“Quo Vadis 1 ” Angola
Ouvi e li nos meios de comunicação que Angola já tem provavelmente escolhido o seu novo presidente quando, José Eduardo dos Santos no poder desde 1979, sair.
Embora com eleições em 2017, na data marcada tudo se conjuga para que “dinasticamente” o novo presidente seja o general de três estrelas João Lourenço, actual ministro da defesa, muito bem visto nos meios militares.
Escrevo este artigo porque passou há poucos dias no horário nobre de uma televisão, uma reportagem sobre o estado a que o país chegou. A princípio pensei que fosse um filme de mau gosto feito por colonialistas saudosistas. Mas não! Era mesmo real.
Como é possível num dos países mais ricos de África passados 40 anos de independência existir ainda este nível de pobreza/miséria? Com meninos e miúdos sub-nutridos. Idosos de idade avançada sentados em frente às suas casas (?) sem o mínimo de condições, à espera nem eles sabem de quê! Escolas a céu aberto debaixo de árvores, com falta de tudo, sem o mínimo de condições. A funcionarem por “carolice” dos professores com salários em atraso! Assistência médico-sanitária só para os mais ricos. Para os outros nem vê-la!
Luanda, uma das lindas capitais de África, agora das cidades mais caras do mundo. Com esgotos a céu aberto e os miúdos a chafurdarem nas águas estagnadas! Ruas transformadas em picadas! Avenidas com dois sentidos, mas que por falta de conservação o trânsito só se faz em sentido único. Da segurança dos cidadãos nem é bom falar!
Tudo isto se passa numa Angola rica. Onde meia dúzia têm dinheiro para comprarem no exterior seguradoras, bancos, gasolineiras, carros topo de gama, grandes empresas, e…..outras! E o povo a ver que tem um país rico, mas que essa riqueza não é repartida por todos de modo a criar condições de vida condignas.
Os culpados? De certeza que não são os suspeitos do costume! Porque como diz este angolano de nome Isomar Pedro Gomes, benguelense a residir nesta cidade, no artigo “DEUS É BRANCO? ” e do qual transcrevo este excerto.
“…Por exemplo em Angola, quando por vezes nas datas históricas, oiço e vejo pela TV, indivíduos a mencionarem o que o ‘colono nos faziam’, sinceramente não sei se, choro de raiva ou se me mato de ‘risada’, “porque o colono fazia… blá-blá-blá” – dizem eles – hoje faz-se o pior! O colono, se fez, quase que o desculpo, é ou foi colono, é branco não é meu irmão de raça, etc., agora quando o meu irmão Angolano, preto como eu, (ex-companheiro da miséria e das ruas da amargura) faz o que viva e denodadamente repudiávamos do colono, esta ultima acção dói muitíssimo mais do que a acção anterior, dilacera e mutila impiedosamente a alma.
Por isso, logo após as independências Africanas, verificou-se o segundo êxodo – o primeiro foi dos brancos a abandonarem África – milhões de Africanos, abandonaram com angústia na alma e os olhos arrebitados de descrença a África, a maioria arriscando literalmente as suas vidas (o filme continua até aos nossos dias), seguindo os outrora colonos, porque chegaram a conclusão que afinal não é verdade o que apregoa o político Africano; “eles prometeram-nos o paraíso e dão-nos o inferno a dobrar”, disse um jovem africano em Lisboa nos anos 78-80 num programa da RTP.
- Há mais africanos hoje na Europa do que Europeus em África, porquê?!
A JUSTIÇA EUROPEIA
Os Europeus, muitos deles depois de chacinados em África pelas revoltas africanas, de regresso aos respectivos países embora destroçados de dor e amargura, receberam de braços abertos muitos dos antigos carrascos, dando-lhes um lar e emprego decente e uma vida digna, que jamais tiveram nos países de origem; Paz e sossego duradouro.
O contrário era possível? Se ainda hoje, 37 anos depois do fim da colonização, os dirigentes Angolanos (por exemplo) ainda se desculpam com a presença colonial Portuguesa em Angola, para justificar a pobreza e outros pesares que “estamos com ele” eles não são, nunca serão culpados, mas o colono (37 anos depois), SIM, estou seguro que, quando Angola festejar o 50º aniversário, os dirigentes Angolanos, ainda estarão a rogar pragas ao colono Português…”
É por isso que custa ouvir hoje as mesmas desculpas de há quarenta anos para justificar o atraso e pobreza da população. Se é verdade que houve uma guerra civil durante algum tempo, também é verdade que já acabou há 15 anos e o povo angolano merece, e tem direito a uma vida melhor.
(1) – Para onde vais Angola.
Quero agradecer ao Zé Russel a contribuição que me deu na elaboração deste artigo.
Para nós com o BigSlam o mundo já é pequeno!
João Santos Costa – Dezembro de 2016
Um Comentário
Carlos Hidalgo Pinto
Bem, o artigo foca a problemática pós-colonial e que aponta para a existência de enormes assimetrias nos territórios, outrora colónias portuguesas. . A guerra fria não ajudou a resolver a situação nesses territórios. Entretanto, passados estes anos todos, é tempo de pensar como é que os países mais avançados se desenvolveram. Foi realmente a migração de pessoas provenientes de vários continentes que se tornou num grande catalisador de desenvolvimento.
Parece e creio que já é uma evidência que a origem do Homem, teve lugar na África Austral, mais precisamente, em Moçambique. Há que pensar uma nova utopia e avançar com projectos comuns para a zona da África Austral. Terá que haver novos fluxos de investimento em portos, barragens, estradas, na agricultura, na indústria, na educação (onde tudo começa) e na saúde.
O Botswana parece ser um bom exemplo na região. A diversificação das economias de Angola e de Moçambique não pode continuar a ser adiada. A cooperação bilateral, trilateral e multilateral, terá que assumir novos compromissos entre os vários actores e decisores políticos e económicos, de forma a transformar estes países em locais bastante atractivos ao investimento. A interessante escala humana do povo português, juntamente com a dos povos angolano e moçambicano, poderão dar um enorme contributo para o desejado desenvolvimento dessas nações. Os países, os lugares e as cidades africanos(as), têm uma topofília (topohília) muito específica e é aqui que reside também as suas vantagens comparativas no cenário internacional. Há que tornar esta região da África Austral numa zona de procura de oportunidades, em que se registem vantagens recíprocas para os países e inverter o acima referido fluxo migratório africano para outros continentes. Portanto, a distopia deverá dar lugar à utopia e esta, por sua vez, deverá tornar-se realidade, desde que haja vontade de mudança.
As diferentes escalas de análise, conjuntamente com as adequadas ordens de grandeza, são necessárias na época da globalização, onde coexistem o local e o global, ou seja, o glocal.