Relatos de uma viagem por terras de África (5) – “Primeiro dia na cidade de Maputo!”
27 de fevereiro de 2017 – Segunda-feira
Apesar da véspera ter sido um dia extenuante, levantámo-nos cedo, pois a rotina e o ruído do tráfego em Maputo começam às primeiras horas do dia…
Aproveitei a boleia do primo Tadeu, que se ofereceu para andar connosco, neste primeiro dia em Maputo.
Tinha-me comprometido, com o Victor Pinho – um bloguista do BigSlam com o seu “Nambauane”, ir visitar a antiga atleta do CFM – Ludovina Oliveira, no Parque dos Continuadores.
A Ludovina é Coordenadora no Comité Olímpico Moçambicano da Mulher no Desporto, e proprietária da “Lanchonete do Atleta” no Parque dos Continuadores. Foi aqui que a fomos encontrar, num espaço simples mas muito acolhedor, e com toda a sua simpatia e energia positiva…
Perguntei-lhe por vários antigos atletas do atletismo moçambicano que, no Parque dos Continuadores (ex- Parque José Cabral) , pisaram tantas vezes estas pistas e que, dantes, eram em pó de carvão mineral – hoje, a maioria já não tem vínculos a esta modalidade, com exceção do Stélio Craveirinha que é técnico de atletismo, realizando os seus treinos logo às primeiras horas da manhã, das 5H00 às 8H00, muito cedo.
Em tempos, assisti a várias provas de atletismo neste local, aos sábados e domingos à tarde. No sector feminino lembro-me da Conceição Vilhena, Helena Relvas, Lucrécia Cumba, Isabel Santos, as manas Manuela e Conceição Alves…nos masculinos, Stélio Craveirinha, Cândido Coelho, Victor Correia Mendes, José Silveira, Luís Oliveira, Daniel Firmino, Victor Pinho, Cardoso… entre muitos outros atletas de craveira.
Recolhi algumas imagens do Parque dos Continuadores depois de reabilitado.
Uma pista sintética de qualidade
Bancada com a imagem de Samora Machel no acesso à tribuna de honra
Caixa de saltos
Meta e foto finish
Instalações da Federação Moçambicana de Atletismo e do Rugby Club
Zona de partida
Depois, visitei as instalações da Federação Moçambicana de Atletismo, na companhia do funcionário de serviço o Sr. Tinga, que me informou sobre o momento actual do atletismo em Moçambique.
Gabinete da presidência da FMA
Molduras com fotos dos antigos presidentes da FMA
Óscar Carvalho, Daniel Firmino e Rodrigo Oliveira
António Fonseca, Mumino Razaco, Emília Chemane
Aurélio Le Bon, Sarifa Magid e Shafee Sidat
Numa outra parede, existem fotos de antigos atletas de eleição do atletismo moçambicano.
O gabinete do secretário da FMA
Visitei também as instalações anexas, como a sala de musculação, que estão completamente abandonadas. As imagens falam por si:
Passadeira completamente deteriorada
O que resta dos colchões do salto em altura e vara,
O material e sala de musculação encontra-se em misero estado… não se compreende!
Ao lado das instalações da FMA, funciona o Maputo – Rugby Club
Mais ao lado, fica o local onde alguns atletas faziam o aquecimento para as provas; hoje existe uma tabela de basquetebol e, também, uma pista para skates
Por baixo da bancada, funcionam alguns departamentos comerciais
Junto à meta, ainda existe a velhinha mafurreira que proporciona uma sombra espectacular…
Por fim, despedimo-nos com a promessa de voltar uns dias depois, para provar a comida típica moçambicana, confeccionada na “Lanchonete do Atleta” da Ludovina Oliveira a convite da própria.
Partimos e o Tadeu levou-nos a dar uma volta pela cidade; recolhemos algumas imagens. Para quem aqui viveu, vejam se se recordam alguns destes locais. Alguns sim, certamente, mas outros serão completamente novos, para vocês.
Descida do viaduto em direção ao Clube de Pesca.
Junto ao pavilhão do Maxaquene (ex-Sporting LM), vê-se, ao fundo, o famigerado prédio de trinta e três andares. No lado esquerdo da foto, é tudo construção nova.
As célebres Torres Vermelhas, na Ponta Vermelha que foram construídas no início dos anos 70
O novo edifício do Banco de Moçambique, ao lado do Café Continental.
O extraordinário edifício do Banco Comercial e de Investimentos – BCI, na antiga rotunda junto à FACIM e Clube de Pesca, uma referência de modernidade para a cidade de Maputo
Este é, para mim, o edifício mais bem concebido e um verdadeiro marco arquitectónico da baixa da capital Maputo.
Depois, seguimos pela marginal em direção à Costa do Sol
Em frente ao Clube Naval, pode-se ver um mural, com as pinturas do pintor Naguib e a sua equipa, um trabalho de homenagem a Samora Machel com as suas frases aí marcadas.
Uma panorâmica da marginal de Maputo.
Passámos ao lado do Hotel Soutern Sun Maputo, que possui uma privilegiada localização.
A vista soberba sobre o Oceano Índico e a piscina são os pontos fortes deste hotel.
Um pouco mais à frente, e do mesmo lado, fica a memorável Cervejaria Miramar, situado na praia em frente ao paredão (molhe). Miramar é sobretudo conhecida pelos seus petiscos.
Do lado esquerdo, em frente ao Miramar, podem ver-se as torres do Hotel Radisson (vistas muitas vezes na telenovela da TVI – “A impostora”) com vista para o oceano
Mais à frente, vemos o Maputo AFECC Gloria Hotel, uma unidade hoteleira deconstruída por uma empresa chinesa, no complexo do Centro de Conferências Joaquim Chissano em Maputo.
Outra panorâmica da Marginal
Já depois do Automóvel Touring Clube de Maputo, podemos observar à nossa direita o novo Mercado do Peixe de Maputo.
Para quem ainda não conhece, aqui ficam algumas imagens:
O novo mercado ocupa uma área de 1.732 metros quadrados e integra cem bancas de venda, duas máquinas de produção de gelo e duas câmaras frigoríficas, além de 75 mesas para restauração e 40 quiosques.
O novo mercado de peixe de Maputo, foi erguido com financiamentos do Japão, um projecto, com orçamento de cerca de dez milhões de dólares (9,2 milhões de euros), desenvolvido desde 2012 na marginal de Maputo.
Neste mercado pode encontrar uma grande variedade de peixes e mariscos frescos, vendedores simpáticos e sempre dispostos a esclarecer qualquer dúvida do visitante.
Agora, é possível comprar e consumir produtos do mar num ambiente melhor organizado, estruturado e seguro.
Ao lado do Mercado do Peixe, existe uma zona de restauração com diversas esplanadas,
um espaço bem mais amplo, organizado e limpo do que o antigo mercado do peixe – “A luta continua” conforme as imagens abaixo demonstram
e que era um ícone turístico de Maputo, mas também um local que levantava elevadas reservas de condições de higiene e segurança em relação ao pescado vendido.
Depois, continuámos pela renovada marginal a caminho da Costa do Sol, que está muito diferente. Para além de vários prédios, há um separador central que faz parecer a … 2ª circular.
Também desapareceram algumas praias e há a ponte nova junto ao restaurante da Costa do Sol.
Há coisas que não mudam e as imagens repetem-se através dos tempos… mulheres e crianças na apanha da ameijoa na praia da Costa do Sol.
Do outro lado da ponte, a marginal continua com as quatro faixas (duas para cada lado), muito semelhante ao percurso do Miramar à Costa do Sol.
A estrada da marginal está englobada na “Circular de Maputo” e prolonga-se até Marracuene.
Vejam o vídeo seguinte (ultra rápido) e fiquem com uma ideia geral sobre a Marginal de Maputo.
Já de regresso, com a Polana Cimento ao fundo
Durante este passeio, recebi várias chamadas de amigos residentes em Maputo. Com alguns deles ficou combinado encontrarmo-nos ao almoço, no restaurante da Associação Portuguesa de Moçambique, situado na Av.ª Frederico Engels, 275.
Depois de conseguirmos estacionar, que é um dos maiores problemas para os automobilistas em Maputo,
ao sair do carro, oiço chamarem por mim: um amigo dos tempos do basquete do Ferroviário LM – Manuel Viegas (primo do José Sá que jogou no Desportivo e depois no Ferroviário) que se encontra em Maputo, a fim de concretizar um projecto profissional.
Já no restaurante da Associação, estive com o gerente – Miguel Rosseau (antigo hóquista do GDLM)
e com muitos outros amigos – Botelho Moniz, Júlio, Isaac Narcy, etc.
Almoçamos neste aprazível local,
um pouco mais tarde e conforme o combinado, chegou o João de Sousa e o Nuno Narcy que nos fizeram companhia ao almoço.
Com estes excelentes interlocutores a “bula-bula” durou pela tarde dentro…
Já de regresso a casa, passámos pela “Vila Algarve” (antigas instalações da PIDE/DGS em L. Marques) situada perto da casa onde estávamos hospedados e que se encontra completamente em ruínas; vai ser transformada no Museu Nacional da Resistência Colonial.
Por volta das 19H00, conforme combinado, o Nuno Narcy passou de carro a apanhar-me, para ir assistir ao treino de basquetebol dos veteranos,
no pavilhão da Escola Portuguesa de Maputo, um local com ótimas condições para a prática desportiva.
O Nuno Narcy equipou-se a preceito! Aquelas pernas já têm muitos quilómetros…
Nuno Narcy
Antes do jogo começar, ainda houve tempo para um dedo de conversa em ambiente descontraído…
Mário Conceição e Armando Paris
Depois do aquecimento e antes do jogo começar, uma foto em grupo para mais tarde recordar…
Em cima: Yanick Martins, João Niquice, Mário Conceição, Naimo Mogne, Rui Pimentel, Nuno Narcy, Carlos Martins e Acácio.
Em baixo: Miguel Sousa, Mário Pimentel, Armando Paris, Miguel Chaves, João Paulo Vaz e Jaime Barão.
À frente: Tiago (neto do Naimo Mogne).
Entretanto, chegou mais um elemento deste grupo de basquetebolistas. Hugo Narcy (filho do Danilo/Irene e sobrinho do Nuno e do Isaac).
Algumas fases deste competitivo jogo de treino,
Nuno Narcy com os seus 66 anos, continua em excelente forma. Podem vê-lo nesta foto a converter mais 2 pontos para a sua equipa…
Miguel Sousa em penetração para o cesto, perante a forte oposição de Nuno Narcy e Naimo Mogne.
Quem sabe nunca esquece, vejam estes lançamentos de meia distancia, todos em grande estilo!!!
Mário Conceição
Mário Pimentel
João Niquice
Foi um final de dia bem passado na companhia de antigas estrelas do basquetebol moçambicano.
Mais uma vez se confirma – As amizades no desporto perduram através dos tempos!!!
Foram utilizadas algumas fotos nesta reportagem, cujos créditos são de: Elsa Pinheiro, Salimo Talhada e a quem o BigSlam agradece!
Música: “Alan Walker” – Faded
- Não perca o próximo episódio desta viagem por terras de África – “Caminhando por Maputo…”
(Visita à Escola Industrial, Mercado Municipal, Praça Mac-Mahon, Caminhos de Ferro…)
NOTA: Para ver as anteriores reportagens, basta clicar nos links seguintes (escritos a azul):
1ª – “Viagem até Joanesburgo e o primeiro dia nesta cidade!”
2ª – “Jantar convívio com antigos desportistas de Moçambique radicados em Joanesburgo!”
3ª – “Fim de semana em Marloth Park”!
4ª – “Partida de Marloth Park e Chegada a Maputo”!
5 Comentários
Orlando Valente
Samuel belas fotos que mexem muito connosco. Recordar amigos e visitar locais por nos conhecidos de muitos anos, e sem duvida uma Bencao. Quem diria que muitos anos passados viessemos reviver momentos com amigos e andar onde caminhamos, e acreditar que o mundo gira e nos leva com ele… por vezes a mostrar momentos passados nas nossas vidas… e a felicidade que sentimos e tristesa depois….
Samuel obrigado pello seu trabalho e a satisfacao estampada no seu rosto pelos tempos vividos por colegas e lugares onde ha muitos anos conheceu e que ainda o tempo os conservou. Um abraco- Orlando
jmendesdealmeida
Adorei Samuel. É bom ver como perduram as amizades de há tantos anos e como elas se sobrepõem a tudo o resto…e isso é que é importante.
Quanto à cidade, apesar da necessidade de crescer e modernizar…nada é como a nossa cidade, a mais bonita cidade africana do seu tempo! Nunca mais será como dantes…
Carlos Hidalgo Pinto
Aquela mafurreira do Parque dos Continuadores(ex-Parque José Cabral) protegia e continua a proteger do sol, o público que assiste ás provas de atletismo. A sua ampla copa esférica e a folhagem verde brilhante, serve de poiso aos agentes polinizadores. O seu tronco é utilizado na construção de embarcações e as suas sementes são protegidas pelo fruto e servem, igualmente, para a produção do óleo de mafurra (plantas angiospérmicas). Simboliza uma postura positiva, porque dá e deu sementes e fruto. Sobrevive a intempéries e mantém-se firme. É algo que permanece em pé, indestrutível e que irá continuar a existir, desde que a deixem frutificar.
Ora o Samuel, a esposa e restante família residente em Maputo, contribuíram para um belo reencontro emocional e rico de topofilia para quem lá nasceu e viveu. Estas andanças, são um perfeito contributo cultural e desportivo para o estreitar de relações, entre os povos português e moçambicano.
Dina Tomaz
Adorei! Por momentos parecia estar lá. .. obrigada Samuel.
Nelson Silva
Boa, Samuel!