos e o que ainda estava por vir.
Para trás ficava a surpreendente Montevideo, capital do Uruguai — uma cidade que nos conquistou com a sua calma, charme histórico e hospitalidade calorosa.
Antes de jantar, registámos o momento com uma selfie bem-disposta ao lado do simpático casal paraguaio que tivemos o prazer de conhecer nesta viagem — laços que se criam em alto-mar e que ficam na memória para sempre.
Depois do jantar, apesar do cansaço, ainda tivemos energia para assistir ao espetáculo de comédia e magia com Gastón Quieto.
Durante 45 minutos hilariantes, fomos surpreendidos por truques envolventes, muito humor e uma leveza contagiante. Um verdadeiro momento de descontração, ideal para encerrar o dia com sorrisos antes de recolhermos aos nossos aposentos.
Musica: Três lagrimas – Guitarra Azul
O mundo é um livro, e quem não viaja apenas lê uma página.”
Santo Agostinho
5ª – BigSlam no Sul da América (5) – Ushuaia e Cabo Horn: Rumo ao Fim do Mundo
6ª – BigSlam no Sul da América (6) – Do silêncio das Ilhas Malvinas à vida de Puerto Madryn (Argentina)
4 Comentários
Orlando Valente
Orlando Valente
Uma vez mais a nossa gratidão ao SAMUEL CARVALHO e sua esposa por mais este brilharete que nos apresenta, cheio de interesse e nos faz espraiar e simultaneamente deixar o espirito vaguear por longínquas terras por nos desconhecidas, mas que muito contribuem para nosso conhecimento. Para quem tem essa possibilidade de viajar com todas as comodidades, as ferias são vividas e os momentos que desfrutamos, ficarão na nossa memoria. Estes momentos serão inesquecíveis no entanto, aqui fica o meu agradecimento, quando lendo os textos alusivos, as fotos que mostram com a nitidez do momento, tenho a sensação que ali estou presente em espirito, partilhando do mesmo prazer…sim, do prazer que a vida nos proporciona…
Samuel Carvalho
Montevideo surpreendeu-me pela sua combinação harmoniosa de charme histórico, tranquilidade urbana e elegância à beira-rio. Com o ritmo calmo de quem sabe viver bem, a capital uruguaia convida a longos passeios pela sua icónica Rambla, explorações culturais nos seus mercados tradicionais e visitas a edifícios imponentes como o Palácio Legislativo ou a Plaza Independencia. Entre praças arborizadas, arquitetura que mistura o antigo e o moderno, e a simpatia do seu povo, Montevideo revelou-se como uma cidade que se vive com tempo, e que deixa saudades a quem a descobre.
nino ughetto
Uauuu. mas nào é justo… sào sempre os mesmos a passearem. …que bom ser jovem com dinheiro saude e livres..Que isso continue na graça de Deus. Um abraço
2luisbatalau@gmail.com
BELÍSSIMA REPORTAGEM . MONTEVIDEO É CONCERTEZA UMA CIDADE ENCANTADORA. OBRIGADO